Quinta 16 de Maio de 2024

Nacional

Em nome da autonomia sindical esconde-se o oportunismo

05 May 2006   |   comentários

A experiência concreta de trabalhadores, sindicatos e organizações com o governo Lula e a CUT tem feito ressurgir debates fundamentais sobre a atuação dos revolucionários nos sindicatos. Durante estas últimas décadas os reformistas da CUT moldaram a consciência de milhões de trabalhadores, levando a que as concepções burguesas, anti-marxistas, do sindicalismo imperassem entre as mentes e corações de honestos lutadores que hoje rompem com esta direção conciliadora e traidora. Infelizmente, durante todo esse período as correntes que se consideram marxistas e revolucionárias se deixaram levar pela tormenta oportunista do sindicalismo, fazendo com que as tradições marxistas revolucionárias para os sindicatos se tornassem extremamente minoritárias e quase inexistentes. Agora, quando milhares de delegados se encontrarão no Conat para decidir sobre qual o programa e a estratégia que esta vanguarda tomará em suas mãos para armar-se como uma nova direção capaz de aproveitar um próximo ascenso e não deixar escapar mais uma oportunidade para a luta revolucionária da classe trabalhadora, temas centrais como “autonomia” e “independência” sindical voltam à tona. Como não podia ser de outra maneira, as idéias que hegemonizam são as do sindicalismo oportunista. Neste artigo pretendemos aportar algo para que as concepções marxistas revolucionárias comecem a ser retomadas em contraponto à herança oportunista-sindicalista da história do movimento operário das últimas décadas.

A independência da classe trabalhadora perante a burguesia, seu Estado e suas instituições tem um conteúdo político, ou seja, uma ação política ativa ordenada por programa, táticas e organizações na defesa intransigente dos interesses dos trabalhadores e em combate aos interesses da burguesia, seu regime e seu Estado. Ao ver a independência de classe da CUT pelo prisma formal, as correntes de esquerda se negavam a ver o conteúdo conciliador da estratégia reformista da central, a verdadeira essência da dependência dela com o estado e a patronal. Com a eleição de Lula houve o salto, pois a forma veio a tona por seu conteúdo. A conciliação de classes, o atrelamento ao governo, os cargos em ministérios e órgãos do aparato estatal passaram ao primeiro plano, desmascarando o verdadeiro caráter da direção da CUT enquanto uma burocracia que busca, a partir de seu papel político nas organizações de massas, resolver seu problemas social, isto é, “ajeitar sua vida” , e para isso não vacila em passar de armas e bagagens para o lado da burguesia.

Não são poucas as correntes de esquerda que fazem da “autonomia e independência” sindical uma verdadeira panacéia, um remédio que eliminaria todos os males. Na realidade, por trás encontramos concepções sindicalistas, anti-marxistas, que escondem o caráter oportunista de inúmeros sindicalistas e diversas correntes políticas que reproduzem esta ideologia burguesa e, assim, desvirtuam a consciência política da vanguarda e dos trabalhadores da necessidade imperiosa de atuar nos sindicatos garantindo aos partidos políticos o direito de ganhar influência nos sindicatos e entre os trabalhadores, com o único critério que é saber em nome de que programa e com quais táticas estes partidos lutam.

A experiência tem demonstrado que o fetiche da “independência e autonomia sindical” é um manto com o qual os oportunistas de todo tipo se escondem para manter sua liderança nos sindicatos, evitando que mesmo a vanguarda possa controlá-los. “Está claro que quaisquer que sejam as condições da consigna abstrata de independência [sindical] nunca surgirá das massas. A burocracia sindical é outra coisa. Não apenas tem ciúmes da burocracia partidária como tende a se tornar independente também do controle da vanguarda do proletariado. A consigna de independência é, pelos próprios fundamentos, uma consigna burocrática e não de classe” e não há como negar que “os que, em princípio, contrapõem autonomia sindical à direção do Partido Comunista estão contrapondo ’ queiram ou não ’ o setor proletário mais atrasado à vanguarda da classe operária, a luta pelas conquistas imediatas à luta pela completa libertação dos trabalhadores, o reformismo ao comunismo, o oportunismo ao marxismo revolucionário.”

O cachimbo deixa a boca torta: o PSTU se deixou levar pela oportunismo

Hoje, quando se realiza o Conat (Congresso Nacional de Trabalhadores, da Conlutas), nos deparamos com as propostas apresentadas por dirigentes e sindicalistas do PSTU para os princípios e o estatuto da Conlutas. Queremos debatê-las porque nos parece que este partido, que como nós reivindica o trotskismo, renega as tradições marxistas revolucionárias na questão sindical. Em nossa opinião, isso ocorre porque a direção do PSTU tem um histórico de ecletismo teórico, assimilando posições reformistas e consolidando-as em sua prática política nestas duas décadas de atuação nos sindicatos e na CUT.

Como primeiro princípio, sobre a “independência de classe” , pode-se ler a frase de Marx em que afirma que “a libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores” e que a Conlutas deve “pautar-se pela mais completa independência política, financeira e administrativa em relação à burguesia, aos governos e ao Estado” .

O sindicalismo ’ reformistas, anarco-sindicalistas ’ historicamente contrabandeou as posições marxistas para esconder seu caráter oportunista e sua capitulação à ideologia burguesa que enxerga a classe operária como objeto, ao contrário dos marxistas que compreendem a classe como sujeito.

Marx nunca quis, com essa frase, afirmar que a classe trabalhadora seja um fim em si mesmo, que por conta própria poderia chegar às conclusões históricas, estratégicas e programáticas. Para Marx, “a libertação dos trabalhadores” só poderá se efetivar quando estes se elevarem como sujeito político ’ classe em luta contra a classe inimiga. E para este objetivo estratégico não bastam os sindicatos e demais organizações, é imperiosa a construção de um partido distinto dos demais, um partido comunista. A história tratou de comprovar as idéias marxistas. Os grandiosos sindicatos, cooperativas e associações culturais alemães, que reuniam milhões de trabalhadores no início do século passado, de nada serviram para a luta revolucionária em todas as crises revolucionárias. E o partido socialista, por ser um partido oportunista e não revolucionário, não teve final mais digno. Aqui na América Latina, os gloriosos cordões industriais no Chile (em 1972) ou a COB em 1952 na Bolívia, deixaram tradições e ensinamentos que devemos tomar, porém não foram suficientes para aproveitar a situação revolucionária destes países. Nessas e em outras oportunidades a classe operária, apesar do seu heroísmo e firmeza, pagou caro por não ter conseguido construir partidos revolucionários que aproveitassem os ascensos e as crises revolucionárias.

Trotsky nos dá uma brilhante explicação contra a ideologia burguesa de classe-objeto que os oportunistas seguem para negar a necessidade de um partido revolucionário ou mesmo de qualquer direção política para a classe operária. Ele diz que “se o proletariado como classe [objeto] fosse capaz de compreender imediatamente sua tarefa histórica não seriam necessários nem o partido nem os sindicatos. A revolução teria nascido simultaneamente com o proletariado.” Ao contrário das idéias sindicalistas e reformistas, continua Trotsky, “o processo mediante o qual o proletariado compreende sua missão histórica é longo e penoso, e está marcado por contradições internas” . Esse processo penoso e longo exigirá prolongadas lutas, duras provas, muitas vacilações e uma ampla experiência concreta ’ onde os operários julgarão as propostas e ações dos partidos ’ na qual a vanguarda dos trabalhadores chegará à compreensão de sua missão histórica ’ a revolução operária e socialista. Porque “é somente através de sua minoria com consciência de classe que a classe operária se converte em fator histórico” .

No Brasil, diante da experiência dos trabalhadores com o PT e a burocracia sindical, a vanguarda consciente tem como tarefa atuar nos sindicatos de maneira sistemática e profunda para conquistar a confiança dos milhões de trabalhadores e romper os laços que ainda os mantém presos à influência dos dirigentes sindicais reformistas e oportunistas. Isto só pode ser feito se esta vanguarda superar as concepções sindicalistas-oportunistas, atuando nos sindicatos para expulsar a burocracia sindical e construir um verdadeiro partido revolucionário que siga os exemplos deixados pelo Partido Bolchevique com sua atuação revolucionária nos sindicatos e nos sovietes, pavimentando o caminho para a libertação do proletariado como obra do próprio proletariado.

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