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Juventude

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Chapa “Da Faísca ao Incêndio” é eleita no CACH

11 Dec 2013   |   comentários

Numa campanha para retomar a tradição de combatividade do CACH, a chapa “Da Faísca ao Incêndio” (Juventude as Ruas e independentes) ganhou de 131 a 117 votos da chapa “Sobrevivência” (JUNTOS/PSOL e independentes)

A afirmação que pós “Jornadas de Junho” a subjetividade da juventude mudou no sentido da maior politização e questionamento se comprovou, em um importante exemplo, nas eleições do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp (CACH). A resposta à nova situação nacional também toca a necessidade maior da organização política da juventude sob idéias revolucionárias, com entidades estudantis que estejam a serviço organizar os estudantes para a luta.

Numa campanha para retomar a tradição de combatividade do CACH, a chapa “Da Faísca ao Incêndio” (Juventude as Ruas e independentes) ganhou de 131 a 117 votos da chapa “Sobrevivência” (JUNTOS/PSOL e independentes) – com míseros 21 votos para a chapa da antiga gestão, praticamente toda composta por militantes do PSTU. Um resultado saudado por vários estudantes como “uma mudança de acordo com a nova conjuntura nacional”, que elogiavam e se sentiram representados como parte integrante da mudança do instituto.

Triunfou um programa que se dá o desafio de responder a nova situação nacional, se ligando a juventude que está fora das universidades e aos trabalhadores para subverter o caráter de classe elitista que tem a educação superior publica no Brasil, colocando-a a produzir conhecimento voltado às reais necessidades da população trabalhadora, lutando para que esta esteja nas salas de aula, laboratórios e bibliotecas. Para isso, um programa que questione o estatuto universitário e seu reitorado privilegiado, convencendo cada estudante que não precisamos dessa casta burocrática, mas sim que eles mesmos junto aos trabalhadores e professores podem por fim ao estatuto herdeiro da ditadura militar e elaborar seu próprio segundo as idéias daqueles que realmente constroem a universidade.

Esse ano na Unicamp passamos, como desdobramento interno à universidade das explosivas manifestações em junho, por uma forte greve com ocupação de reitoria que reacendeu o movimento estudantil sob seus métodos históricos. Esse processo acelerou a experiência dos estudantes com as atuais direções das entidades, no qual a eleição do CACH foi um dos pontos mais altos dessa experiência. A chapa da Juventude as Ruas e independentes ganhou mostrando que os estudantes querem se ligar a grandes idéias. Diferente da velha tradição, cética em relação aos estudantes, que sempre repetem: “para dialogar é preciso tratar de pequenas coisas de forma corporativa”, essas eleições mostraram que as idéias revolucionárias tem a capacidade de organizar muitas pessoas, dialogando com suas reais necessidades ligando cada problema imediato ao questionamento da estrutura da universidade para a da sociedade. Ou seja, as eleições materializaram a vontade dos estudantes de fazer o movimento estudantil voltar a fazer história.

Do processo eleitoral e a necessidade de democratizar as entidades

Isso em um processo eleitoral dos mais politizados e com maior quorum em anos (278 votos em três dias – equivalente a 40% do curso votando no final do ano), mostrando no resultado o anseio dos estudantes de fazer política, rechaçando tanto as entidades autonomistas sem nenhum programa e objetivo quanto as entidades de aparato, desvinculadas da base estudantil. Por isso é necessário que o movimento estudantil levante a pauta da proporcionalidade na gestão, um dos principais debates nas eleições, não só como forma organizativa, mas sim porque atende a uma necessidade política dos estudantes se experimentarem com as diversas concepções de entidade, num ano em que é ainda mais urgente que todos saibam que concepção vai levar os processos a vitórias reais, e quais vão desviar, abandonar ou trair abertamente as lutas para manter seus próprios interesses como gestão. Bem como impede que uma mesma gestão fique anos se burocratizando dentro da entidade, afastado dos estudantes e impedindo que estes sejam sujeitos da política.

Uma das lições que podemos tirar de Junho, e mesmo nos processos de greve e ocupação, é que as principais entidades do país não serviram a organização dos estudantes. Na Unicamp a mesma corrente Domínio Púbico ligada ao PSOL, dirige o DCE há 13 anos integrados ao regime universitário, foram incapazes de fazer uma assembléia para articular os estudantes a sair as ruas. Pelo contrario, mantém uma concepção de usar do aparato para promover os próprios interesses, como ala esquerda do regime sem se chocar diretamente com este e assegurando assim sua posição na entidade, enquanto gestão a passividade no movimento estudantil, levando algumas pautas de maneira corporativista desligadas da discussão política ampla do projeto de universidade, usando dessa pequena política para ganharem as eleições sob pautas rebaixadas. As consequências dessa concepção burocrática de entidade se expressam no conteúdo de sua política: votaram por acabar com a ocupação da reitoria e colocar fim a um movimento em plena dinâmica que chegou a mais de 20 cursos entre greves e paralisações, freando a possibilidade de se unificar com os processos de luta nacionais em curso no momento, como a greve de professores do Rio, trabalhadores petroleiros nacional e a greve da USP.

É esse tipo de entidade que os estudantes do IFCH optaram por superar a proposta da proporcionalidade. Essa conclusão foi tirada após três anos de esfacelamento das gestões: em 2011 e 2012, foram gestões autonomistas que desligando a pauta de vivência da luta contra a reitoria e o regime universitário acabaram por não levar nenhuma das duas e as gestões se dissolveram em meio ao mandato. Neste ultimo ano o PSTU foi o continuador da passividade pelo vértice oposto, o da esquerda eleitoreira, cumprindo o papel de esvaziar o espaço e se adaptar a reitoria, na medida em que a gestão do PSTU no centro acadêmico não levou a necessidade da unificação das lutas, se abstendo de ser o fator determinante para trazer o espírito de combate da juventude em junho para dentro da universidade. Sem contar que recuaram diante do esvaziamento de idéias e de vivência que a Reitoria vem impondo, proibindo festas, intensificando a pressão acadêmica e a militarização do campus. Ao contrario disso priorizaram construir outro coletivo que os alçassem para disputar as eleições do DCE, abandonando o CACH, e evidenciando a concepção de entidade que defendem: um aparato eleitoreiro desligado das bases. Essa concepção foi amplamente rechaçada pelos estudantes, recebendo apenas 21 votos.

Contudo, figurava outra chapa “Sobrevivência”, com o JUNTOS aproveitando oportunísticamente de um sentimento em junho de rechaço às organizações tradicionais e burocráticas, tentaram aparecer como a chapa dos “novos métodos”. Ou seja, a “velha prática reformista” disfarçada de novidade, tudo para se manterem nos aparatos, tanto no DCE se ligarem ao mesmo grupo que há 13 anos burocratiza a entidade, até se disfarçarem com distintos graus de autonomismo. Ocultando aos estudantes que não há nada de “novo” na corrente que dirige as duas principais entidades do país, os DCEs da USP e da Unicamp, donos de um amplo rechaço na USP por serem os artífices de inúmeras derrotas na universidade e a completa prostração frente à Reitoria de Rodas.

Um programa revolucionário capaz de organizar nacionalmente a juventude.

Por isso, foi levado pela chapa “Da Faísca ao Incêndio” a necessidade de superar essas correntes burocráticas que entravam o movimento estudantil. Resgatando o histórico do CACH como fator político na cidade, respondendo dos fatos locais até os acontecimentos políticos nacionais e internacionais, um centro acadêmico que incendeie a vida política e cultural do IFCH e organize os estudantes a serem aliados estratégicos dos trabalhadores. Servindo como um pólo de combate à Reitoria, lutando contra seu projeto de militarizar a universidade que coloca a policia dentro do campus - estopim da luta de 2013 - ligado ao repudio a policia nas favelas, bairros, denunciando cada morte da juventude negra. Pela necessidade da democratização radical do acesso com o fim do vestibular, e que cada estudante das escolas privadas saibam que o CACH é um aliado na luta contra a educação paga, pela estatização dos monopólios da educação. Que cada LGBTTI e mulher possam atuar politicamente no conjunto das decisões do ME e da universidade e sejam linha de frente, com todo o apoio do CACH para por um fim na opressão. Precisamos de entidades proporcionais, democráticas e combativas a altura dos desafios de 2014.

Para isso é necessário que o movimento estudantil rompa fronteiras da universidade e se nacionalize, e o CACH pode ser um fator nesse processo junto a outras posições conquistadas sob as idéias da Juventude as Ruas como o CAFCA na UFMG e o grêmio A-90 na escola Américo Brasiliense no ABC Paulista. Essa é uma discussão central para o movimento estudantil: queremos construir fortes calouradas já na perspectiva de avançar as bases para os desafios que teremos no movimento estudantil nacional no próximo ano, de Copa do Mundo no Brasil. Resgatar as demandas de junho, que na luta que explodiu a partir do transporte público, pudemos levantar o programa de estatização sob controle dos trabalhadores e usuários. Devemos retomar com força essa campanha e, munidos de programa, das lições de junho e do anseio por construir fortes entidades democráticas e ligadas as principais lutas é que nos preparamos para 2014.

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