Segunda 6 de Maio de 2024

Nacional

CAMPANHA ELEITORAL DE SERRA E DILMA

Lucros para os capitalistas e demagogia para o povo

23 Apr 2010   |   comentários

A cada dia que se aproxima
outubro cresce o clima eleitoral
no país. Em meio à série
interminável de promessas de
que os governos Serra e Dilma
seriam voltados para o povo, fica
evidente o mais profundo silêncio
dos candidatos quanto às
necessidades prementes do povo
como moradia, acabar com a
pobreza dos trabalhadores
precarizados, conquistar
educação, saúde e transporte
público e de qualidade, o fim da
repressão policial sistemática ao
povo pobre e negro, dar a terra
aos camponeses pobres... Os
candidatos do PT e PSDB falaram
e fizeram muitos discursos e
campanha eleitoral, até falaram
muito sobre as tragédias no Rio e
na Bahia, mas todos
demonstraram que não estão
dispostos a resolver as questões
de fundo que atingem o povo
trabalhador. Eles representam os
interesses do capital financeiro
nacional e internacional e dos
empresários, e para os
trabalhadores e o povo só restam
migalhas, assistencialismo e muita
demagogia.

Serra e Dilma têm diferenças.
Desde uma posição mais crítica ao
MERCOSUL e outros acordos do
Brasil com países dos Bric e maior
e mais explícito alinhamento com
os EUA, no caso de Serra,
enquanto Dilma defende a
continuidade da política externa
atual, expressando divergências no
ritmo e setores a beneficiar no
comércio exterior, com ambos
aceitando a ocupação do Haiti e
as relações do Brasil com o
imperialismo (para mais detalhes
ver página 15).As diferenças entre
os candidatos se expressam,
sobretudo, na forma que se
colocam frente ao movimento de
massas. Enquanto Serra fez fama
pela repressão à greve de
professores de São Paulo, com
demissões inconstitucionais como
a de Claudionor Brandão e
perseguição ao SINTUSP e vários
outros ativistas de setores estatais
em São Paulo, Dilma se posta
como parte do diálogo com as
centrais sindicais e MST, as
mesmas que avalizaram os ataques
desferidos pela patronal como as
demissões e reduções de salário e
direitos no primeiro impacto da
crise internacional no país.

O debate sobre
o papel do Estado

A cada dia cresce a importância
do debate das privatizações e do
papel do Estado na economia e
na sociedade. Para os intelectuais
petistas o Programa de
Aceleração do Crescimento
(PAC) do governo nacional, seria
um programa desenvolvimentista
que contribuiria para elevar o
padrão de vida das massas. Dilma
fala em “estado forte” e Serra em
“estado eficiente”. Para os
principais jornais burgueses
e alguns dirigentes tucanos e do
DEM que falam mais abertamente
contra Lula, o “estado forte” seria
um desperdício de dinheiro que
deveria ser poupado para
melhorar as “finanças públicas”
(leia-se empresários
e banqueiros); já a crítica petista
ao “estado eficiente” ataca este
como privatista.A divergência
tática sobre o PAC e a
divergência em declarar-se
publicamente sobre corte de
gastos no funcionalismo, como
faz Serra, esconde o fundo
comum dos dois principais
candidatos: ter o Estado brasileiro
como comitê executivo dos
negócios dos principais
capitalistas nacionais e
estrangeiros. Nenhum deles
titubeou em defender o papel do
BNDES em formar monopólios e
ajudar empresas enquanto estas
demitiam.A fortuna em impostos
arrancada do povo tem um fim
preferencial incontestável para os
dois candidatos: os juros das
dívidas interna e externa e
incentivos aos grandes
empresários.

Enquanto isto neste mesmo país
do futuro que prometem, quase
cem mil pessoas ficam sem casa
em dois dos principais estados
brasileiros em menos de duas
semanas. Alguns dos principais
números: Bolsa família 11,4
bilhões, educação 51 bilhões,
gastos com a dívida pública 169,1
bilhões do orçamento do governo
federal desmascaram este falso
debate sobre o papel do Estado,
pois mostram que o grosso do
dinheiro já está marcado em
qualquer uma destas alternativas.

Mesmo os investimentos do PAC
estão concentrados em imensas
obras que são as refinarias,
ferrovias, estaleiros e hidrelétricas
como a de Belo Monte, que ao
contrário de beneficiarem o povo
são um incentivo a consolidação
de grandes monopólios nacionais,
como é o caso da Braskem na
petroquímica, e também de
beneficiar as empreiteiras
construtoras destas obras.O
debate de Serra e Dilma valendose
da demagogia de quais
modelos seria favorável ao povo
encobre o argumento
fundamental: são favoráveis na
realidade aos grandes monopólios
nacionais e estrangeiros e aos
detentores dos títulos da dívida
pública.
O debate sobre petróleo também
encobre o mesmo problema por
mais que taticamente o PSDB
tenha evitado entrar tanto nele
para não ressuscitar em maior
escala a discussão de como
defendem (ou defendiam) a
privatização da Petrobrás. Por um
lado o PSDB e outros defendem
a continuidade do modelo atual, o
que inclui o governador Cabral
(PMDB-RJ) aliado de Lula, que
significa expressiva entrega dos
recursos naturais a grandes
burgueses nacionais como Eike
Batista e a empresas imperialistas
em troca de uma fatia de
royalties e participações especiais
que não chega a 30% do
produzido. Esta discussão feita
por Dilma e Lula do novo
modelo de partilha onde o
Estado se apropria de uma fatia
maior de recursos também
entregando parcela considerável
do petróleo aos grandes
burgueses nacionais e
estrangeiros. Nenhum dos
candidatos se posiciona contrário
ao que já foi entregue em leilões
nem sobre a situação da
Petrobrás, onde o governo exerce
o controle do capital votante mas
a maior parte dos lucros
(o capital social) vai para os
detentores de suas ações na
Bovespa e em Wall Street. Mesmo
na questão do petróleo, onde há
maiores divergências entre Serra
e Dilma expressa-se uma divisão
de nacionalistas contra
entreguistas, pois sob ambas
alternativas mais de metade do
petróleo ficará com as
multinacionais ou os acionistas
estrangeiros da Petrobrás.

As necessidades do
povo não têm vez

A grande ausência nesta
campanha é como resolver as
necessidades de fundo do povo.
Nenhum dos candidatos declarou
como garantir moradia, saúde,
educação e transporte decente às
massas de trabalhadores e pobres
que são sistematicamente
expostas, ano a ano, a tragédias
completamente evitáveis. Estes
mesmos trabalhadores sofrem na
pele o braço mais presente do
Estado: a polícia, a primeira a
chegar aos locais de calamidade.
Frente à miséria do povo afetado
pelas enchentes e deslizamentos
o governo Lula e seus aliados se
lançam a remover comunidades
inteiras e a militarizar outras.
Nenhum dos candidatos falou
sobre a aviltante diferença de R$
200 milhões para os
desabrigados do Rio de Janeiro
contra R$ 300 bilhões para os
empresários e bancos frente à
crise.
A comemoração que tanto Serra
quanto Dilma tem feito das
melhorias na renda dos
trabalhadores, esconde que a
nova “classe média” que eles
saúdam, são famílias que ganham
a partir de R$ 1.115,00, ou um
pouco mais da metade do que o
DIEESE calcula como o mínimo
necessário para atender o
requerido pela constituição para
uma família (como desenvolvido
no Editorial).A nova classe média
comemorada por Serra e Dilma
são trabalhadores pobres,
precários, muitos deles morando
sob riscos em favelas e margens
de rios.

É necessário um
programa e uma
clara alternativa
dos trabalhadores

As recorrentes e previsíveis
catástrofes que assolam o povo
nas grandes metrópoles, bem
como as menos noticiadas, mas
igualmente devastadoras
enchentes no interior do país
atualizam claramente como é
necessária uma alternativa dos
trabalhadores a esta crise. Contra
os intermináveis benefícios aos
empresários e banqueiros
enquanto o povo se afunda na
lama, literalmente, é possível
levantar um programa dos
trabalhadores (como
desenvolvemos na página 4).A
profunda divisão dos
trabalhadores entre trabalhadores
efetivos e terceirizados, o
aumento da exploração no ritmo
de trabalho e a continuidade de
salários muito inferiores ao
mínimo necessário têm que ser
revertidos.

Até agora o apoio das direções
das centrais e dos grandes
sindicatos, são um obstáculo para
impor um plano de luta por uma
saída operária, pelo seu apoio
incondicional ao governo, levando
ilusões na base operária de que
da mão de Lula os trabalhadores
vão se salvar.
A classe trabalhadora precisa se
organizar para impor todas suas
demandas, começando pela base
nas fábricas, empresas, nas
escolas, para superar a burocracia
sindical colaboracionista.
Seguramente o cenário póseleitoral
sem Lula, será mais
instável e levará a maiores
rearranjos políticos e sindicais
que poderão ser aproveitados
para impulsionar a luta dos
trabalhadores e do povo. A
esquerda operária tem pela
frente uma tarefa muito
importante: ajudar os
trabalhadores e o povo na luta e
organização contra a burocracia
sindical, para que possam triunfar.
Temos que preparar lutas
combativas e não corporativas, aí
onde temos responsabilidade de
direção, apoiar todos os
trabalhadores em greve,
impulsionando a coordenação
efetiva entre as diversas
categorias a serviço da luta de
classes, mas também procurando
a aliança operária e popular
incorporando as demandas dos
estudantes e do povo.
A Conlutas e a Intersindical que
estão em processo de unificação,
têm que romper sua passividade
e se colocar à frente desta
perspectiva.

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