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ELEIÇÕES

Dilma, Serra e Marina suas propostas e as reais necessidades dos trabalhadores

03 Jun 2010   |   comentários

Mal terminaram de ser enterrados os últimos mortos das enchentes no Rio de Janeiro, os principais candidatos da burguesia, Dilma, Serra e Marina Silva desfilam na TV sobre quais deles seria o melhor administrador e teria o melhor programa para o “desenvolvimento do país”. Suas respostas ignoram as responsabilidades dos governos federal e estaduais que fizeram parte nestas tragédias, enquanto estes mesmos destinaram bilhões aos empresários e banqueiros. Maior ausência no debate feito entre estes candidatos é a crise capitalista mundial e os profundos ataques às massas que tem ocorrido na Europa. Fingem que esta “prosperidade lulista” atual pode se manter mesmo se houver uma quebra no comércio e fluxo de capitais internacionais. Para além de seus discursos e diferenças todos estes candidatos são candidatos da burguesia e da continuidade: de uma situação onde os pequenos avanços em poder de compra pelas massas são encobertos pela favelização e os riscos de enchentes e desabamentos, violência policial, impunidade de criminosos e assassinos de sem-terra e de precarização das condições de trabalho. Queremos com este artigo marcar algumas diferenças dos candidatos, mas também suas continuidades e a necessidade de uma política independente dos trabalhadores para organizar suas lutas e se expressar nas eleições.

Divergência em quanto se alinhar a Washington ou manter o Mercosul, mas sempre a favor dos monopólios

Serra começa a articular uma posição de política externa mais atrelada não só aos interesses de Washington mas as suas táticas concretas de como se opor aos governos “pós-neoliberais da região”. Sua declaração sobre o “conluio do governo da Bolívia com o narcotráfico” parece uma fala de Uribe da Colômbia. Dilma, posa com um discurso mais populista como a continuidade de uma política mais independente de Washington mostrando o peso do Brasil na diplomacia internacional. Este debate mostra diferenças na localização externa, mas não trás à tona, ao contrário do que afirmam todos petistas, a defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo no Brasil e na América Latina. Nenhum dos setores da burguesia brasileira é anti-imperialistas, uns mais alinhados aos EUA ou outros aparecendo mais independentes, porém todos se ajoelham perante o capital estrangeiro.
A política externa seguida por Lula é de maior independência frente à Casa Branca, se necessário com rusgas, para ter o mesmo objetivo estratégico que ela, como é o caso da restauração do capitalismo em Cuba, desarmamento do Irã, ocupação militar do Haiti, e mais que isto, uma política de favorecimentos dos grandes monopólios nacionais e estrangeiros instalados no país. Toda a política brasileira quanto à Venezuela e o Irã deve ser entendida como passos geopolíticos do país mas de forma alguma deve ser descolada da substancial importância que os países vem ganhando no superávit comercial brasileiro.
Esta localização externa facilitada pelo subsídio promovido pelo BNDES é algo que os dois principais candidatos apóiam, e se materializaram nos substanciais empréstimos de Lula e Serra às montadoras para que salvassem seus lucros enquanto demitiam.

Promessas aos latifundiários e às patronais e contra os trabalhadores

Mesmo no crescente clima de mobilização das centrais sindicais governistas “em defesa da continuidade, contra o retrocesso” as principais mostras dadas por Serra e Dilma são para os empresários e latifundiários e não para os trabalhadores e camponeses sem-terra. Em evento de latifundiários e pecuaristas em Ribeirão Preto (SP), Dilma se pronunciou “contra as invasões ilegais” promovidas pelo MST enquanto Serra escalou um pouco mais o tom. O anúncio é claro Serra e Dilma já sabem quem são seus aliados, e já anunciam que continuará a criminalização dos movimentos de terra e impunidade dos jagunços e policiais que assassinam sem-terra.
Em meio a recorrentes tentativas do governo Lula e Serra de reprimir greves de trabalhadores atacando seu direito à greve e anunciando cortes de ponto como na USP, INCRA e diversas categorias federais em greve, nenhum dos candidatos se pronunciou contrário a estas medidas.

Marina e o “desenvolvimento sustentável” a serviço da ofensiva contra os trabalhadores

Enquanto a maioria dos trabalhadores tem se alinhado com a candidatura de Dilma, alguns setores minoritários que tem uma visão mais crítica do governo Lula tem buscado na candidatura de Marina uma alternativa a polarização de Dilma e Serra como uma polarização que não responde aos anseios da população, ou simplesmente atraindo os votos “pela mudança” e de protesto. Esta busca está se cristalizando em uma política que vai radicalmente contra os interesses dos trabalhadores, das mulheres e do povo. Marina perfila-se como candidata da ética, mesmo sem nunca ter desenvolvido alguma crítica pública aos distintos mensalões; aparece como “alternativa de desenvolvimento sustentável” mas foi sob seu ministério que começaram a andar a usina Belo Monte, as liberações para o PAC e a MP da grilagem (e desmatamento) e agora coloca como vice de sua chapa o presidente da Natura. Seu desenvolvimento sustentável é com os monopólios ditos verdes e não com os ribeirinhos, sem-terra, etc. Muitos reconhecem Marina “como uma mulher aguerrida”, porém ela declarou que “o aborto é uma questão de consciência”, como há brasileiros religiosos como a evangélica Marina, esta elementar questão democrática das mulheres nem sequer deveria ser pautada. Para completar a candidata ainda faz recorrentes críticas ao “inchaço da máquina pública” ecoando os setores da burguesia ávidos para realizar cortes “europeus” nos direitos conquistados pelo funcionalismo.

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É possível e necessário desenvolver uma política independente dos trabalhadores

A calamitosa situação que enfrentam os trabalhadores em morros e favelas, a alta rotatividade no trabalho que caracteriza o Brasil e que tem ganhado maior relevância como alternativa da patronal para demitir trabalhadores e recontratá-los com menores salários, a combinação das eleições com as lutas enfrentadas por setores do funcionalismo federal e com destaque para as universidades estaduais paulistas todas atualizam como é possível e necessário uma política independente dos trabalhadores para que triunfem e para constituir um bloco político na realidade nacional. Neste sentido é um desserviço ao desenvolvimento de uma política independente dos trabalhadores a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Sua candidatura focada no surrado programa petista para a educação e na auditoria da dívida pública (ao contrário do histórico programa de “não pagamento”) passa longe de estar a serviço das lutas dos trabalhadores da USP ou as necessidades dos setores mais explorados, como os contingentes intermináveis de terceirizados em cada indústria, serviço e universidades. Plínio não levanta em seu manifesto um ponto sequer sobre salário, emprego, terceirização e, pelo contrario seu partido teve a vergonha de que seus parlamentares apoiaram a Lei do Super-Simples atacando milhões de trabalhadores.
Ao contrário desta situação do PSOL e seu crescente acomodamento como um partido para a disputa de espaços institucionais no regime e sua fragmentação interna quanto aos ritmos e preços deste movimento (dinheiro da Gerdau, aliança formal ou informal com Marina, etc), a candidatura própria do PSTU com Zé Maria para presidente pode ser um passo no sentido da independência dos trabalhadores. A origem operária de Zé Maria e sua tradição sindical e seu discurso de não votar em patrões, contribui a mostrar na sua candidatura uma alternativa da classe operária nestas eleições. O posicionamento deste candidato pela retirada das tropas do Brasil do Haiti fornece uma base real para este avanço.
Por isto chamamos os trabalhadores e a juventude a votar nesta candidatura, ainda que criticamente. Em primeiro lugar porque o PSTU não rompeu com a sua política de frente de esquerda e chamou até o último momento o PSOL e o PCB a constituí-la quando esta leva a uma ruptura com a independência de classe, pelo programa desenvolvimentista e a estratégia de aliança com setores burgueses de seus aliados de esquerda (PSOL e PCB). Em segundo lugar, pelo seu eleitoralismo apresentando “16 propostas” de governo até o socialismo, reforçando as ilusões reformistas de que é possível chegar ao socialismo pela via eleitoral sem revolução social. Ao mesmo tempo que apoiamos a candidatura de Zé Maria, chamamos os trabalhadores e a juventude para exigir que o PSTU utilize seu espaço na mídia para fortalecer as lutas em curso e corrigir a propaganda feita em suas “16 propostas” onde consta “pela duplicação do salário mínimo em quatro anos”, tal como prometem os petistas, ao contrário de expressar a posição da CONLUTAS e as necessidades dos trabalhadores mais precários que é a luta intransigente pelo Salário Mínimo do DIEESE (R$2000,00). Também chamamos para que realizem uma mudança na sua vergonhosa política para Cuba, que fica no mesmo bloco que Obama pedindo mais democracia sem limites de classe, incluindo em sua reivindicação até a burguesia restauracionista, ao contrário é necessário defender as conquistas da revolução e lutar contra os privilégios da burocracia castrista e pela construção de organismos de auto-organização dos trabalhadores.
Por isso, chamamos os trabalhadores e trabalhadoras e a juventude a divulgar e apoiar a candidatura de nossos companheiros Pablito (dirigente da USP e do seu combativo sindicato) e Mara Onijá (dirigente do Movimento de Mulheres de Pão e Rosas) e da LER-QI em filiação democrática no PSTU. Chamamos a se organizar na LER-QI e nas organizações operárias e estudantis que construímos junto a independentes, para fortalecer uma perspectiva de classe e revolucionária para o Brasil, que luta para fazer parte da construção de um partido revolucionário e internacionalista da classe operária, para impor um governo operário e popular.

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