Domingo 5 de Maio de 2024

Nacional

Contra o PT... PSOL e PSTU?

20 Jan 2005 | As principais referências nacionais de vanguarda hoje são o PSOL e o PSTU. Que hora dizem que a nossa proposta de um grande Partido Operário Independente é uma reedição do PT, uma “invenção da Liga Estratégia Revolucionária” ou tentam ignorar a nossa proposta. Descartando os que se negam a refletir a fundo sobre as necessidades objetivas dos trabalhadores e da juventude e o papel da esquerda e preferem “ignorar”, vamos aos argumentos que nos apresentam para esclarecer as falsificações que não cumprem outro papel além de disseminar a confusão e desqualificar um debate estratégico para a esquerda: a questão do partido frente ao desbarranque do PT. Em diversos artigos desse jornal dedicamos linhas sobre a incipiente recomposição do movimento operário internacionalmente, fenômeno que na América Latina começa ter um peso objetivo na realidade de diversos países. No Brasil, é um fenômeno muito mais amplo que qualquer alternativa reduzida como o PSOL e o PSTU conseguem responder, não só por seu tamanho, mas por sua impotência programática, teórica e prática. Façamos o balanço do PT que essas correntes se negam a fazer até o final, já que seria condenar seu próprio passado.   |   comentários

“PT das origens” ou partido de independência de classe

No início da década de 80, em meio ao maior ascenso grevístico da história do proletariado brasileiro, a classe trabalhadora, percebendo a necessidade de ter uma ferramenta política para intervir nos rumos do país, construiu o PT. No entanto, o PT mal terminou de constituir-se já se transformou em partido operário reformista, dotado de um programa de conciliação de classes, e desde sua fundação se negou a atrelar-se estatutariamente aos sindicatos para que os sindicalistas “burocratas de esquerda” (aliados a um setor da igreja e de intelectuais e parlamentares pequeno-burgueses) pudessem ter as mãos livres para pactuar com a burguesia.

Os sindicatos nunca tiveram poder real dentro do PT, apenas os sindicalistas, como Lula, Vicentinho e outros que dominavam o partido para impedir que os trabalhadores organizados nos sindicatos pudessem interferir em seus rumos. Mesmo os poucos e pequenos núcleos de trabalhadores que existiram na época da fundação do PT foram sempre combatidos pela direção burocrática de Lula e os demais sindicalistas e parlamentares, até serem eliminados da vida interna do partido para que os trabalhadores das fábricas e das empresas ficassem “fora da política” . Lembremos que o próprio Lula, em 1980, não se cansava de dar entrevista para dizer que “sindicato é para lutar por salário e condições de trabalho e não para fazer política” . Enquanto os trabalhadores eram deixados fora da luta política, os burocratas da CUT e os parlamentares pequeno-burgueses dominaram desde o começo o PT para transformá-lo num partido com um programa e uma estratégia pró-capitalista.

Como vemos, o “PT das origens” tão reivindicado pelos que nos criticam, não era independente, nem dirigido pelos trabalhadores a partir dos seus sindicatos e organizações de base como defendemos. O que imperou desde a fundação foi a separação entre o económico e o político que só serviu aos interesses da burguesia e aos dos burocratas políticos profissionais que enfim... chegaram ao executivo do Estado Burguês!

PSOL e “PT das origens”

De fato há setores da esquerda que querem reeditar o PT. O PSOL, com o qual temos constantemente discutido fraternalmente em diversos números desse jornal, reivindica o “PT das origens” programática e organizativamente. O PSOL, com seu programa centro-esquerdista que já criticamos em outros jornais, sequer pode expressar o que de melhor havia nas “origens” do PT, que era fruto da efervescência do movimento operário dos 80. Se desde as origens, em meio a um ascenso operário, os parlamentares e intelectuais pequeno burgueses do PT conseguiram levar todo o partido para o beco sem saída da conciliação de classes, o PSOL, fundado em base a acordos de cúpula, não pode ir por outro caminho se não se liga aos trabalhadores, seus sindicatos e organi-zações de base. Isso está para além da boa vontade de qualquer militante do PSOL.

Ainda que não tenhamos acordo com as propostas do PSOL, achamos central o debate com os companheiros que tem buscado se apresentar como alternativa político-partidária para setores mais amplos. O problema é que o que se apresenta não responde nem mesmo aos setores que hoje vêem o PSOL como alternativa. A recente pesquisa divulgada sobre a votação que teria Heloísa Helena em futuras eleições mostra a responsabilidade que os companheiros têm frente ao processo que se estende de rupturas com o governo Lula e o PT. Está demonstrado que há um setor onde se apoiar para dirigir-se aos milhões de trabalhadores e jovens em todo o país que ainda mantém suas ilusões no PT e em Lula.

O PSOL, da forma como vem se constituindo, mantém as massas órfãs de uma alternativa política real. É necessário que o PSOL, com a responsabilidade que deve ter e espaço político que tem, levante junto conosco essa alternativa que só pode ser a de um grande partido operário independente. Se o PSOL, com uma figura pública de peso nacional como Heloísa Helena e com todos os sindicatos que dirige fizesse um chamado a esse partido, com milhares de trabalhadores, centenas de sindicatos e com liberdade de tendências (distinto do “pluralismo” pseudo-democrático do PSOL de hoje), seriam os primeiros passos para a esquerda superar o muro que há hoje entre a vanguarda que já rompeu com o governo Lula e o PT e as massas que continuam em um mar de ilusões.

Trotsky, o Partido Operário Independente e o PSTU

Esclarecido o problema da “reedição” do PT, vamos então às falsificações teóricas feitas na tentativa de desqualificar nossa proposta como um invento sem fundamentos.

Dedicamos aqui algumas linhas a uma referência histórica às discussões realizadas por Trotsky com os dirigentes trotskistas do SWP norte-americano sobre o “Partido Operário Independente” . Depois de ter se oposto à proposta de um partido deste tipo em 1932, Trotsky aconselhou ao SWP levantar audazmente a luta por um partido operário em 1938. Considerou que a proposta de Partido Operário (que estava dirigida aos sindicatos) era uma “moção especial” do Programa de Transição, que os trotskistas deviam defender nos sindicatos, partindo do fato de que a evolução da crise norte-americana avançava mais rapidamente do que o crescimento evolutivo que poderia ter o SWP. Este tinha ao redor de 1.500 militantes frente a uns 60.000 com que contava o Partido Comunista, e apesar do peso que havia adquirido entre os setores militantes dos sindicatos não contava com a suficiente autoridade política para chamar massivamente os trabalhadores a se unirem a suas fileiras.

Ao contrário, colocar no centro de sua política a luta por um partido operário podia permitir ao SWP aumentar sua influência sobre o conjunto dos trabalhadores fazendo uma experiência comum com seus setores mais avançados: “a decadência do capitalismo se desenvolve de dez a cem vezes mais depressa que nosso partido... A necessidade de um partido político para os operários têm origem nas condições objetivas, mas nosso partido é pequeno demais, com autoridade demasiado reduzida para organizar os operários em suas próprias fileiras. Por isso devemos dizer aos operários, às massas: Vocês têm que ter um partido. Mas não podemos dizer imediatamente a estas massas: Vocês devem unir-se ao nosso partido. Em uma reunião de massas, 500 pessoas estariam de acordo com a necessidade de um partido operário e somente cinco teriam acordo em unirem-se a nosso partido, o que demonstra que a consigna de um partido operário é uma consigna agitativa. A segunda consigna é para os mais avançados” 1. Ademais, Trotsky considerava que o potente movimento da CIO que se havia desenvolvido nos anos anteriores se encontrava em um impasse que só podia ser superado pela elevação dos trabalhadores à luta política por meio da constituição de seu próprio partido.

Abria-se assim a possibilidade de que, fazendo a moção concreta da formação de um partido operário, baseado nos sindicatos, os trotskistas pudessem utilizar o impulso dos trabalhadores de organizarem-se de forma independente, expresso na pujante central sindical CIO, para construir um partido revolucionário.

Como pode-se ver o PSTU, que se reivindica trotskista, contra Trotsky, prefere seguir com uma tática evolutiva de construção desproporcional com a realidade nacional. É sabido que o PSTU tem um importante peso sindical. É sabido também que seu peso eleitoral é seu peso sindical dividido por mil e seu peso político, menor ainda. Os militantes do PSTU tem hoje uma enorme responsabilidade e se encontram em uma encruzilhada: ou levantam uma alternativa políticopartidária muito superior ao PSTU como é o Partido Operário independente dirigido pelos trabalhadores a partir dos sindicatos e organizações de base, ou seguem confiando na sua direção, que por seu centrismo, que dedicamos um artigo a parte nesse jornal para discutir, não pode levar esse partido a se ligar ao movimento de massas.

Partido Operário Independente e Partido Revolucionário

Só a luta por uma partido operário independente é capaz de unificar as forças das distintas correntes que se reivindicam marxistas em torno a um objetivo comum de acabar com o fosso hoje existente entre o marxismo e as massas. Um movimento amplo como esse seria o espaço necessário para fazer o debate aberto, fraternal e democrático entre as distintas estratégias, o programa e táticas que cada organização apresenta, sem os restritos limites das organizações políticas hoje existentes. Só um movimento como esse, não para um debate fechado e de cúpula entre as correntes, mas com uma ampla participação de trabalhadores e organizações de base, será capaz de fazer avançar em uma recomposição da estratégia revolucionária do proletariado e na construção de um Partido Revolucionário de Trabalhadores. É o que pode assentar as bases para a construção de uma organização marxista revolucionária capaz de combater conseqüentemente os reformistas e conquistar a hegemonia dos trabalhadores e de um programa operário e independente.

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