Terça 7 de Maio de 2024

Teoria

TEORIA

Discussões sobre o Programa de Transição

15 Nov 2008 | A seguir, reproduzimos alguns trechos de textos em que Trotsky discute com dirigentes norte-americanos, em 1938, a importância do programa em momentos de crise, assim como a relação dialética entre o programa científico elaborado em base às condições objetivas da realidade e o nível de consciência da classe operária em cada situação histórica concreta.   |   comentários

“Alguns camaradas dizem que este esboço de programa não corresponde suficientemente ao estado de espírito e à disposição dos trabalhadores americanos; por isso devemos interrogar-nos sobre se esse programa deve ser adaptado à mentalidade dos trabalhadores, ou se deve antes corresponder à situação real, económica e social do país. É a questão mais importante.

Sabemos que a consciência de cada classe social é determinada por condições objetivas, pelas forças produtivas, pelo estado económico do país, mas essa determinação não se realiza de forma mecânica. A consciência, em geral, atrasa-se; atrasa-se em relação ao desenvolvimento económico e esse atraso pode ser mais ou menos acentuado. (...)

Esta análise é o ponto de partida de toda a nossa atividade. O programa deve exprimir as tarefas objetivas dos trabalhadores e não refletir o seu atraso político. O programa deve dar conta da sociedade tal como é, porque ele próprio é um instrumento para lutar contra essa mentalidade atrasada da classe operária e para vencê-la. (...)
Uma outra questão é saber como apresentar o programa aos trabalhadores. É uma questão de pedagogia e de vocabulário, de escolha de termos. (...) Devemos dar uma explicação científica da sociedade e explicá-la claramente às massas. É essa a diferença entre o Marxismo e o Reformismo. Os Reformistas sabem farejar o que as pessoas querem ouvir (...) e lhes dão isso.

Alguns dirão: ’De acordo, esse programa é um programa científico, corresponde à situação real, mas se os trabalhadores não o fazem seu permanecerá estéril’. É possível. Mas isso significaria apenas que os trabalhadores seriam esmagados antes que a crise tivesse podido ser resolvida no sentido da Revolução Socialista. (...) Quando nos apresentamos perante a classe operária com o nosso programa, não podemos dar nenhuma garantia quanto à sua rejeição ou à sua aceitação por essa mesma classe operária. Não podemos tomar essa responsabilidade... só podemos tomar a responsabilidade no que diz respeito a nós próprios. (...)

Claro que se fechasse os olhos, eu poderia produzir um belo programa cor-de-rosa que toda a gente aceitaria. Mas esse programa não corresponderia à situação, e o que é próprio de um programa é corresponder em primeiro lugar à situação objetiva. Creio que este argumento elementar é um elemento definitivo.

A consciência de classe dos trabalhadores está em atraso em relação aos acontecimentos, mas a consciência de classe não é uma coisa feita dos mesmos materiais que as fábricas, as minas e os caminhos de ferro, mas de um material bem mais maleável; pode modificar-se rapidamente sob os golpes da crise, sob o peso de milhões de desempregados.
A que velocidade se produzirão esses acontecimentos? Ninguém sabe: pode-se simplesmente dar a orientação geral que ninguém contesta. É somente depois que se põe a questão da apresentação do programa aos trabalhadores: naturalmente é uma questão muito importante; devemos aplicar à política o que sabemos de pedagogia e psicologia de massas, para construir uma ponte de acesso ao espírito dos trabalhadores.”

Trechos extraídos do texto “Discussão dos membros do SWP com Crux (Trotsky) sobre a agonia do capitalismo", publicado no livro O Programa de Transição - Documentos da IV Internacional. Edições Iskra, 2008. Adquira com o colaborador deste jornal.

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