Segunda 29 de Abril de 2024

Nacional

Brasil: a falácia dos “fundamentos sólidos” da economia

05 Jun 2006   |   comentários

O mais simples anúncio de possibilidade de mudança na tendência da economia mundial desnudou a debilidade estratégica da economia nacional, que apesar de ter crescido a índices mais modestos se comparada a de outros países da América Latina, manteve ao longo dos últimos anos uma relativa estabilidade. Apesar do PIB ter apresentado uma queda no final do ano passado, e do crescimento menor em nos último ano e meio se comparado à 2004, o fato de que não tenha havido crise económica, mas pelo contrário crescimento, acabou sendo um dos elementos mais fundamentais para a sustentação do governo Lula. Basta lembrar que no auge da crise do mensalão, Lula invocava exaustivamente a economia numa tentativa de mostrar quão “positivo” era o seu governo.

Agora, mesmo frente às turbulências que percorreram o mercado nas últimas semanas, Lula manteve o discurso. No ápice do cinismo disse recentemente que a economia “vive um momento mágico” . Em declaração à F. de São Paulo de 11/06/06 afirma: "(...) A gente vivia um certo descrédito, e tivemos que fazer um governo no primeiro ano muito duro. Posso estar vivendo, neste dia 10 de junho de 2006, com uma alma mais branda e feliz, porque finalmente estamos numa situação sólida." Com esta declaração Lula quer fazer crer que os ataques aos trabalhadores e ao povo brasileiro desferidos com a aplicação das medidas neoliberais, que só não avançaram mais por conta dos escândalos abertos há um ano, foram necessários para “estabilizar” a economia. A grande questão é que além de se basear sobre os ataques às condições de vida do povo, se trata de uma estabilidade falaciosa, na medida em que está baseada no aprofundamento da submissão ao imperialismo.

Basta um olhar rápido sobre a situação que se abriu frente aos sinais dados pelo imperialismo em mudar sua política económica, que por ora não chegaram a se reverter em nenhuma alteração de fundo, para constatar que não há nada mais disparatado e cínico que falar em “situação sólida” da economia brasileira em termos estratégicos. Nas semanas de maio em que estiveram colocadas as ameaças de ajustes na economia norte-americana o dólar foi a R$ 2,40, tendo uma valorização de 16,45% em relação ao real. Uma possível aceleração das tendências à subida da moeda norte-americana acabaria resultando no aumento do preço das importações, o que no plano interno se traduziria por crescimento da inflação.

Outro elemento que mostra esta instabilidade se fez presente na queda da Bovespa, que atingiu 3,28%. Isto é fruto da diminuição dos investimentos dos especuladores estrangeiros, que têm acumulado fortunas nas bolsas brasileiras graças aos juros altos dos últimos anos, mediante as incertezas abertas na economia nacional. Se as taxas de juros dos EUA aumentarem, estes especuladores retirarão grande parte de seus ativos do Brasil para investirem na economia norte-americana. Isto provocaria uma grande queda nos índices das bolsas, e como conseqüência direta a desvalorização das ações e títulos das empresas brasileiras. Por fim, o índice risco-país também teve alta de 30 pontos durante estas semanas.

Tudo isso traz à tona que a economia brasileira está complemente à mercê das vicissitudes do imperialismo, que mantém sua dominação explorando e exportando suas crises para as semicolónias. E que Lula ao longo de todo o seu governo atuou no sentido de aprofundar esta submissão. Na prática isto se traduz em ataques diretos aos trabalhadores e às massas, que o governo capacho de Lula chama de medidas necessárias para criar a “solidez” da economia.

Ainda é cedo para traçar prognósticos mais fechados. No entanto, podemos afirmar com toda certeza que se houver uma mudança substancial na economia nacional abrir-se-á uma nova situação. Isto poderia aprofundar a crise do regime existente, e enfraquecer um provável segundo governo de Lula. Resta saber se poderia inaugurar um período mais convulsivo no terreno da luta de classes, fazendo com que os trabalhadores irrompessem na cena política ’ elemento ausente no último período ’, motorizando uma nova ofensiva da vanguarda, o que decididamente transformaria em profundidade a situação.

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