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Consulta para REItor da Unicamp: as duas faces da universidade de elitista, repressiva e excludente!

28 Mar 2013   |   comentários

Nas últimas semanas a Unicamp, uma das mais importantes universidades da América Latina, recordista nos indicies de produção de patentes e no topo dos rankings internacionais de produtividade, passou pelo anti-democrático processo de “consulta” para Reitor. Ou seja, um momento onde se decide quem será responsável por levar a frente o atual projeto de universidade: elitista, privatista e repressivo. O termo “consulta” já escancara sua contradição, após finalizado o processo uma lista tríplice com os nomes mais votados é apresentada ao governo do Estado de São Paulo que irá escolher aquele que mais se adéqua ao seu perfil. Para além disso, o peso político de cada categoria é diferente de acordo com a posição que ocupa na universidade. Mesmo sendo minoria dentro da universidade os professores possuem 70% do peso de votos, enquanto estudantes e trabalhadores, a esmagadora maioria, possuem apenas 15% respectivamente. Ou seja, é um sistema eleitoral que consegue ser mais retrógado do que a carcomida democracia burguesa onde cada cabeça vale um voto.

A consulta que acaba de ocorrer teve um caráter político distinto das anteriores, onde não só dois candidatos foram para o segundo turno, mas também porque setores da universidade organizaram uma campanha para a chapa de um dos candidatos como uma “alternativa” para uma universidade “mais democrática”. No segundo turno se apresentaram: Mario Saad, continuidade direta da reacionária gestão de Fernando Costa, ligada ao projeto repressivo e privatizante do atual CRUESP, que prendeu os 72 estudantes e trabalhadores da USP, profundamente atrelado ao PSDB no estado de São Paulo; e Tadeu Jorge, membro da FIESP, que quer aparecer como suposto "linha leve", mas que, quando reitor em 2007, orquestrou a derrota do movimento estudantil com falsas promessas e uma comissão punitiva contra 5 estudantes que participaram da greve, abrindo sindicâncias que só foram barradas graças à mobilização estudantil, além de estar a frente da REItoria quando a Unicamp demitiu 600 trabalhadores terceirizados FUNCAMP. Se apoiando na grande greve que os trabalhadores da Unicamp fizeram em 2011 por isonomia salarial, Tadeu se utilizou dessa bandeira para capitalizar de maneira oportunista um grande descontentamento que existe na categoria com o atual REItor. Diante desse cenário consideramos um equívoco chamar voto crítico em qualquer uma das candidaturas, sendo necessário que levantássemos desde o começo um grande debate sobre a verdadeira face de cada um dos candidatos, pois consideramos que ambas seriam a manutenção dos pilares do atual regime universitário.

Creditando ilusões ao discurso do “mal menor” setores da comunidade acadêmica fizeram uma campanha pelo voto crítico na chapa de Tadeu, inclusive com professores da humanas escrevendo chamados em seu apoio. Dois importantes intelectuais de esquerda organizaram um debate em apoio a Tadeu no IFCH, Plininho e Ricardo Antunes partiram de questionar a privatização da universidade pública, a terceirização, com grande parte do debate centrado em tentar convencer os estudantes de que este REItor não reprime, que seria o REItor do dialogo e menos reacionário que o seu competidor. Para além de semear ilusões em um candidato que adota em seu programa o apoio e a difusão de políticas como o Inova (projeto da Reitoria que busca submeter cada vez mais as pesquisas da universidade aos interesses da iniciativa privada) e a Funcamp (fundação privada que abriu portas para terceirização na universidade) optaram por candidatos que atuam por dentro de um regime que herda sua estrutura de poder dos tempos da ditadura militar. No último período a atual estrutura de poder da universidade já se mostrou plenamente funcional para reprimir todos aqueles que questionam o atual projeto de universidade e apoiar seus métodos de “consulta” por fora de um questionamento de sua face autoritária significa legitimar aos olhos da universidade os estatutos herdeiros dos anos de chumbo da ditadura.

Com 53, 32% Tadeu se reelegeu fazendo com que esse resultado recobre as tarefas políticas de clarificar de que lado estará Tadeu Jorge. Ainda que esse resultado expresse fissuras dentro da burocracia acadêmica, sabemos que são as duas faces do mesmo projeto, se dividindo apenas pelos interesses particulares de cada fração da burocracia em disputa. Não há dúvida que a REItoria que foi condenada a devolver mais de meio milhão de reais aos cofres públicos, configurando um escandaloso ato de corrupção, é um prato cheio para esses setores que são os rapinadores da universidade pública. Por isso não podemos creditar a menor confiança em qualquer uma de suas alas.

Não podemos ter nenhuma ilusão de que, elegendo o REItor "mal menor", vamos ter algum avanço. O mundo não é feito só de duas opções por dentro do regime: a terceira via, dos estudantes, trabalhadores e professores auto-organizados, independentes, e em luta contra o projeto da REItoria, é a única forma de conseguirmos que a Universidade produza conhecimento para a população e não para empresas; de ir contra o PIMESP, projeto racista e precarizante; fazer com que a Universidade não se erga sob trabalho escravo terceirizado, mas sim que estes sejam incorporados ao quadro efetivo de funcionários com o mesmo salários e direitos; e contra a repressão que quer nos calar. Abaixo o conselho universitário e a estrutura de poder repressiva! Por uma assembléia estatutária que ponha fim ao regimento da ditadura e construa um governo tripartite (estudantes, funcionários e professores) eleito por sufrágio universal, onde faça valer a real composição e interesses da universidade. Nessas eleições chamamos voto nulo programático e agora iremos nos preparar para enfrentar os ataques que virão pelas mãos de Tadeu Jorge.

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