Sábado 4 de Maio de 2024

Nacional

262 RECÉM-NASCIDOS MORTOS NA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA

Mais uma brutalidade contra as mulheres no governo da DS no Pará

01 Sep 2008   |   comentários

O Pará, que é o segundo maior estado do Brasil, onde se concentra a Vale do Rio Doce, maior produtora de minério de ferro do mundo que somente em 2007 obteve o lucro líquido de R$ 20 bilhões, é cenário de inúmeras atrocidades aos trabalhadores e ao povo: é tido “campeão” nacional de trabalho escravo, há crescente prostituição e tráfico de mulheres adultas e crianças, sistemática repressão aos trabalhadores sem-terra (lembrando-se o massacre de Eldorado do Carajás), permanente ameaça aos grupos indígenas; além do desmatamento, poluição dos rios e lagos, etc. Toda a riqueza em recursos naturais da vasta região, não se reverte em melhores condições de vida aos trabalhadores da cidade e do campo, aos povos indígenas e ao povo pobre.

Governado pela petista Ana Júlia Carepa, da corrente Democracia Socialista (DS) o que vemos é uma boa mostra do “neoliberalismo petista” , que além de manter intactas as privatizações de FHC, como a gigante Vale do Rio Doce e continuar privatizando sob a máscara das PPP”™s, não questiona os pilares fundamentais da ofensiva neoliberal que sucateia e privatiza os serviços essenciais à população como a saúde pública, a educação e o transporte, em função de garantir a transferência dos recursos extraídos dos impostos da população e da extração dos recursos naturais para os bolsos dos banqueiros e empresários, pagando com o dinheiro dos trabalhadores os inesgotáveis juros da dívida pública.

É nesse marco que podemos ver como os governos burgueses respondem aos problemas da população. Uma das medidas que adotam quando uma crise na saúde explode, como fez agora no Pará com as centenas de mortes de bebês ou como foi no caso da epidemia de dengue no Rio de Janeiro, é alugar vagas em hospitais privados pagando para os ricos empresários que lucram com as doenças e serviços de saúde, pela utilização de leitos e dos serviços hospitalares. O que além de ser uma medida insuficiente e emergencial, enche mais uma vez os bolsos dos empresários. É preciso lutar pelo não pagamento das dívidas internas e externas para garantir as verbas necessárias para a saúde, educação, moradia e terra!

E as mulheres trabalhadoras e pobres pagam com a vida de seus filhos

Um escândalo abalou o Brasil recentemente, quando se noticiou a morte de 12 recém-nascidos somente num fim de semana na Fundação Santa Casa de Misericórdia, em Belém a capital do estado. Após a demissão do então presidente do hospital, seu substituto anunciou que já morreram 262 bebês somente no primeiro semestre de 2008 (!). Esta é uma expressão do que reservam os capitalistas, seus partidos e governos aos trabalhadores e povo pobre: descaso e mortes.

As absurdas mortes dos recém-nascidos foram noticiadas amplamente como se bebês nascessem de árvores. O que o fato em si mostra é o descaso com a saúde da população, mas sobretudo o descaso com a saúde das mulheres, que têm seu direito à maternidade negado. As péssimas condições de atendimento às mulheres, as fazem temer a idéia de ter que realizar o parto na Santa Casa, de terem seus bebês mortos e também morrerem. Enquanto no cemitério, realizam-se enterros coletivos de pequenos caixões.

Ao passo em que quase 10 mil mulheres são perseguidas pela justiça burguesa no Mato Grosso por terem realizado aborto e em que surgem fervorosas campanhas de combate ao direito ao aborto que colocam como eixo o discurso de defesa da vida, as mulheres do Pará que querem ter filhos não podem, pois em função das péssimas condições da saúde pública, os bebês morrem. Essa é a hipocrisia do sistema em que vivemos. Onde o direito de exercer voluntária, livre e plenamente a maternidade, ou mesmo de decidir não ser mãe, somente é garantido para as mulheres que podem pagar pelos serviços de saúde, pelos cuidados de seus filhos ou pagar uma clínica para fazer um aborto seguro. E claro, mais uma vez, os empresários, sejam os donos dos hospitais-maternidade ou das clínicas de aborto clandestinas, lucram às custas da “ordem” capitalista.

E o que fazem a Igreja, os parlamentares que impulsionam a Campanha Nacional Pela Vida ’ Brasil sem Aborto e, lamentavelmente, Heloísa Helena, já que se dizem “em defesa da vida” , sobre a defesa da vida dos recém-nascidos e das mulheres no Pará? Nada. Mais uma vez a realidade mostra a falsidade desta reacionária campanha em “defesa da vida” .

Lutar em defesa da vida significa impedir que bebês e mulheres morram pela precariedade do sistema público de saúde, que não garante condições necessárias à assistência pré-natal, ao parto e ao recém-nascido. Na sociedade capitalista às mulheres é imposto socialmente o papel de serem mães como ápice de sua realização enquanto mulher, mas nessa mesma sociedade o direito à maternidade não é garantido para milhões de mulheres trabalhadoras e de setores populares que dependem da saúde pública. Assim como às mulheres que por sua escolha decidem não serem mães, também não lhes é garantido o direito à vida, visto que milhares morrem por realizarem abortos precários, pois não têm acesso às clínicas de luxo.

Basta que milhares de mulheres morram sob o discurso de defesa da vida. Pelo direito ao nosso corpo: direito à maternidade; direito ao aborto legal, seguro e gratuito.

Para que o acesso à saúde pública seja garantido: pela estatização, sem indenização, de todos os hospitais, clínicas e laboratórios privados, sob controle dos trabalhadores da saúde e usuários!

Ana Júlia não pode falar em nome do socialismo

Ana Júlia, como governadora, não foi somente conivente, mas sim a principal responsável por mais essa brutal violência contra as mulheres. A Marcha Mundial de Mulheres e a DS (corrente que se reivindica socialista e até trotskista) carregam mais esse escândalo em suas costas sendo incapazes de lutar conseqüentemente em defesa das reivindicações das mulheres, tendo que abandonar seu “feminismo” , pois no estado que a DS governa as mulheres sofrem exploração e abusos sexuais, sem que nenhum culpado seja punido, mulheres e bebês morrem e tudo continua na “santa ordem” capitalista. Um governo de uma mulher que permite que 262 recém-nascidos morram pelas péssimas condições da saúde pública, tem que ser derrubado. Fora Ana Júlia do governo do Pará!

Clarissa Menezes é assistente social formada pela PUC-SP.

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