Domingo 28 de Abril de 2024

Nacional

DEBATE COM A ESQUERDA

Os novos velhos erros da esquerda na tática da frente-única

13 May 2009   |   comentários

Para que a crise seja paga pelos capitalistas é necessário unificar as fileiras da classe trabalhadora. Trata-se de uma tarefa tão difícil quanto necessária, já que o neoliberalismo levou, com a burocracia sindical como cúmplice, a uma enorme fragmentação da classe entre efetivos, terceirizados, precarizados, etc, além das massas que sequer são sindicalizadas.

Essa unidade é barrada pelas direções do movimento de massas. Na primeira fila estão os burocratas sindicais da Força Sindical, da CUT, CTB, UGT e Nova Central Sindical que só conseguem manter seus privilégios em base à divisão da classe e com sua passividade. Por isso, aliam-se aos patrões e negociam “melhores condições de demissões” , PDV, licença remunerada, rebaixamento dos salários, retirada de direitos.

De outro lado, estão os que se reivindicam classistas e combativos, ainda minoritários entre as massas. É o caso da Conlutas (dirigida majoritariamente pelo PSTU) e da Intersindical (dirigida majoritariamente pelo PSOL), que lançam chamados à “unidade” e à “frente única” que não correspondem com a tradição revolucionária do movimento operário. A estes, também se somam pequenos grupos completamente isolados das massas, como o MNN.
Queremos resgatar a tradição revolucionária e propor uma política verdadeiramente classista. No último 30 de março, houve um “dia de nacional de mobilização” , pretensamente de luta, que vem sendo reivindicado por toda a esquerda como um grande passo adiante. Queremos mostrar o contrário: que se não for superada a atual concepção anti-marxista de “frente única” , a esquerda não estará mais do que colaborando com a burocracia sindical na preparação de grandes derrotas . Desde a I guerra mundial, essa questão traz debates que levaram a conclusões claríssimas! Ao ignorá-las ou não entendê-las, a esquerda comete erros que já foram cometidos por velhos oportunistas, ultra-esquerdistas, stalinistas e combatidos duramente por Lenin e Trotsky. Não resgatar essas conclusões significa negar o programa como uma síntese da experiência do movimento operário.

O que é a tática da frente única historicamente?

Trotsky dizia que “O Problema da frente única surgiu da necessidade de assegurar à classe operária a possibilidade de uma frente única na luta contra o capital, apesar da divisão inevitável, na época presente, das organizações operárias” . Nas resoluções do III Congresso da Internacional Comunista, dizia-se no Manifesto do Comitê Executivo: “Se conseguimos levar o proletariado à luta numa frente única, o capital, a burguesia mundial, perderão as possibilidades de vitória, a fé na vitória nesse caso só lhes são dadas pela traição da social-democracia e pela divisão da classe operária. A vitória sobre o capital mundial, ou melhor, o caminho à essa vitória, é a conquista dos corações da maioria da classe operária.” Assim, a tática da Frente Única foi concebida para levar a classe operária à uma luta unificada contra a burguesia, uma política de “classe contra classe” como diziam os velhos revolucionários, e ao mesmo tempo permitir que os partidos revolucionários conquistassem a influência sobre a maioria da classe operária, ainda controlada pelos dirigentes reformistas traidores da social-democracia (II Internacional), pois “não se poderá derrotar os traidores do proletariado (...) no terreno das discussões teóricas” . Nesse sentido, estão corretos os companheiros do PSTU em levantarem uma política de exigências à CUT para tentar arrastá-los a uma luta comum, abandonando sua política anterior em que afirmavam que era impossível qualquer unidade com a CUT .

Para Trotsky, “A política da frente única se faz, pois, não somente ”˜por baixo”™, mas também ”˜por cima”™ (...) essa gente, sem o perceber, destrói, com auxílio da experiência mais inepta e mais escandalosa da frente única ”˜somente por cima”™, toda a sua metafísica de frente única ”˜somente por baixo”™, experiência inesperada para as massas e contrária à vontade das massas” . Quem pode negar que o 30 de março foi “somente por cima” uma unidade entre as direções sem a participação das bases? Em outro texto, Trotsky fortalece: “Frente única quer dizer unidade das massas trabalhadoras comunistas e social-democratas, e não uma transação de grupos políticos desprovidos de massa (...) no domínio da propaganda, a frente única é inadmissível (...) O bloco é unicamente para ações práticas de massa. Os compromissos pelo alto, sem base de princípios, não trazem outra coisa senão confusão.”
Ainda segundo Trotsky, “Pode-se, transitoriamente, entrar em entendimento com os reformistas, desde que dêem um passo à frente. Conservar um bloco com eles quando, amedrontados pelo desenvolvimento do movimento, começaram a trair, significa ter uma criminosa condescendência para com os traidores e encobrir a traição” . Como mínimo, daqui se deveria concluir que qualquer “unidade” com a burocracia no momento em que está traindo todos os processos de luta e aceitando os ataques, deveria ser muito cuidadosa. E principalmente, qualquer unidade só deveria ser feita em torno de demandas precisas, que correspondam às necessidades concretas dos trabalhadores e opostas aos interesses de qualquer setor dos inimigos burgueses. “Classe contra classe” . Afinal, qual é o passo à frente?

E o 30 de março?

O 30 de março está muito distante de uma frente única, ao menos para a tradição revolucionária. Consistiu fundamentalmente em atos esvaziados pelo país, hegemonizados pelo programa burguês da burocracia sindical de redução da taxa de juros. Os trabalhadores estiveram ausentes, afinal, as ações foram realizados durante o dia e sem paralisação. É isso que a esquerda reivindica como um grande avanço da “unidade” e da “frente única” e que se quer manter daqui em diante.

Contra as demissões!? Esse é o amálgama que esconde a realidade: que a política da burocracia “contra as demissões” é a redução dos juros, PDV, licença remunerada, etc.! O programa burguês!!! Mas suponhamos que não fosse assim, que na verdade era um acordo para lutar “contra as demissões” . Ainda nesse caso, Trotsky alerta que “Lançar palavras de ordem políticas que contém em si mesmas a idéia de frente única com a socialdemocracia, e renunciar aos acordos práticos para a luta por essas palavras de ordem, é o cúmulo da incoerência (...) Seria preciso, ao mesmo tempo, fazer penetrar energicamente na base esse programa, em todas as seções dos dois partidos, e nas massas” . Qual foi o “acordo prático” ? Um ato em que eles defendem a redução da taxa de juros? Ao contrário, estes atos só serviram para descomprimir a pressão nas bases dos burocratas e fortalecer entre os trabalhadores a política da Fiesp. Qual programa “penetrou energicamente na base” ? Uma política que unifica as organizações operárias em torno de um programa burguês, é a formula política da Frente Popular, e não da Frente Única Operária, que deve unificar as organizações operárias em uma luta contra a burguesia, em defesa de demandas dos trabalhadores.

O pior foi o MNN , que disse: “Todos juntos mostraremos em 30 de março que ainda é possível a revolução socialista” , e depois disseram que a crítica aos burocratas era secundária! Trotsky chamaria os burocratas a mostrar juntos que ainda é possível a revolução socialista? Para ele, “Os erros na política de frente única foram de duas espécies. Na maior parte dos casos (...) os órgãos dirigentes do PC se dirigiram aos reformistas com propostas de lutarem, em comum, por palavras de ordem radicais, que não decorriam da situação e não correspondiam à consciência das massas (...) As massas continuaram impassíveis, os chefes reformistas explicaram as propostas comunistas como uma intriga tendo como objetivo a destruição da social-democracia. Tratava-se de uma aplicação puramente formal, decorativa, da política de frente-única” . O pior é que eles dizem que estamos numa situação similar com a Alemanha de 30 . Viram que a maioria das citações que usamos são da Alemanha? O MNN também chama a burocracia para “erguer uma bandeira única” , contra Trotsky que diz: “Nenhuma plataforma comum com a social-democracia ou com os chefes dos sindicatos alemães, nenhuma edição, nenhuma bandeira, nenhum cartaz comum: marchar separadamente, lutar juntos. Combinação apenas nisto: como combater, quem combater e quando combater?” . Ou seja, ao contrário, a proposta do MNN é oportunista com relação à burocracia e sectária com a base dos trabalhadores, adaptando-se ao marchar juntos e não lutar juntos.

Por uma frente única de luta: “Classe contra classe”

Para pensar uma frente-única hoje, devemos partir de que a situação não tem paralelo histórico. Não se trata de uma situação em que o fascismo avança e se impõe uma frente única defensiva nem uma situação em que esteja colocada para a ação concreta a expropriação da burguesia, como Trotsky defendeu em outras ocasiões. Portanto, os clássicos marcam o caminho e os método proletário revolucionário, mas é necessário pensar com a própria cabeça.
Em primeiro lugar, lutaremos na Conlutas, que dirige sindicatos com muitos trabalhadores, para que o PSTU faça uma auto-crítica e chame uma verdadeira frente única de luta de “classe contra classe” .
Mais do que nunca, uma frente única hoje deve transcender a unidade das organizações operárias (partidos e sindicatos), já que no último período essas organizações representam ainda menos setores da classe que antes, particularmente seus setores mais explorados. A burocracia sindical segue se apoiando somente nos efetivos e sindicalizados. Nem os sindicatos que o PSTU dirige fogem à regra. Uma frente única, em primeiro lugar nos sindicatos, para arrastar à luta a maioria da classe operária, em especial seus setores mais explorados, deve estar ligada indissoluvelmente à unidade entre efetivos, terceirizados e precarizados, além de ter política para os desempregados .

Seguramente, o programa de ação de uma frente única de luta hoje não poderia deixar de partir de: Chega de subsídios e cortes de impostos à patronal! Que os capitalistas paguem pela crise com seus lucros! Nenhuma demissão, férias coletivas, suspensões, PDV, etc.! Abertura da contabilidade de todas as empresas que ameacem fechar ou demitir em massa! Efetivação dos terceirizados e precarizados, com salário e direitos iguais! Divisão das horas de trabalho disponíveis entre empregados e desempregados, reduzindo a jornada de trabalho, sem redução salarial!

Para conquistar esse programa, não bastam atos rotineiros que não cumprem nenhum papel na luta de classes. Que os sindicatos e as centrais convoquem uma paralisação nacional por essas demandas, assim como um Congresso de Trabalhadores eleitos na base, ou seja, ações práticas. Essa é uma exigência que seguimos fazendo, ligando à denúncia de cada erro ou traição.

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