Quinta 2 de Maio de 2024

Nacional

A greve do Incra na mira de Lula

07 Jun 2007   |   comentários

No último dia 21 de maio teve início uma greve nacional dos trabalhadores do INCRA. Esse instituto é um órgão sui generis do Estado brasileiro, que só foi criado e existe até hoje porque no Brasil, desde a década de 50 existiu um forte movimento de luta pela reforma agrária, que protagonizou enormes lutas camponesas durante o ascenso dos anos 60, obrigando o Estado a criar uma política de concessões permanentes aos camponeses pobres, como forma de conter as explosões desse setor social oprimido durante séculos. Ao não ser, portanto, um órgão que atende diretamente aos anseios da classe dominante, o INCRA foi sempre relegado a uma localização marginal no Estado brasileiro, contando com parcos recursos, péssimas condições de trabalho e um dos salários mais baixos de todo o funcionalismo público federal. Frente a esse cenário, nós, trabalhadores do INCRA fizemos quatro greves durante os cinco anos de governo Lula, sem obter nenhuma conquista significativa. Este ano mais uma vez estamos em greve, e nos deparamos com uma intransigência e brutalidade nunca antes vistas por parte do governo. O próprio Lula deu ordem a seus ministros de não negociar com os trabalhadores e já encaminhou o corte de salário dos dias de greve. Essa ação, ao mesmo tempo e que é um sinal para todo o funcionalismo público de que o governo não pretende reverter nem minimamente o arrocho salarial do qual estes são vítimas já há vários anos e ataca diretamente o direito de greve, é mais uma demonstração de que a política de reforma agrária (com todos os limites que já descrevemos no artigo ao lado e em artigo do número anterior do Palavra Operária) não é prioridade do governo. Nossa greve não é uma greve corporativa, lutamos, junto com o conjunto do funcionalismo contra o ataque brutal contido no PLP 01, que congela nossos salários por dez anos, e, sobretudo, em defesa da reforma agrária e das demandas dos camponeses pobres e trabalhadores rurais. Ao contrário do que diz o governo, somos grandes defensores da reforma agrária, queremos que o INCRA tenha mais trabalhadores e melhores condições para efetuar os assentamentos. Queremos melhores salários para que os trabalhadores do INCRA não tenham que migrar para outros órgãos como vem acontecendo (dos 1300 contratados pelo último concurso, 400 já saíram do INCRA). Estamos dispostos inclusive a garantir que nenhuma ação fundamental de desapropriação não seja efetuada por causa de nossa paralisação, a montar plantões de técnicos para atender às demandas urgentes dos assentados. Chamamos todos os movimentos de luta pela reforma agrária e o conjunto da classe trabalhadora a apoiar nossa greve em defesa dos direitos dos trabalhadores e da reforma agrária!

Daniela é trabalhadora do INCRA e militante da LER-QI

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