Domingo 28 de Abril de 2024

Nacional

Dilma: depois da vitória... os ajustes.

09 Nov 2014   |   comentários

Para o “Sr. Mercado” só há uma resposta possível a essa conjuntura: a austeridade, ou melhor, os “ajustes impopulares”, aos quais Dilma já se comprometeu para reestabelecer a confiança dos “investidores”. Seu compromisso é de assegurar os lucros mesmo que esse custo seja pago pelos trabalhadores e o povo pobre que a elegeram.

Após a vitória apertada de Dilma no segundo turno, os jornais da burguesia não param de mostrar os números negativos da economia que ficaram escondidos nas propagandas eleitorais. Enquanto lá fora, a crise econômica continua, aqui não ficamos imunes e a cada começo de mês, vemos a queda dos dados do PIB, das exportações (queda de 19,7% em outubro em comparação com o mesmo mês de 2013), da produção industrial (entre agosto e setembro houve queda nacional de 0,2% segundo IBGE), que embora ainda não seja uma queda livre, já é suficiente para estagnar nossa economia em sincronia com a desaceleração global que não vem salvando nem a China.

Para o “Sr. Mercado” só há uma resposta possível a essa conjuntura: a austeridade, ou melhor, os “ajustes impopulares”, aos quais Dilma já se comprometeu para reestabelecer a confiança dos “investidores”. Seu compromisso é de assegurar os lucros mesmo que esse custo seja pago pelos trabalhadores e o povo pobre que a elegeram.

Em entrevista concedida por Dilma a imprensa nesta última quinta feira dia 06/11, a presidenta do PT reconheceu que a inflação é um problema (durante a campanha eleitoral a inflação era um problema só para os “pessimistas”). Anunciou que irá fazer o “dever de casa” e “combater” a inflação (que como reflexo da luta de classes é sempre um combate em benefício de uma classe: a burguesia, às custas dos salários com a precarização da vida dos trabalhadores) por meio de “corte de gastos” mais o aumento nas taxas de juros (que estão em 11,25% ao ano).

O aumento nas taxas de juros vão rebater no aumento da dívida pública que ficará mais cara, o assim, o “controle” da inflação de Dilma levará ao um maior risco de deterioração nas contas do Estado que afetarão sim ou sim negativamente a capacidade, já débil, do governo em investimentos sociais e na sustentação de uma política “gradualista” de aumento no salário mínimo e das transferências de renda como para ampliação do Bolsa Família. Dilma também deixou escapar e agora se confirmou com declaração de Guido Mantega, que o governo irá ajustas para baixo os índices que reajustam direitos sociais e dos trabalhadores como o seguro-desemprego e abonos salariais.

Um impacto mais sentido do aumento nos juros é a redução na capacidade de consumo via crédito dos brasileiros, o que foi a grande alavanca do crescimento durante a década petista. Já que, após anos de crédito barato para financiamentos de casas, veículos, empréstimos, viagens e compras em geral, muitos brasileiros estão com o salário altamente comprometido com dívidas acumuladas com juros atrelados à Selic do governo, que não deve parar de crescer no próximo ano. Para muitas famílias, o décimo terceiro tem destino certo: quitar pelo menos uma parte das dívidas, é o salário dos trabalhadores que vai para pagar os juros aos banqueiros, que em 2014, novamente apresentaram lucros crescentes, como o Bradesco.

O verdadeiro “dever de casa” que Dilma irá cumprir não é nada mais do que o receituário neoliberal que inclui cortes nos gastos públicos, que afetarão também os gastos sociais, embora isto mais uma vez, seja escondido no discurso do PT. O aumento do pagamento dos juros da dívida pública, o chamado superávit primário para 2-2,5% do PIB para 2015, significa, na prática, menos 2,5% de toda a riqueza produzida no país, que vão parar nas mãos dos credores internacionais dos EUA e Europa. Isso enquanto “falta” dinheiro por exemplo, para investimentos em obras públicas para o fornecimento de qualidade de água, energia elétrica, tratamento e coleta de esgoto.

Outro ajuste que está em vigor a partir de hoje, é o aumento nos preços dos combustíveis, o reajuste nas tarifas de combustíveis em 3% na gasolina e 5% no diesel, nas bombas dos postos de gasolina, se o repasse por completo, os preços irão subir em 6%. As tarifas de energia elétrica já estão sendo reajustadas, como no Rio de Janeiro (aumento foi de 17,75% nas contas de luz), e com o estiagem prolongada no país junto a falta crônica de investimento públicos em infraestrutura para a população, o racionamento de energia é uma ameaça real para verão de 2015, um novo “apagão”. No Norte do país, a ANEEL do governo federal, autorizou no último dia 29 de outubro, logo depois do segundo turno, o aumento em 54% na tarifas de energia no estado de Roraima. Este é o tipo de ajuste de que o governo pouco ou nada irá falar em sua propaganda, a conta do ajuste, literalmente está sendo paga pelos mais pobres e pelos trabalhadores.

Todos estes ajustes colocam nas costas dos mais pobres e dos trabalhadores o ônus pela estagnação do crescimento da economia e das impactos recessivos da crise mundial. É o custo de vida mais alto, os salários com reajustes cada vez menores e consumidos pela inflação, o crédito mais caro e a dívidas crescendo a cada mês, para não falarmos dos serviços públicos que continuam precários e das tarifas de serviços básicos como água, luz e combustível mais caros. A saída só virá pela luta e pela organização dos trabalhadores, independente dos patrões e dos governos, com um programa combativo para a que a crise seja paga com os lucros dos capitalistas.

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