Terça 7 de Maio de 2024

Nacional

(quinta-feira, 13 de janeiro) DIRETO DE TERESÓPOLIS

As primeiras impressões de uma cidade em trauma

13 Jan 2011 | Diante da situação calamitosa que se encontra toda a população da região serrana do Rio de Janeiro, enviamos Vinicius Pena como correspondente da LER-QI a Teresópolis para acompanhar esta situação e oferecer nossa solidariedade.   |   comentários

  • Estádio lotado de desabrigados
  • Onipresente aviso de comércio fechado por mortes

Diante da situação calamitosa que se encontra toda a população da região serrana do Rio de Janeiro, enviamos Vinicius Pena como correspondente da LER-QI a Teresópolis para acompanhar esta situação e oferecer nossa solidariedade.

Dos poucos passageiros do ônibus de origem carioca com destino a Teresópolis, todos voltam em decorrência da tragédia que já beira os 500 mortos na região serrana. Gustavo, estudante que mora no Rio se apressou em estar próximo da família depois de um grande susto. Roberta ainda não sabe se foi só um susto, o tio reside num dos bairros atingidos e ainda não teve notícias dele.

O primeiros minutos de quem chega ao centro de Teresópolis pode enganar um visitante desatento, com o clima pacato, o pequeno comércio aberto, carros circulando nas ruas, porém, logo uma sirene de ambulância corta o silêncio. Elas se multiplicam minuto após minuto. Os moradores observam atônitos, pasmos, numa angustia e preocupação constantes.

Aglomerados nas ruas em pequenos grupos conversam, tentam trocar informações sobre a catástrofe da madrugada anterior. A cada nova informação, a cada novo relato, um novo espanto. Os moradores buscam ao celular informações sobre amigos e parentes, por conta do período sem luz, telefone e internet, só agora conseguem passar e dar notícias. Muitas não são boas. A senhora que fala ao celular na esquina chora compulsivamente ao saber que um parente próximo seu está entre os frios números oficiais do governo que não param de aumentar e só é interrompida por um desmaio. É comum encontrar na rua pessoas chorando com notícias recentes.

É notável em primeira impressão que tamanha tragédia e sofrimento não são proporcionais ao aparato do estado destinado ao resgate. Vê-se poucos bombeiros, e é impossível não fazer a contraposição com a quantidade de aparato repressor destinado a repressão e ocupação nos morros cariocas. É na negligência impotente e covarde dos governantes burgueses que a própria população, entre esses os próprios sobreviventes e parentes das vítimas, heroicamentente mostram sua solidariedade. O que mais se vê são voluntários, que organizam a coleta dos mantimentos, ajudam na organização do trânsito e realizam os primeiros socorros, é bastante comum ver moradores voltando das regiões atingidas sujos de lama até a cintura. Vários trabalhadores se recusaram a seguir sua rotina cotidiana de trabalho, e faltaram ao trabalho para ajudar nos resgates, como nos contam vários relatos que pudemos observar.

Logo no início do percurso que se destina aos bairros mais atingidos já é possível ver o sinal da destruição, encostas inteiras desabaram e levaram algumas casas, não sobrou muita coisa. Mesmo com a dificuldade e o perigo do acesso, uma verdadeira peregrinação ocorre durante o percurso, de um lado pessoas voluntárias que se destinam aos locais mais atingidos com a intenção de ajudar no resgate, do outro vitimas que só agora conseguem sair, muitos só com a roupa do corpo sujas de lama, pés descalços, com o que restou de suas famílias e muitas expressões de dor e desespero de quem teve muitas perdas, teve que tirar seus próprios parentes mortos da lama e agora não tem para onde ir.

A chuva aperta e a tensão aumenta. São inúmeras casas em regiões de risco. Muitos moradores se recusam a sair, já estão sabendo que o governador e o prefeito vão os “ajudar” com míseros 350 reais de aluguel social e frente a isso não querem deixar o que construíram a duras penas em uma vida inteira. Têm gente que ainda mantém em suas lembranças as recentes experiências no Morro do Bumba e sabem como qualquer um, menos os governantes que sobrevoam o local como urubus sobre a carniça, que não podem sobreviver com essa mixaria. No mesmo caminho uma vítima suja de lama indignada soca o mato na beira da estrada e grita raivosamente: “ eles que ponham os 350 na bunda!” A mesma raiva e indignação de Moacir, vítima que perdeu tudo e está abrigada no ginásio Pedrão no centro da cidade, que ao lhe perguntarmos sobre o que opinava em relação ao 350 reais de aluguel social, não conseguiu continuar seu depoimento, e lágrimas de tristeza e indignação lhe brotaram dos olhos, e calou-se com um grito interno que pareceu-se ouvir em toda a cidade.

É preciso que se grite em cada lágrima, em cada dor, cada morte, em cada vida perdida quem são os verdadeiros culpados: Lula!Dilma! Cabral! Jorge Mário Sedlacek os respectivos prefeitos e todos os governantes e representantes desse capitalismo putrefato que só pode preparar novas tragédias!

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