Segunda 6 de Maio de 2024

Internacional

EDITORIAL DO JORNAL CLASE CONTRA CLASE 168, DO PTR

Fortalecer a aliança de trabalhadores e estudantes nas ruas: por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana baseada na mobilização

30 Aug 2011   |   comentários

Aproveitando a paralisação nacional convocada pela CUT na quinta-feira 25 de agosto, este dia se converteu em uma grande jornada de mobilização nacional na qual irrompeu a aliança de trabalhadores e estudantes nas ruas. Mobilizaram-se mais de 600.000 em todo o país, 400.000 nas ruas de Santiago, 70.000 em Valparaíso, 70.000 em Concepción, 40.000 em Temuco, e em quase toda cidade houve mobilizações massivas. Ao final da mobilização entre 10.000 e 20.000 jovens enfrentaram as forças repressivas que guardam com armas a odiada herança da ditadura. E à noite panelaços, cortes de rua com barricadas fecharam cada jornada. Foi um novo golpe que debilita ainda mais o governo de Piñera e a Direita, assim como também debilita a Concertación, os dois administradores da herança da ditadura que as mobilizações estão enfrentando: a entrega de nossas riquezas aos monopólios imperialistas e nacionais, a exploração e a impunidade patronais, os salários de fome, o trabalho instável da terceirização, as chamadas práticas anti-sindicais, o autoritarismo, a intransigência e a prepotência de um regime que se elege a si mesmo com o modelo binominal, a designação das autoridades como intendentes [espécie de governador – Nota do Tradutor], os parlamentares designados a dedo, a transformação de nossos direitos básicos como a saúde, a moradia e a educação em um negócio, a brutal repressão, a opressão ao povo-nação mapuche.

Este novo choque com o governo, ainda que o debilita mais não conseguiu fazê-lo retroceder. Enquanto nas ruas alguns gritavam “que caiam todos” e “vai cair o sucessor de Pinochet”, o governo respondia com uma duríssima repressão que culminaria com o assassinato de um jovem estudante técnico-industrial às mãos da polícia como denunciam vizinhos do setor e seus familiares, ao mesmo tempo que ignorava as reivindicações dos trabalhadores e reafirmava suas políticas para a educação.

Acontece que as direções majoritárias das mobilizações, o PS de Arturo Martinez na CUT, e do PC com Camila Vallejos na FECH, Jaime Gajardo no Colégio de Profesores querem enclausurar a luta a reformas cosméticas no reime. O que está colocado é o fim da odiada herança da ditadura.

A força da aliança nas ruas de trabalhadores e estudantes contra a herança da ditadura no regime da Direita e da Concertación

Foram centenas de milhares que se mobilizaram durante mais de 4 horas na ruas de todo o Chile. Federações e Centros Acadêmicos das universidades e dos colégios. Coordenações dos estudantes em luta, de base e nacionais. Dezenas de sindicatos de base, federações sindicais, associações sindicais.

Desafiaram as ameaças prévias do governo. A ameaça de aplicar a Lei de Segurança Interior do Estado. A ameaça de descontos no salários pelos dias não trabalhados. A ameaça do fantasma do golpe que o próprio Piñera fez. A criminalização feita pelos meios de comunicação.
Houve outro desafio. As direções oficiais majoritários dos trabalhadores: a CUT do OS de Arturo Martinez e o PC não fizeram nada para preparar a paralisação. Não convocaram assembléias, não a prepararam previamente convocando assembléias. Não a agitaram com boletins de greve. Não convocaram, como nós do Partido de Trabalhadores Revolucionários – Clase contra Clase /PTR-CcC exigimos, um Comitê de Greve com delegados de base mandatados por assembléia e aberto às organizações estudantis, de moradores e da esquerda. O resultado foi que grande parte dos trabalhadores do setor privado, a indústria e os serviços não puderam se somar. Tampouco o fizeram setores estratégicos como os trabalhadores mineiros da CODELCO e das empresas privadas, mesmo que o ânimo majoritário era de parar e se mobilizar.

Esta mesma política se viu na própria mobilização: sem um ponto de concentração os que mobilizaram ficavam dando voltas em círculo, e não houve nenhuma colocação de como seguir a mobilização, nenhum chamado a aprofundar a luta que vem demonstrando sua força com as mobilizações prévias do movimento estudantil, e antes disto nas mobilizações pela diversidade sexual, contra a hidroelétrica de Hidroaysen, na luta da região de Magalhães.

Deste modo, no final desta jornada, emergiu um setor da vanguarda de luta, de cerca de 10.000 a 20.000 que nas ruas expressou justamente seu ódio conta a polícia e sua repressão para defender a herança da ditadura que temos enfrentando nas ruas.

A força desta massiva aliança nas ruas de trabalhadores e estudantes que fez as grandes patronais se virem obrigadas a responder às mesmas: o próprio Eliodoro Matte declarou que tinham que estar aberto a discutir o que até ontem eles negavam, como as reformas tributárias – uma tentativa de reformas cosméticas por cima – pois estão pensando em perder algo para não perder tudo.

Esta não é a única política de reformas cosméticas que está em curso. As direções oficiais majoritárias do PS na CUT e do PC também tem uma política de reformas cosméticas.

A política das direções do PS e do PC: pressionar para negociar reformas cosméticas por cima

Na Conferência de Imprensa no final do dia 25, desde a CUT às direções oficiais majoritárias, o PS de Arturo Martinez (CUT), os dirigentes do PC Camila Vallejos (FECH), Jaime Gajardo (Colégio de Profesores) e Lorena Pizarro (AFDD), a ecologista Sara Larraín, todos declararam que continuariam a luta. Até onde querem levá-la? Falaram de avançar a uma segunda transição à democracia. Se a primeira transição à democracia foi a das reformas cosméticas feitas pela Concertación, a qual o PC sempre apoiou (chamando a pactos eleitorais, a votar neles como em Bachelet, etc), esta segunda transição não será mais que uma segunda reforma cosmética. Por isto a chamam a formar uma “democracia social” com empresários pequenos e médios, justamente os que pagam salários de fome e terceirizam para os grandes empresários, chamam também os donos dos colégios subsidiados. Por isto falam de plebiscito. Querem tornar mais participativa esta democracia para os ricos e assim legitimá-la. Por isto falam contra o lucro na educação, mas não falam de educação gratuita e sem subsídios aos colégios privados (como também o abaixo assinado da CONFECh, se limita a dizer que “em perspectiva” a educação deveria ser gratuita). Por isto falam de reformas ao Código do Trabalho, mas não de acabar com a terceirização que divide entre trabalhadores de primeira e de segunda. Por isto não organizam nem vem organizando ativamente a luta contra a repressão.

Querem negociar reformas por cima. Chamar a novas mobilizações mas para pressionar por estas reformas cosméticas. Por isto chamam o diálogo com o governo, ao invés de desenvolver a unidade dos trabalhadores e dos estudantes em base a organismos de democracia direta em cada lugar de estudo e trabalho para sustentar, estender e aprofundar a luta.

O governo debilitado e tomando consciência da força crescente da mobilização nas ruas acolheu a corda que estas direções jogaram para ele.

O governo busca dividir o movimento de luta

O governo débil e autista insiste em suas políticas para preservar a herança da ditadura, que antes dele a Concertación conservou. Sua política para isto é, agora, dividir e fazer retroceder a aliança nas ruas de trabalhadores e estudantes. É assim, que ignorou os trabalhadores dizendo que foi uma mobilização somente estudantil, mesmo que ao menos 50% dos que se mobilizaram foram trabalhadores. E convocou os estudantes diretamente para negociar, e, paralelamente, chama a possíveis negociações no Parlamento.

Camila Vallejo do PC já havia declarado nos dias anterior que estava aberta a uma negociação por cima. Sua primeira reação ao chamado do parlamento foi aceitar o convite. Numa reunião da CONFECh esta política foi rechaçada e ela se viu obrigada a recuar. Ela também chamou a um plebiscito que não pode ser outra coisa que um fator desmobilizador, e, ainda por cima é um instrumento menos democrático desta democracia para os ricos. As ruas já votaram: querem uma educação gratuita.

A este novo chamado do governo que só quer nos dividir, o PC na boca, agora de Jaime Gajardo, respondeu que sempre esteve aberto ao diálogo se for “com todos atores sociais”. estes atores sociais, são eles mesmos, uma negociação por cima. A CONFECh se reúne a portas fechadas com somente um par de dirigentes. A CUT e o Colégio de Profesores fazem o mesmo.

Assim não avançam contra o governo e contra uma direita que ainda que esteja na resistência se vê empurrada a negociar reformas pelo alto, enquanto reprime com uma dureza crescente. Memso depois de ter provocado um morto com sua brutal repressão alguns dos dirigentes da direita chamaram os Carabineiros a usar munição viva.
É por isto que Arturo Martinez em sua Conferência de Imprensa soltou o verbo contra o que chama de “ultra-esquerda” dizendo que esta faria o jogo da direita. O correto, como vemos, é que a política de reformas cosméticas, negociações pelo alto e acordos com setores patronais que seguram pela esquerda o regime, e com isto à própria direita. Esta tentativa dele tenta também dividir e isolar a vanguarda de luta que surgiu na jornada de ontem mostrando sua disposição de luta até o final contra a herança da ditadura, dos setores mais amplos de massas nesta luta pela educação gratuita.
Deste modo levarão a luta a um grande beco sem saída que pode levar a um retrocesso e À derrota.

Fortalecer a alianças de trabalhadores e estudantes nas ruas. Por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana baseada na mobilização

Frente às reformas cosméticas pelo alto é necessário chamar a colocar de pé em cada lugar de trabalho e estudo organismos de democracia direta para a luta, com delegados revogáveis e com mandato de assembléia e coordená-los.
Desde aí devemos lutar pelo julgamento e punição dos assassinos de Manuel Gutiérrez. Não podemos deixar impune este crime.
Devemos prepara uma nova Paralisação Nacional para fortalecer a aliança de trabalhadores e estudantes até que nossas reivindicações sejam alcançadas.

Agora está colocado avançar na luta para que caia não somente a educação mas todo o regime pinochetista. Não às reformas cosméticas da democracia social e da segunda transição que mudarão algo para que nada mude, deixando intacta a herança da ditadura que a Concertación conservou e aprofundou, e agora a direita mantém e aprofunda. Nem Direita nem Concertación, que os trabalhadores governem. Neste caminho lutamos por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana baseada na mobilização do povo trabalhador, dos jovens, dos estudantes, moradores para não deixar pedra sobre pedra da herança pinochetista. Para conquistar a educação pública gratuita e uma Assembléia Constituinte é necessário fortalecer e desenvolver a aliança dos trabalhadores e dos estudantes.

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