Quinta 2 de Maio de 2024

Internacional

As contradições imperialistas no Oriente Médio

06 Jul 2003   |   comentários

A ocupação militar no Iraque pela coligação imperialista anglo norte-americana tem mostrado todas as contradições de uma região convulsionada que longe está de ser pacificada. O surgimento de mobilizações massivas cada vez mais constantes dos xiitas e de outros setores da população, o aparecimento de uma resistência mais organizada em diversas regiões do Iraque contra a ocupação militar, e a incapacidade de montar um governo que tenha algum grau de legitimidade mostram o grau de tensões políticas que enfrentam os países imperialistas. Ao mesmo tempo, as pretensões imperialistas de rede-senhar o mapa do Oriente Médio têm encontrado novos flancos de conflitos como crise aberta no Irã, onde o imperialismo pressiona com maior intensidade para submeter o regime de Teerã aos desígnios norte-americanos com os mesmos argumentos com que avançou sobre Bagdá.

O recrudescimento da situação na Palestina, em que o novo plano de "paz" não conseguiu sair do papel, conforme abordado em matéria nesta edição, constitui mais uma expressão da resistência das massas aos planos dos EUA.

Após um começo relativamente tranqüilo, marcado pela capitulação do exército de Saddam Hussein e pelo término antecipado da guerra, a ocupação imperialista no Iraque começou a enfrentar sérios problemas. De fato, já a partir dos primeiros dias da ocupação, setores importantes das comunidades xiitas desenvolveram uma onda de passeatas contra a ocupação com consignas como "Abaixo EUA", "Abaixo Israel" e com a exigência de uma nação islâmica que afronta diretamente os objetivos dos ocupantes, provocando receio quanto a suas repercussões na população local. Receio justificado, pois esta onda de protestos, ao invés de diminuir, tende a elevar-se a nível nacional, o que pode constituir um sério desafio à ocupação e ao modelo estatal que os Estados Unidos e a Inglaterra querem impor.

A incapacidade dos EUA para apreciar a força das aspirações xiitas e a subestimação de sua fortaleza orga-nizativa, constituem umas das principais falhas políticas em seus planos de pós-guerra. A reiteração de incidentes que vêm se acentuando desde a manifestação de cidadãos que exigiam a retirada das tropas em 28 de abril, que terminou com a matança de 13 civis e dezenas de feridos diretamente pelo exército norte-americano, tem agravado enormemente o clima entre a população e as forças de ocupação. No passado 1º de maio, o presidente Bush, declarou como concluídas as operações militares. Porém, desde essa data, meia centena de soldados americanos caíram em diversas ações em distintos pontos do território, e pelo que tudo indica, esta situação tende a se aprofundar, produto da resistência cada vez mais aberta por parte dos iraquianos contra as tropas de ocupação. Há poucos dias, o imperialismo norte-americano lançou uma nova operação militar denominada "Operação Escorpião" contra o que eles chamam de "os leais ao partido Baath, as organizações terroristas e os criminosos". A ofensiva tem sido furiosa com violentas repressões sobre a população e assassinatos seguidos.

As perseguições políticas contra quem se opõe à ocupação têm aumentado. Novos grupos de resistência militar têm surgido e procurado apoio popular contra os invasores. Entre eles, destaca-se a nova organização autodenominada "Brigadas de Resistência Iraquianas", que se adjudica todas as operações de combate que têm se desenvolvido contra os norte-americanos e, segundo um comunicado, desligou-se do regime de Saddam Hussein porque este "contribuiu para a perda da pátria e para agravar suas feridas".

As diversas ofensivas militares norte-americanas contra a população têm deixado centenas de iraquianos mortos. A inoperância dos EUA para dar melhorias às condições dramáticas de vida da população, a incapacidade de manter a administração pública garantindo seus salários, a repressão brutal dos protestos, a matança indistinta de civis por parte do exército, junto a sua inabilidade para montar um regime com alguma credi-bilidade, tudo isto tem aumentado a oposição iraquiana à ocupação.

Tudo demonstra que os Estados Unidos não conseguem transformar sua decisiva ação militar no exercício de um efetivo controle da população. A desmoralização que a rápida queda de Saddam Hussein provocou pode agora dar lugar a um crescente ódio e a um aumento da resistência. No Iraque podemos começar a observar o clássico cenário de ocupação militar colonial em que surgem fortes resistências organizadas apontando a uma luta de libertação nacional.

A situação no Irã, com protestos de estudantes universitários e de setores da classe trabalhadora contra o regime corrupto do governo dos aiatolás, junto às ameaças dos EUA de ocupar este país se este não se submete a seus desígnios, transformam-no em um outro front candente da instável região do Oriente Médio. Mas o imperialismo, apesar das novas contradições que pode abrir uma nova aventura militar sobre o Irã, está tramando novos planos para derrubar o regime dos mullah. Em momentos em que está saindo à tona a fraude completa montada para invadir o Iraque, os EUA estão tratando de mon-tar novas falsificações para invadir o Irã.

Nos meses que virão o movimento de resistência no Iraque lutando contra a ocupação norte-americana, estará combinado com as lutas da Intifada palestina pela sua auto-determinação nacional, ao que se pode somar uma resposta de massas a qualquer ação tomada pelos EUA contra o Irã. É da constatação desta perspectiva que as massas oprimidas do Oriente Médio devem extrair forças para afrontar os inevitáveis combates e enormes sacrifícios que lhes imporá o imperialismo na sua ofensiva neo-colonialista.

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