Terça 30 de Abril de 2024

Teoria

DEBATE SOBRE CHINA

Debate sobre a classe trabalhadora e as contradições da China no V Fórum Capital Trabalho na Universidade Federal de Sergipe

26 May 2010   |   comentários

Nos dias 24 e 25 de maio aconteceu na Universidade Federal de Sergipe o V Fórum Capital Trabalho promovido pelo Grupo de Pesquisa Estado, Capital X Trabalho e as Políticas de Reordenamentos Territoriais, que envolve diversos pesquisadores e estudantes da pós-graduação do curso de Geografia. O debate da manhã do dia 25 de maio, que teve como tema as contradições entre o capital e os trabalhadores na China, se realizou com a apresentação feita por Simone Ishibashi, militante da LER-QI e editora da revista Estratégia Internacional Brasil e membro do conselho editorial da revista Iskra, e contou com a presença de cerca de 200 pessoas entre estudantes e professores da universidade.

Na sua apresentação, Simone Ishibashi discutiu a situação da classe trabalhadora chinesa na atualidade e os limites e contradições do processo de crescimento econômico que o país experimentou durante as últimas décadas, ressaltando seus impactos para o cenário internacional. “A China no cenário internacional despertou uma ilusão em muitos, que o economista italiano Giovanni Arrighi ajudou a disseminar, de que estaríamos diante de uma divisão internacional do trabalho harmoniosa, em que a China funcionaria como provedora de manufaturas e os EUA como consumidores em última instância, financiando em seguida com seu excedente de conta corrente as reservas norte-americanas ao ser o mais comprador dos papéis da dívida pública norte-americana, que em seguida repassava este dinheiro como crédito barato para manter o super-consumo. Porém, este padrão de crescimento internacional é o que ruiu pela crise capitalista. Se fosse possível manter estrategicamente tal divisão, significaria que a teoria do imperialismo de Lênin como época de crises, guerras e revoluções, estaria superada, pois uma nova ordem harmônica se instaurara no mundo”, colocou.

Outro eixo fundamental do debate foi demonstrar como a restauração capitalista chinesa motorizada por um imenso volume de investimento de capital estrangeiro e pela superexploração da vasta mão-de-obra chinesa, apesar de ser responsável pelos imensos índices de crescimento econômico – atualmente ameaçado pela crise capitalista - está baseada em imensas desigualdades e exploração da classe trabalhadora no plano interno. Neste sentido, se polemizou contra as teorias de emergência pacífica da China, tendo como pano de fundo a retomada das análises realizadas por Trotsky acerca do desenvolvimento desigual e combinado da Rússia, em seu magistral trabalho A História da Revolução Russa e os seus impactos sobre a classe trabalhadora daquele país. “A teoria de Trotsky constitui-se como uma ferramenta fundamental para pensar a China hoje, que é a quarta maior economia do mundo, que, no entanto apresenta um PBN per capita no nível de países como o Congo ou Angola, com 135 milhões de habitantes que vivem com menos de 1 dólar por dia e 400 milhões com menos de 2 dólares, enquanto grande parte dos trabalhadores migrantes se submete a duríssimas condições de trabalho tendo praticamente nenhum trabalhista direito cumprido pelas patronais monopólicas. Neste marco, Trotsky e o seu legado sintetizado no Programa de Transição e na Teoria da Revolução Permanente seguem mostrando toda sua vitalidade não só no plano da análise, mas como programa de ação para a imensa classe trabalhadora chinesa frente à perspectiva de recrudescimento da crise capitalista”, ressaltou Simone Ishibashi.

Como considerações finais, ressaltou: “Os governos e os capitalistas já demonstraram sua ‘saída’ para responder à crise que eles mesmos criaram. A Grécia é o grande balão de ensaio, com cortes salariais e demissões. É preciso que os trabalhadores retomem a confiança em suas próprias forças (...) O sindicalismo de pressão, adaptado aos espaços da democracia burguesa, (...) não pode preparar a classe trabalhadora para os desafios do porvir. Não podemos amargar derrotas por batalhas não dadas como na Embraer, que demitiu em 2009 milhares de trabalhadores, sem nenhuma resposta. (...) Os partidos que se declaram “socialistas”, mas elegem como terreno primordial a conquista de cargos no regime democrático burguês, construindo em nome da “pluralidade” partidos que unem reformistas e revolucionários, sem determinar sequer um corte de classe, como o NPA francês e o PSOL em nosso país, tampouco podem ser instrumento político que a classe trabalhadora e o povo explorado necessitam. (...) É preciso retomar as potencialidades dos trabalhadores, e seus primeiros ensaios. Em nosso país temos a luta dos trabalhadores da USP em defesa do seu sindicato, atacado com a demissão de Claudionor Brandão em 2009 e agora pelo direito de greve. Na América Latina temos o surgimento do sindicalismo de base argentino que teve na luta da Kraft-Terrabusi, Lacta aqui, sua expressão mais avançada ao se enfrentar com uma patronal monopólica, com o governo e a burocracia sindical. Este é um valioso exemplo de que é possível ganhar batalhas sobre os capitalistas [1]. Mas sem se arriscar a enfrentar com audácia os ataques patronais, munidos de clareza programática e estratégica, que só pode advir da mais profunda compreensão teórica sobre as questões fundamentais do marxismo, isso se torna impossível. Mesmo das derrotas podemos tirar importantes lições. Só as batalhas não dadas nada ensinam”.

[1Temos o orgulho de ter participado como organização internacional, a Fração Trotskista, deste importante processo. Para conhecer mais profundamente acesse o site do PTS, organização irmã da LER-QI na Argentina (www.pts.org.ar) ou da LER-QI (www.ler-qi.org)

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