Domingo 5 de Maio de 2024

Nacional

EDITORIAL

Dilma aceita calada a intervenção imperialista na Líbia e prepara mais ataques aos trabalhadores e à juventude!

19 Mar 2011   |   comentários

Dilma não é Lula, no entanto, seu governo se baseia na continuidade do que ficou denominado de “Lulismo” e suas bases: crescimento econômico, na ampliação de trabalho precário e políticas sociais. A continuidade de crescimento econômico se sustenta hoje principalmente pela alta do preço das commodities, no qual o Brasil tem grande peso como exportador, majoritariamente para a China. Também na entrada recorde de dólares e investimentos externos (a entrada liquida até o dia 4 de US$ 24,356 bilhões já e maior que o verificado em todo o ano passado), atraídos por altos, rápidos e seguros rendimentos propiciados pela maior taxa de juros do mundo e pela grande facilidade de crédito, com o BNDES sendo o financiador público dos lucros recordes de grandes empresas.

Esse crescimento, ainda que em bases débeis, tem garantido a continuidade em primeiro e principal lugar do enriquecimento farto e recorde de grandes setores da burguesia nacional e estrangeira, não à toa o Brasil passou a ter um aumento de 66,7% de bilionários na lista da Forbes, sendo Eike Batista, um dos principais aliados do governo Lula e agora de Dilma, seu melhor colocado. Temos um superávit primário que possibilita ao governo uma distribuição de migalhas e pequenas concessões econômicas e sociais às camadas mais pobres do povo brasileiro enquanto empresários lucram bilhões de reais. Essas políticas sociais, associadas com o aumento do emprego precário/terceirizado e com a maior disponibilidade de acesso ao crédito fácil para consumo vêm concretizando, com a ajuda das burocracias sindicais pelegas, um clima de “paz social” e ilusão de melhoria gradual das condições de vida de amplos setores da população.

O país dos bilionários em conformidade com o do salário mínimo de fome

É sobre esse clima de reformismo que Dilma vem sustentando seu discurso de “Brasil, país potência do futuro” e escondendo as bases de areia do castelo no qual se ergue esse mesmo reformismo. Se o emprego continua a aumentar, esse se dá em base à precarização, à terceirização, maior rotatividade e trabalho temporário. Se o emprego avançou na indústria 0,2% no mês de janeiro em relação a dezembro, as horas trabalhadas avançaram 0,6% no mesmo período, uma clara demonstração de que é o suor e o sangue dos trabalhadores que sustenta as bilionárias fortunas dos empresários da Forbes. Literalmente o sangue, num Brasil em que segundo o INSS a cada 12 horas um trabalhador perde a vida ou é mutilado no trabalho. Enquanto o país de Dilma se apresenta como de futuro promissor para empresários e capitalistas que aumentam a cada ano suas imensas riquezas, para deputados e senadores que aumentam seus já altos salários em 62%, reserva um já conhecido passado para os trabalhadores e a população pobre que terão que virar-se frente a uma inflação crescente de produtos de primeira necessidade e o aumento do salário mínimo de 15 reais que representa menos de 30% do salário que segundo o próprio Dieese deveria ser o salário que supriria as necessidades básicas de uma família.

Dilma diz priorizar em seu mandato o combate à pobreza, mas enquanto seu recente reajuste no valor do bolsa família (que contribui com em média 100 reais para uma família que está na extrema pobreza) representa um pequeno aumento aos 13,4 bilhões já gastos desde 2010, destina centenas de bilhões todo ano a um punhado de grandes empresários com a dívida pública. A mesma que para ser paga pela geração de superávit justificou o reajuste do salário mínimo apenas com a inflação e o corte de R$ 50 bilhões nos investimentos destinados, entre outras coisas, para a contenção de áreas de risco, saúde e educação. Essa clara escolha de classe justifica que o Brasil seja um dos países que figura entre os mais desiguais do mundo.

Dilma se aproxima do imperialismo norte-americano

Lula em meados de seu segundo mandato privilegiou uma política internacional no eixo Sul-Sul, no marco de manter acordos estratégicos com o imperialismo norte-americano, mas buscando as vias táticas de se diferenciar um pouco deste para abrir novos negócios e mercados para a burguesia brasileira na África e em outras regiões. Lula manteve as tropas brasileiras no Haiti como menina dos olhos da política externa brasileira para implorar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU ao mesmo tempo em que gerava algumas rusgas com o imperialismo norte-americano, colocando-se contrário a qualquer tipo de sanção ao Irã. Dilma, logo nos primeiros dois meses de mandato, mostrou como os pés de barro do Brasil são mais relevantes que a fraseologia de “Brasil Potência”.

A primeira política de aproximação com o imperialismo norte-americano se deu com a recepção de Dilma a John McCain, candidato do partido republicano que disputou o processo eleitoral com Obama e que é senador por um dos estados mais xenófobos dos EUA: Arizona. Dilma recebeu bem os elogios de McCain sobre a política de militarização dos morros via UPP’s e a política de combate às drogas do governo no marco da cooperação já existente para a repressão nos morros cariocas como parte do aprimoramento da repressão do exército brasileiro no Haiti. Aos elogios do republicano Dilma retrocedeu com a política externa de Lula em relação à compra dos aviões de caças supersônicos franceses sendo a tendência a compra dos caças estadunidenses, obedecendo as ordens das Forças Armadas.

Dilma também ajustou aos norte-americanos o diálogo da política externa brasileira e saiu em defesa da condenação do Irã no caso Sakineh, considerando a condenação imposta a ela como uma “coisa bárbara”, dizendo que mantêm “a disposição de continuar conferindo à questão dos direitos humanos um lugar central em nossa política externa, sem seletividade e tratamento discriminatório”.

Estas iniciativas foram aclamadas na grande mídia burguesa como um distanciamento da política anterior de Lula para supostamente avançar numa política externa mais humanitária. Se os trabalhadores e a juventude já não tinham que ter ilusões de que Lula tinha uma política favorável a povos oprimidos como o iraniano e o haitiano, menos ainda devem achar que Dilma se baseia nos direitos humanos nesses países. Entre as palavras de Dilma e a real defesa dos direitos humanos há um oceano de distância! Dilma passa a dar maior legitimidade aos EUA para votar sanções contra o Irã no mesmo momento em que se recusou a romper relações com Mubarak, ditador que também foi um grande opressor das mulheres e do povo egípcio! Apesar de considerarmos o regime de Ahmadinejad reacionário e opressor do povo, dos trabalhadores e das mulheres iranianas, somos contra qualquer tipo de intervenção dos EUA e de qualquer governo que se coloque como aliado do imperialismo num país como o Irã. A juventude e os trabalhadores devem ter claro que a luta contra a opressão das mulheres no Irã, no Egito e em qualquer outro país deve ser obra das próprias mulheres e dos trabalhadores! Vê-se que os direitos humanos de Dilma não valem nem para todas as mulheres: eles mudam segundo os interesses políticos em jogo!

Os direitos humanos de Dilma são contra a luta do povo árabe!

A nova primavera no mundo árabe deixou em alerta o imperialismo norte-americano, assim como países imperialistas como a França de Sarkozy e a Itália de Berlusconi. Obama e a diplomacia norte-americana esperaram até o último minuto possível para colocarem a necessidade da saída de Mubarak no Egito a partir do levante das massas e da intervenção decidida da classe operária com uma greve geral que antecipou a queda do ditador, este que foi amigo e sócio dos EUA nas últimas décadas, assim como foi Ben Ali (Tunísia) para a França e Kadafi para a Itália. Tampouco esses países imperialistas tardaram em fazer votar na ONU a intervenção militar na Líbia.

Nestes acontecimentos o governo brasileiro não soltou nenhuma declaração em defesa dos direitos humanos do povo egípcio ou anúncio de ruptura de relações com o ditador aliado aos EUA, Mubarak. Também na Líbia a política externa do governo Dilma, ao invés de denunciar os crimes de Kadafi e apoiar a luta do povo líbio em seu sentido democrático da queda de um ditador, preferiu colocar-se numa postura supostamente neutra dizendo que qualquer intervenção militar na Líbia poderia se dar apenas com a aprovação da ONU. Absteve-se nesta votação, mas como havia anunciado o próprio governo: com o aval da ONU o Brasil legitimaria a intervenção imperialista. Os distintos imperialismos, com apoio da ONU, estão autorizados a atacar a Líbia. No Bahrein a ditadura local recebeu ajuda militar da ditadura da Arábia Saudita contra as manifestações populares, mas tampouco o governo brasileiro se colocou contra essa ingerência e ocupação militar saudita, e não o fez porque a ditadura saudita é a principal aliada reacionária dos EUA na região. Dilma calou-se para não melindrar sua aproximação com Obama e os interesses norte-americanos.

Direitos humanos para fora; para dentro, mãos dadas com militares, latifundiários, Igreja e religiosos

Internamente o governo Dilma continua sem querer mexer em questões democráticas no que se refere aos direitos das mulheres (aborto), dos homossexuais (casamento homoafetivo) e num barril de pólvora que envolve a apuração dos crimes do estado durante a ditadura, a reacionária lei da anistia que iguala torturadores e torturados e a criação de uma verdadeira comissão de verdade. Questões essas que voltaram a aparecer durante o período eleitoral e fez com que Dilma se colocasse contra, abrindo espaço para que setores mais reacionários pusessem suas cabeças para fora. Se setores do movimento de mulheres, da intelectualidade e de estudantes tiveram ilusões de que Dilma avançaria nestes direitos, a cada dia o governo mostra suas contradições: a inviabilidade de um projeto político utópico no qual poderia avançar um Brasil em que latifundiários e sem terra, militares e a punição dos crimes da ditadura, a Igreja e as milhares de mulheres mortas e criminalizadas por abortos clandestinos poderiam andar de mãos dadas (vide contracapa).

Esta é a realidade do país que Dilma não pode responder a partir do momento que privilegia seus acordos com os militares, com a Igreja, com os latifundiários, com os empresários, com os imperialismos estadunidenses e europeus. Neste cenário é criminoso o apoio dado a Dilma por grandes centrais como a CUT, Força Sindical, CTB e a UNE que ao apoiarem Dilma também têm que se calar sobre todos os temas que incomodam o governo. Essas entidades continuam de mãos dadas com Dilma deixando para trás a luta pelos direitos de milhões de jovens e trabalhadores.

A esquerda antigovernista, por outro lado, não toma iniciativas concretas a partir das entidades de massas que dirigem para combater a burocracia sindical e estudantil governista. Desde as entidades e organizações antigovernistas devemos desmascarar o papel traidor das entidades governistas e para isso faz-se necessário a mais ampla defesa do direito à verdade, a apuração dos crimes da ditadura, punição e castigo dos crimes e prisão ilegal, mortes e desaparecimentos ordenados e efetuados por órgãos militares e policiais do regime; o direito ao aborto e ao casamento homoafetivo; a retirada imediata das tropas brasileiras e imperialistas no Haiti; o fim imediato do acordo Brasil-Vaticano. Deve ser exigido às grandes centrais que rompam com Dilma para lutarem por esses direitos!

Os revolucionários precisamos forjar outra tradição no seio do movimento de massas no Brasil, que deixe claro que em nossa história não mais será aceito rifar direitos democráticos para se chegar ao poder.

ABAIXO A INTERVENÇÃO IMPERIALISTA NA LÍBIA!

A ONU dá carta branca ao imperialismo norte americano e europeu para intervir militarmente na Líbia, e Dilma lava as mãos para receber Obama de braços abertos

Após a votação na ONU autorizando mais uma intervenção militar na Líbia, a diplomacia do governo Dilma, que se absteve da votação, por via da representante permanente do Brasil, embaixadora Maria Luisa Viotti declarou: "Nosso voto de hoje não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil e respeitarem-se os seus direitos". Em nenhum momento o governo denunciou a intervenção imperialista no Oriente Médio que ao contrário de ser uma suposta ajuda humanitária, como dizem, é a clara política da opressão e da repressão que julgarem necessária para tentar impor uma estabilidade política na região para os negócios imperialistas, se for preciso às custas do sangue do povo líbio. Dilma aceita calada esta intervenção para se aproximar de seu aliado imperialista. A visita de Obama marca uma inflexão na política externa norte-americana que passou os últimos anos sem privilegiar a política na região, e o Brasil é um aliado que pode cumprir um papel importante nesta nova política. Somos um dos únicos países do mundo com o qual os EUA tem uma relação comercial superavitária: os trabalhadores e o povo brasileiro já pagam os custos da decadência americana! E Dilma quer aprofundar essa relação viabilizando futuros acordos com os EUA. Obama veio atrás de suculentos negócios para aumentar a exportação norte-americana ao Brasil, obter uma fatia do petróleo e do pré-sal, das obras de infraestrutura para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e para aprimorar seus acordos militares com o Brasil. Querem arrancar fatias do pré-sal que ao contrário de servirem aos interesses do povo brasileiro servirão para o enriquecimento de bilionários do petróleo como a Exxon, de acionistas estrangeiros da Petrobrás e bilionários brasileiros como Eike Batista. As centrais sindicais brasileiras estão com Dilma, obedientes e submissas, e por extensão são coniventes com essa aliança com o imperialismo, fato que se mostrou a partir do momento que nenhum esforço foi feito por parte dessas centrais em organizar grandes atos contra a vinda de Obama ao Brasil, quanto menos a denúncia e exigência da retirada das tropas imperialistas e brasileiras no Haiti.

Abaixo a intervenção imperialista na Líbia! Fora as tropas ianques do Iraque e de todo Oriente Médio! Fora as tropas da monarquia pró-imperialista da Arábia Saudita do Bahrein! Fora as tropas imperialistas e brasileiras do Haiti! Abaixo o embargo a Cuba! Fora imperialismo da América Latina! Abaixo os acordos militares EUA-Brasil! Pela estatização de toda a produção, refino e distribuição do petróleo e seus derivados sob controle dos trabalhadores para garantir que esta renda sirva para as necessidades do povo brasileiro!

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