Sábado 4 de Maio de 2024

Nacional

REVOLTA DOS OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

O levante dos super-explorados trás a tona as bases débeis do “lulismo” de Dilma

30 Mar 2011   |   comentários

“Já presenciei muita greve e até briga, mas aquilo [Jirau] foi como se tivesse caído uma boba. Nunca vi nada igual.” (soldador Francisco Assis de Medeiros, trabalhador de Jirau)

Em seu discurso ao ser recebido servilmente pelo governo Dilma, o principal representante imperialista, Barack Obama, fez questão de ressaltar a realização do Brasil como país potência do futuro. Para fundamentar seu demagógico discurso, ainda que baseados em concessões concretas, citou a criação de possibilidades de ascensão social para a população brasileira com a geração de empregos e combate a miséria, exemplificados na figura do ex-pobre nordestino e operário que virou presidente. Os discursos pomposos, cheio de efeitos e retórica podem satisfazer o ego da hipócrita e servil burguesia brasileira, mas não podem alterar a realidade e suas contradições.

Poucos dias depois, os muitos discursos de promessa presente de “país do futuro” e as pequenas concessões que os acompanham, sejam na voz da “vassala” Dilma, sejam na do “suserano” Obama , não foram suficiente para conter a revolta de milhares de operário que trabalham nas obras do PAC para a construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, contras as absurdas condições de exploração a que são submetidos.

Por mais que a mídia, os governos e as empreitaras queiram descaracterizar os movimentos de revolta, esse teve como combustível os desrespeitos as mínimas condições trabalhistas e de direitos fundamentais expressos em maus tratos, condições degradantes de alojamento, alimentação e saúde, violência física e horas exaustastes de trabalho sem descanso e sem possibilidades de rever os familiares (alguns trabalhadores ficaram mais de um ano sem poder ver a família, pois a empresa não adota o sistema de visita-família) a que estavam submetidos milhares de trabalhadores. Inicialmente cruzaram os braços e pararam as obras, mas com a truculência da polícia militar ao reprimir a paralisação e forçar-los à volta ao trabalho, invadindo o refeitório e prendendo um operário, os trabalhadores como resposta queimaram ônibus e os alojamentos. A radicalidade dos operários é proporcional a absurdas condições de trabalho e de vida a que estão submetidos pela Camargo Corrêa, umas das empreiteiras que mais tem lucrado nos últimos anos. Os 22.500 trabalhadores das obras de Jirau são amontoados em alojamentos, ou melhor, barracos sem as mínimas condições de saúde e higiene que atingem temperaturas superiores a 40 graus. Apenas em uma das margens do Rio Madeira, há 93 alojamentos com apenas 16 quartos cada um, amontoando 8 trabalhadores em cada quarto.

A revolta rapidamente se estendeu, e a baluarte do “país do futuro”, Dilma, mostrou claramente que está mais uma vez a serviço de garantir os interesses dos grandes empresários, ao acusar o movimento de vandalismo e direcionar a Força de Segurança Nacional, a mesma usada para reprimir e assassinar população pobre dos morros cariocas, agora para reprimir os trabalhadores e garantir a defesa das propriedades da Camargo Corrêa. No país de Dilma, as empreiteiras que rasgão a leis trabalhistas e exploram de forma quase escrava seus trabalhadores são grandes aliados, enquanto os que sofrem tal barbárie e se revoltam são considerados vândalos e são obrigados a ficarem amotinados em galpões sob vigilância policial constante, ao qual, segundo jornalistas, não devem muito aos campos de concentração.

Brasil, “país do futuro” para as empreiteiras

Essas condições que levaram os trabalhadores das usinas de Santo Antônio e Jirau a se levantarem são antes regra que exceção no país do emprego precário e da super exploração de Lula e agora Dilma. Não à toa as revoltas se estendem; operários que trabalham na construção da usina termelétrica de Pecém, no Ceará, e da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, paralisaram as obras e exigem melhores condições de trabalho. Os dados mais recentes já apontam para mais de 80 mil trabalhadores paralisados por melhores condições de trabalho nas obras do PAC, num setor da economia que emprega 2,4 milhões de pessoas1.

O principal programa de desenvolvimento do governo Lula e agora Dilma, enquanto enriquece as grandes empresas financiadoras de campanhas2, são responsáveis por extrair sangue e suor dos trabalhadores. Nos 21 grandes empreendimentos do PAC, que somam R$ 105,6 bilhões de investimentos, foram registradas 40 mortes de operários em acidentes, desde 2008. Só nas usinas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, houve seis mortes. Os empregados da construção civil brasileira são os que mais morrem. A taxa de mortalidade está em 23,8 por cem mil trabalhadores, um pouco acima da encontrada em obras do PAC - considerada muito alta, já que são tocadas por grandes construtoras, com tecnologia suficiente para proteger os operários, dizem especialistas. Nos Estados Unidos, a taxa de mortalidade na construção civil é de 10 por cem mil.

Se são essas condições de trabalho no principal projeto de desenvolvimento do governo, onde bilhões do dinheiro publico serve para engordar o bolso dos grandes capitalistas aliados do governo, podemos ter uma projeção das condições em emprego nas vagas que o governo se gaba em ter aberto.

Esses importantes levantes trazem à tona todas as contradições escondidas por de trás da geração de emprego, do dito crescimento e desenvolvimento que sustentam o discurso de Brasil potência. É na super-exploração, nos baixos salários, nas condições precárias, na terceirização, no sangue e no suor dos trabalhadores que se erguem os grandes bilionários que estampam as primeiras posições da lista da Forbes. A quem serve o dito crescimento brasileiro, aos milhares de trabalhadores que trabalha em condições de super-exploração de forma precária e subumanas ou ao poucos milionários que se beneficiam dessas condições para avançar em suas fortunas e no ranking da Forbes?

O governo Lula e agora Dilma favorecem as grandes empreiteiras e construtoras, como Gerdau, Camargo Corrêa, MPX, BS, Odebrecht, OAS e outras, nas licitações publicas, na isenção de impostos, na liberação de crédito com dinheiro publico por via do BNDES e principalmente fornecendo uma mão de obra super-explorada e barata para propiciar os lucros recordes dessas grandes empresas. É essa escolha de classe que justifica a complacência do governo com a total quebra dos direitos trabalhistas e humanos promovidos por seus grandes parceiros, pela medida repressiva contra os trabalhadores e a garantia das continuidades dos financiamentos com bilhões do dinheiro público mesmo depois dos fatos tornarem-se públicos. A Camargo Corrêa, nas usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, recebeu R$ 13,3 bilhões de financiamento do BNDES, um dos maiores financiamentos do BNDES, ao qual o governo Dilma já garantiu continuidade.

Se o Brasil é o país do futuro para empreitas e construtoras, propiciando a cada novo ano lucros recordes, para os trabalhadores, com a terceirização e a precarização, se apresenta como o país do século XIX!

A burocracia pelega conivente com a super exploração

A exposição dos fundamentos débeis do desenvolvimento brasileiro ocasionado pelo levante dos operários e a preocupação com que se desenvolva um efeito dominó que coloque mais diretamente em cheque à base da super-exploração para a promoção de grandes lucros para a burguesia nacional e seus parceiros internacionais, levou ao governo a rapidamente convocar os principais representantes das burocracias sindicais , Força, CUT, CTB e outras, para que pudesse conter o movimento.

Mais uma vez esses representantes do governo e da burguesia no movimento operário traem os trabalhadores para garantir os interesses dos seus algozes. Afirmam já saber das condições de trabalho, mas não explicam o porquê de só terem se pronunciado e encerrado o sepulcral silêncio frente à tamanha revolta. Impedem o movimento se expanda, freiam a radicalidade do movimento e o desviam para saídas negociadas em portas fechadas juntamente com as empreiteiras e o Governo. Ou seja, rifam a mobilização em troca de mendigar “contrapartidas sociais das empresas”.

Os burocratas da CUT foram a Rondônia não para garantirem os interesses dos trabalhadores em greve contra sua super-exploração, mas sim para aplicar as orientações de Dilma e da Camargo Corrêa, dizendo aos trabalhadores que esses não podiam parar as obras do PAC e que deviam voltar ao trabalho enquanto a burocracia negociava por eles.

A Força Sindical, braço firme da patronal, por sua vez já havia demonstrado o quão ao lado dos patrões está. Durante protesto dos funcionários do Consórcio Conest, responsável pela construção da refinaria de Suape, reivindicando melhores condições de trabalho e reajuste em alguns benefícios, (quarta-feira 9/2), que fechou a PE-60 em frente à portaria 2 da refinaria da Petrobrás, em Suape, Região Metropolitana do Recife, o sindicado não só apoiou a firma contra a mobilização dos trabalhadores, mas também cumpriu papel de polícia e um dos dirigente do sindicato atirou contra os trabalhadores, matando um e ferindo gravemente outro. Com forme os trabalhadores se ponham em mobilização contra os interesses do governo e dos capitalistas, cada vez mais a burocracia sindical perderá sua pele de cordeiro desmascarando sua posição de lobo.

O prelúdio de uma maior precarização da vida

Essas mobilizações que já se colocam com uma das maiores do movimento operário dos últimos anos e abarcam setores chaves da economia e questionam os principais projetos de desenvolvimento do governo. Os trabalhadores nada devem esperar do governo Dilma nem dos representantes da burguesia, que são complacentes com a super-exploração, a terceirização e a precarização do trabalho e aliados das construtoras e empreiteiras, a não ser mais ataques. Nem da burocracia sindical que rifa o interesse dos trabalhadores e defende o governo e os patrões. Só organizando-se de forma independente, a partir de criar organismos de auto organização é que os trabalhadores vão conseguir garantir a continuidade de expansão das mobilizações, elevar suas reivindicações econômicas e transformá-la em uma grande mobilização política nacional contra o governo e as grandes construtoras e empreiteiras.

É necessário que as organizações de esquerda, sindicais, estudantis e de direitos humanos rompa o cerco midiático e a campanha de associar o movimento a atos de vandalismo e coloque de pé uma grande solidariedade a luta dos operários da construção civil.

Se explode tamanha mobilização mesmo num cenário de crescimento econômico, de fortalecimento do governo e de tamanho reformismo social, devemos esperar que as contradições que se acumulam se expressem ainda de forma mais explosiva com os novos ataques que viram com a preparação da Copa e das Olimpíadas e os maiores impactos que podem causar a crise européia e a primavera árabe, aos quais os revolucionários desde já devem se preparar para responder, fundir-se o melhor da vanguarda que surja desde processos para colocar de pé uma direção esteja a altura.

Fora Policia Militar e a Força de Segurança Nacional das fábricas!

Nenhuma confiança no governo e na burocracia sindical, por organismos e auto-organização dos trabalhadores em luta.

Por uma comissão independente de investigação, formada por trabalhadores e organizações de esquerda e direitos humanos para apurar todos os absurdos referentes ao descumprimento das mínimas leis trabalhistas e direitos humanos.

Chega de impunidade! Expropriação dos bens da Camargo Corrêa e de todas as construtoras e empreiteiras que descumpram as mínimas leias trabalhistas e os direitos humanos para ressarcir os trabalhadores. Assim como a imediata suspensão de créditos e dos contratos.

Abaixo a terceirização! Imediata incorporação dos terceirizados!

Pela estatização e controle operário das obras, para garantir segurança, qualidade das condições de trabalho e que estejam a serviço do povo brasileiro.

1- Pelos cálculos da Força Sindical, quando o PAC estiver em pleno funcionamento - incluindo as obras para a Copa do Mundo e a Olimpíada de 2016 - cerca de 1 milhão de pessoas estarão trabalhando em diversos canteiros de obras pelo país.

2- Empresas que prestam serviços para o governo federal contribuíram com quase a metade das doações recebidas pelo Diretório Nacional do PT durante a campanha eleitoral. Dos R$ 113,9 milhões que entraram no caixa do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, R$ 51,1 milhões vieram de 43 empresas que mantêm contratos com a administração pública neste ano.A maior parte do dinheiro veio de empreiteiras que participam de grandes obras estruturantes do país, como a Ferrovia Norte-Sul, as hidrelétricas do Rio Madeira, recuperações de favelas no Rio de Janeiro, construção de estádios para a Copa de 2014, habitações do programa Minha Casa, Minha Vida e projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Não por acaso, os dois últimos foram as principais bandeiras da presidente recém-eleita, Dilma Rousseff, durante a corrida pelo Palácio do Planalto. (retirado do Correio Brasiliense)

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