Quarta 24 de Abril de 2024

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Continuidade dos elementos de crises políticas no governo Dilma e a entrada de um segundo semestre mais quente nas lutas operárias

15 Jul 2011   |   comentários

Mais um ministro de Dilma cai e dá mais mostras de um governo que é incapaz de responder a setores tão distintos de sua base

Nesses últimos dias caiu o segundo ministro de Dilma, não em ordem de importância como o primeiro Palocci, mas um que controlava um dos ministérios dos mais ricos e que envolve desvios de verbas e esquemas de corrupção no ministério que muito lucra com os investimentos nas obras do PAC e que envolve mais um mensalão de um partido da base aliada, PR, partido que unifica Alfredo Nascimento, Blairo Maggi (o rei da soja) e Valdemar Costa Neto (bancada homofóbica). Diferente da postura diante à crise dos esquemas de tráfico de influência e incremento vultoso de renda de Palocci, Dilma tomou uma postura mais rápida em relação a Alfredo Nascimento, o que gera em partidos da base aliada o receio de que essa postura passe a ser regra frente a escândalos de corrupção que certamente voltarão à tona nos próximos meses do governo Dilma. A queda do ministro dos Transportes gera expectativas nos setores da oposição para tentar fazer sangrar mais um pouco o governo e abrir mais brechas de disputa entre a base aliada. Junto a crises políticas no governo o crescimento econômico brasileiro começa a ser alvo de críticas e a apresentar suas bases frágeis, como altos índices de endividamento no país que amedronta investidores financeiros no país dos altos juros e lucro fácil o que faz com que a burguesia já comece a se preparar para que no Brasil sejam os trabalhadores os que paguem pela crise.

Os acordos de Dilma com grandes capitalistas cada vez mais expostos

A cada dia que passa o governo deixa mais aberta a relação que tem com os grandes capitalistas, nacionais e internacionais e mostra que está disposta a dar passos largos para tentar manter a estabilidade de seu governo. Junto a todas essas disputas políticas, porém, a base de estabilidade do governo continua a de superexplorar a classe trabalhadora mantendo todas as regalias necessárias aos grandes conglomerados capitalistas e por esta via atender também a setores da burguesia nacional, contida pelo crescimento econômico dos últimos anos. Independente de em qual nível a oposição ou a própria base aliada fará com que o governo Dilma sangre, o que nenhum deles quer esconder são as relações do estado brasileiro, governado por Dilma, e suas relações estruturais com capitalistas que vivem do sangue e do suor dos trabalhadores.

Assim como a frustrada compra do burguês Abílio Diniz das ações do grupo francês Casino que seria bancada pelo BNDES [1], em mais uma aventura para aumentar os lucros de capitalistas brasileiros, cada vez mais esta relação estrutural de Dilma em atender aos interesses da conformação de grandes monopólios com inserção na economia internacional por via do BNDES, como já se mostrou também com a JBS, que se transformou na maior produtora de carnes internacionalmente e a fusão Perdigão-Sadia, pode começar a enfrentar novas dificuldades com os ventos da economia brasileira que passam de um crescimento econômico aos níveis chineses para um cuidado maior com o endividamento e os altos juros. Esses elementos podem gerar conflitos novos no seio da própria burguesia, esses que o governo também terá que começar a administrar até o ponto em que a economia brasileira não sinta os fortes ventos de crise como em países na Europa, porém estes ventos já mostram grande preocupação da burguesia nacional e internacional que investe diretamente no Brasil.

Junto a esses “empreendimentos” do governo sai à tona a autorização para a privatização de aeroportos como o de Viracopos, Guarulhos e Brasília, medida lançada de primeira mão por setores da própria oposição e sonho de desejo da burguesia tucana mineira como Aécio e seu governo Anastasia em Minas e em especial de Sérgio Cabral no Rio de Janeiro que também ficou por fora dos projetos do governo. A desculpa de que a privatização vem para atender a uma resposta ao caos aéreo é uma demagogia barata quando todos sabem que os overbooking, os acidentes aéreos, as extenuantes jornadas como já fora denunciada pelos controladores de vôo, seguem a prática necessária para as empresas de aviação continuarem a conquistar grandes lucros às custas da população e dos trabalhadores.

Novas fragilidades para a crise do governo: a política econômica começa a mostrar suas fragilidades

A economia segue sendo o fator fundamental de estabilidade, enquanto garante os lucros de grandes empresários e ainda não passa pelo Brasil as ondas mais fortes da crise econômica capitalista que abrem crises enormes e intervenção da classe operária e da juventude em países como a Espanha e a Grécia ou abertura de processos revolucionários como no mundo árabe. Porém, o jornal adorado pelos financistas, Financial Times, já deu o recado de que o Brasil em breve pode entrar numa crise se não conter o crescimento baseado no endividamento e no alto valor do Real, estes que prejudicam em primeiro lugar a população apesar do ainda grande consumo (mas com o crescente endividamento). Frente a este cenário, analistas burgueses e setores da burguesia já voltam a discutir a implementação mais radical de reformas como a trabalhista e sindical, em especial a burguesia industrial que vem remoendo suas críticas à política econômica do governo há anos porém agora passam a ser vítimas mais atingidas pela política de juros alto que mantêm a indústria brasileira com níveis altos de estoques e a necessidade de redução da produção como nas montadoras. É neste cenário que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, seguindo seu instinto de classe para que os trabalhadores sejam os que paguem pela crise, coloca a necessidade da elevação dos juros e corte de salários para manter o modelo de garantir elevados lucros aos capitalistas, mesmo com sinais mais claros de crise e desaceleração econômica no marco de um grande endividamento da população. Junto à política para os juros a economia traz ainda outras futuras crises no que tange a política cambial e de importações.

Um segundo semestre mais quente na luta de classes

Se por um lado o governo Dilma dá mostras de uma crise mais estrutural em seu governo a exposição de elementos de crise política (mesmo que tenha mostrado pontualmente uma política mais autônoma de seu governo e de sua nova equipe de governo com Gleisy Hoffmann e Ideli Salvati coma crise no Ministério dos Transportes) o que o governo mostra é uma fragilidade maior do governo em manter as mesmas regras realizadas durante o governo Lula porém num momento onde também a economia começa a dar sinais de desgastes. Neste sentido que o dia nacional de lutas organizado pela CUT no dia seis de julho, com mobilizações em setores importantes da classe operária, como metalúrgicos e aeroviários e o anúncio por esta central de necessidade da coordenação nacional das campanhas salariais de metalúrgicos, bancários, petroleiros entre outros no segundo semestre ganham mais importância. Se por um lado a burguesia industrial começa a colocar mais para fora suas demandas, que envolve juros menores, a reforma trabalhista e sindical e a diminuição da produção visto o aumento dos estoques como mostra a planta da Fiat em Betim (MG), todas essas medidas visam atacar ainda mais os trabalhadores. A CUT pode querer surfar nesta onda para alcançar maiores espaços de negociação com o governo lutando pela mudança da política econômica e o rebaixamento dos juros e incentivando greves pelo país. O quanto uma política da CUT para conquistar maiores espaços no governo Dilma poderia abrir crises entre esta central e o governo é uma hipótese que pode começar a se colocar. Porém, o que por enquanto é uma certeza para a direção da CUT é possibilidade de greves, porém controladas pela burocracia, que seguirá impedindo uma coordenação nacional das lutas nacionalmente. Mostra disso é como atuou na greve de professores nacionalmente impedindo qualquer tipo de coordenação das lutas no primeiro semestre e o papel cumprido pela CUT durante as revoltas de Jirau, que frente a uma rebelião de um setor importante da classe operária com os trabalhadores da construção civil preferiu se colocar como agente de administração do governo defendendo os interesses da empresa Camargo Correa, a repressão por via da guarda nacional e a demissão dos 6000 trabalhadores após os protestos. Quais brechas podem se abrir entre o governo, a burocracia sindical e as patronais? Apenas uma política de independência de classe pode atuar no sentido de aprofundar essas crises favoravelmente aos trabalhadores.

O papel da esquerda antigovernista

O novo ativismo de greve de trabalhadores por todo o país, com um marco na greve dos professores e da construção civil, porém, ainda não conta com uma estratégia política capaz de colocar os trabalhadores como agentes de seus destinos e sujeitos políticos determinantes para disputar não os rumos do governo, mas para impedir que a classe operária e a juventude sejam ainda mais atacadas. A esquerda antigovernista, que dirige importantes sindicatos pelo país como o sindicato dos metroviários de São Paulo, Federação de Metalúrgicos de Minas Gerais, Sepe no Rio de Janeiro e compõe oposições sindicais importantes como na Apeoesp de São Paulo, por mais que minoritária, segue sem ter uma atuação decisiva para transformar uma crise política inicial do governo em uma guerra entre as classes.

Os parlamentares do PSOL a todo momento aparecem na mídia denunciando a “promíscua” relação público privada no governo Dilma porém em nenhum momento oferecem uma alternativa de independência de classe. Em nenhum momento os parlamentares do PSOL colocaram seus mandatos a serviço das lutas da construção civil e em especial da revolta dos trabalhadores de Jirau. Ao contrário, só querem saber de políticas no seio parlamentar chegando ao extremo de exigir um código de ética que apenas serviria para regulamentar as relações do executivo com os monopólios no caso das denúncias que fizeram das relações de Cabral com a iniciativa privada. Não adianta a defesa da auditoria da dívida pública ou códigos de ética para responder aos atuais escândalos de corrupção que envolve o governo. Estas são alternativas dadas por parlamentares do PSOL e por dentro do regime frente a um projeto deste partido que ainda carrega as ilusões da reforma do regime democrático burguês e não de sua destruição pelas mãos da classe operária.

Por outro lado a Conlutas, dirigida pelo PSTU, não levou a frente, partir de seus sindicatos, a política de coordenação das lutas nacionalmente, em especial a de professores, e tampouco utilizaram um importante sindicato que dirigem como o de metroviários de São Paulo para que junto à categoria pudessem ser uma referência nacional para as greves em curso. Ao contrário, a direção do PSTU no metrô foi contra a greve e a combativa Conlutas se resignou a um espaço já ocupado pela burguesia e pelos reformistas na defesa do motim dos bombeiros que conta com uma de suas figuras pública o cabo Daciollo, lançado candidato pelo PRB, partido homofóbico que junto aos pastor Silas Malafaia e a Igreja católica dão continuidade à reacionária campanha homofóbica que continua legalizando a morte de um homossexual a cada duas horas no país.

Por uma política operária independente da burguesia e dos patrões: os trabalhadores devem se preparar conta os ataques patronais e confiar apenas em suas forças

A classe operária deve contar com uma direção político sindical que queira transformar a crise política inicial do governo Dilma numa batalha entre classes. Neste momento em que se expressa um novo ativismo operário faz-se fundamental que as greves sejam preparadas não como lutas corporativas e que servem de pressão ao governo para a burocracia sindical melhor negociar seus negócios com Dilma mas como verdadeiras escolas de guerra para que a classe operária tenha, a cada conflito, a experiência de luta contra a burguesia e seus governos, como o de Dilma. Para isso cada categoria de trabalhadores deve ser armada com um programa que lute pela coordenação das lutas dos trabalhadores nacionalmente, contra qualquer tipo de investimento nas forças repressivas do estado, mas investimento em educação, saúde e moradia Apenas uma alternativa de independência de classe pode lançar nacionalmente a necessária campanha pelo salário mínimo do Dieese e a efetivação sem necessidade de concurso de todos os trabalhadores terceirizados em instituições públicas e a imediata incorporação dos trabalhadores terceirizados nas empresas privadas. Uma alternativa de independência de classe tem que estar armada com uma estratégia política independente da burguesia que vise investigar e expropriar, sob controle dos trabalhadores, todos os bens dos capitalistas envolvidos em casos de corrupção. Apenas uma estratégia revolucionária, junto a um partido revolucionário, pode avançar junto à consciência política dos trabalhadores na luta por governo que não seja um balcão de negócios para a burguesia mas sim um governo operário e popular que vise a tomada do poder pela classe operária levando junto a si as demandas democráticas da juventude, do povo negro, das mulheres e de toda a comunidade GLBT.

[1Outro investimento do BNDES com grandes conglomerados, agora envolvendo uma grande empresa chinesa: após viagem de Dilma para a China, poucos entenderam como um dos maiores capitalistas chineses, que dirige a multinacional Foxconn, poderia ter estendido sua sede de lucro ao Brasil, ao aceitar instalar no país, se finalizado o negócio, o maior centro de produção e distribuição de eletrônicos fora da China, num investimento que chega aos 12 bilhões de dólares. Porém, o empresário taiwandês Terry Gou deixa claro o investimento dele próprio será de 5 bilhões de dólares e o restante viria de um sócio (em aberto) e de investimentos governamentais. Mais uma vez pode surgir a figura do BNDES para um investimento bilionário aos capitalistas que deixa os trabalhadores na superexploração uma vez que a Foxconn chinesa é conhecida por seu regime militares nas fábricas e palco constante de suicídio de trabalhadores, para além dos acidentes de trabalho.

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