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Cultura

London Calling – 35 anos do melhor do punk

16 Dec 2014   |   comentários

Quando a febre do punk rock inglês começa chegar a um ponto limite, após seu auge em 1977, uma de suas principais bandas, The Clash, provou que sua música era mais profunda e consistente que uma mera moda feita para dar uma “vazão controlada” à rebeldia juvenil em forma de um nicho de mercado.

Let fury have the hour, anger can be power
D’you know that you can use it?
(deixe a fúria ter seu momento, o ódio pode ser força
Você sabe que pode usá-lo?)

 Clampdown

Quando a febre do punk rock inglês começa chegar a um ponto limite, após seu auge em 1977, uma de suas principais bandas, The Clash, provou que sua música era mais profunda e consistente que uma mera moda feita para dar uma “vazão controlada” à rebeldia juvenil em forma de um nicho de mercado.

O lançamento de seu terceiro disco London Calling, em dezembro de 1979, foi um evento histórico para o rock, e deixou para trás a época do Clash como um grupo que se restringia à velha fórmula “clássica” do punk, com seus repetitivos e furiosos acordes rasgados. Se o fundamental do punk em sua primeira fase era justamente dar a jovens que se sentiam marginalizados uma poderosa voz, que era mais forte quanto mais demonstrasse que não precisava de um preciosismo melódico e harmônico para gritar ao mundo que a música era seu instrumento de revolta, nesse segundo momento o Clash soube não deixar esse ímpeto esfriar em ser “mais do mesmo”. Como bons e autênticos punks, não se conformaram.

O punk, como qualquer outro movimento de contracultura, já passava pelo seu processo de assimilação desde a primeira infância. O Clash, tendo deixado já de ser uma banda de garotos amadores, usou o espaço que conquistou na gravadora CBS para impor sua própria marca: compraram a briga para lançar um disco duplo que seria vendido pelo preço de um, e nesse souberam encontrar uma nova expressão que, longe de negar sua identidade anterior para ser mais “vendável”, foi uma superação desta, um aprofundamento que recriou a banda e o próprio gênero ao qual pertencia. Musicalmente, incorporou em seu repertório influências que passavam pelo R&B (Rhythm & Blues), reggae, rockabilly e ska. Ao mesmo tempo, o Clash mostra que sua profundidade não está apenas em transcender a fórmula melódica e rítmica do punk, mas também em tratar com muito mais profundida as questões políticas e sociais de sua época, de forma muito distinta da rebeldia infantil de bandas como Sex Pistols, por exemplo, sua banda conterrânea e contemporânea que faz parte da tradição em que o punk praticamente se resume a um “visual”.

O Clash estava na contramão dessa vertente puramente “estética” do punk, que reunia, além do Sex Pistols, outra emblemática banda punk que estourou nos EUA, os Ramones. Joe Strummer, vocalista do Clash, dava um contorno de enfrentamento político contra o regime político e a sociedade do capital às letras da banda. Em London Calling essa posição política aparece vigorosamente, como em Spanish Bombs, uma homenagem aos combatentes da guerra civil espanhola; em clampdown falam sobre o desemprego, a exploração e a alienação do trabalho e a revolta e possibilidade de se organizar contra isso; a crítica à mercantilização da vida em Koka Kola e Lost in the Supermarket; a violência policial em Guns of Brixton, entre outras.

Alguns de seus fãs os acusaram de “abandonar o punk”; como diz a própria banda na música que dá nome ao disco, “Phony Beatlemania has bitten the dust”, algo como “a ‘beatlemania’ fajuta ficou para trás”. É uma referência ao fenômeno de sucesso que foram os Beatles nos anos 1960, mas uma clara alegoria à "moda do punk". O Clash não queria se sustentar sobre a sua fama já estabelecida, mas procurar novos terrenos para sua música. Strummer, que tinha um pai diplomata e conservador, disse em uma entrevista que se recusou a seguir o caminho que a sociedade reservava a ele: “Sabe, eu não sou como o Paul os outros [membros da banda], eu tive uma chance de ser uma ‘boa pessoa normal’ com um bom carro e uma casa no subúrbio – a ‘maçã dourada’ ou o que quer que você chame isso. Mas eu vi além disso. Eu vi que era uma vida vazia”. Eles escolheram viver para o rock, e dar a ele um sentido de rebeldia e protesto. Quando o punk já era uma forma cristalizada, o Clash quis dar um passo além. E, com isso, produziu sua obra prima, que marcou definitivamente a história da música.

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