Quarta 1 de Maio de 2024

Internacional

O significado do triunfo eleitoral do Syriza na Grécia

03 Feb 2015   |   comentários

O triunfo do Syriza, que muitos consideram “histórico”, representa um fato político de primeira ordem na Europa. A esquerda internacional não fica fora dessa influência. No Brasil, o PSOL fez ecoar estas expectativas.

No domingo, 25/1, a população grega elegeu Alexis Tsipras e o Syriza como novo governo na Grécia, com 36,6% dos votos e apenas duas cadeiras a menos do necessário para alcançar a maioria parlamentar, apesar da campanha do governo alemão e dos mercados financeiros para que os partidos tradicionais do regime, o direitista Nova Democracia e o socialdemocrata PASOK, que aplicaram os ajustes contra a população trabalhadora, continuassem no governo. O triunfo do Syriza foi um amargo golpe para os políticos alemães e europeus, que viram fracassar suas chantagens e ameaças.

O triunfo do Syriza, que muitos consideram “histórico”, representa um fato político de primeira ordem na Europa. Desde 2008, o continente vive uma profunda crise econômica, à qual os governos responderam aplicando duras políticas de austeridade ditadas pela “Troika” (Banco Central Europeu, Comissão Européia e o FMI). O resultado obtido pelo Syriza, assim como o voto em outras forças de esquerda que se apresentaram às eleições gerais na Grécia, é uma mostra do forte rechaço de amplos setores de trabalhadores e do povo gregos às políticas de austeridade, cortes, privatizações e ataques aos direitos sociais da maioria da população.

A crise econômica capitalista colocou desde 2008 sob forte tensão a construção do bloco imperialista da União Européia, fraturado entre os países credores do norte que orbitam ao redor da Alemanha, e os países periféricos do sul, mais afetados pela crise, cujas formas de resistência assumiram as mais variadas formas. Na Grécia, desde 2010 os trabalhadores e a juventude protagonizaram uma intensa mobilização, com 32 greves gerais, manifestações e choques contra a repressão estatal. Neste marco se produziram tanto a acelerada crise do regime político grego, quanto a emergência do Syriza.

A vitória do partido liderado por Tsipras se deu não tanto por sua inserção orgânica em setores chave do movimento operário e da juventude ao calor das greves e mobilizações, mas por seu discurso de que “acabariam com a austeridade”, o que gerou grandes expectativas entre milhões que o enxergavam como uma possibilidade de terminar a submissão aos ditados da Troika, apesar da crescente suavização e a busca por consenso no discurso de Tsipras.

No primeiro discurso televisado de Tsipras, o novo primeiro ministro recordou as quatro prioridades de seu programa econômico, sentenciando que “nenhum grego ficará sem ajuda, sem comida, sem eletricidade”, em menção às medidas para remediar a crise humanitária de mais de 300.000 lares abaixo da linha de pobreza. Anunciou o restabelecimento do acesso universal ao sistema de saúde aos milhões de gregos sem cobertura; o aumento do salário mínimo para 751 euros e a restauração das negociações sindicais e dos convênios coletivos, conquistas caídas durante a reforma trabalhista aplicada pela anterior coalizão “de austeridade” do Nova Democracia-PASOK. Tudo dentro dos limites da renegociação da dívida com os “sócios europeus”, com “soluções viáveis e justas que sirvam a toda a Europa e que evitem o confronto”, segundo Tsipras.

Por estes anúncios “de emergência” (ainda não se tornaram medidas reais), é possível que o novo governo ganhe popularidade entre os setores mais golpeados pela crise, o que pode sacudir o cenário europeu, num contexto de grande polarização política, com crescimento das forças da extrema direita em vários países, e a comoção que significaram os brutais atentados em Paris contra a redação do Charlie Hebdo e o restaurante de comida judia. O receio da chanceler alemã Angela Merkel e as instituições que impõem os ajustes a toda a Europa é que este triunfo do Syriza possa fortalecer as possibilidades de outro partido “antiausteridade” como Podemos no Estado espanhol.

A esquerda internacional não fica fora dessa influência. No Brasil, o PSOL fez ecoar estas expectativas. Fez gala de ter enviado uma delegação de militantes em apoio ao Syriza, enaltecendo sua defesa da “soberania grega e da justiça social”, além dos compromissos de Tsipras de “reverter o desmonte da máquina pública” promovida pela Troika. Também sob influência do Syriza (e do Podemos no Estado espanhol), dissidentes da organização da ex-senadora Marina Silva, a Rede, como Célio Turino, e velhas figuras políticas como Luísa Erundina quiseram se apoiar nessa suposta “nova forma de fazer política” para idealizar um partido cujo objetivo seria catalisar a indignação social que surgiu em junho de 2013: o Avante (ou Queremos).

Entretanto, pouco se discute a importante contradição existente entre essas aspirações das massas e a moderação do programa e da orientação política do Syriza, que tentou em todo momento mostrar-se como “responsável” ante os olhos da União Européia.

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