Domingo 28 de Abril de 2024

Nacional

A economia brasileira e a crise financeira internacional

Absoluta normalidade?

17 Aug 2007   |   comentários

Enquanto a crise financeira iniciada no mercado imobiliário norte-americano se estende, obrigando os BC”™s da Europa a liberar seus recursos para garantir liquidez, o presidente do Banco Central brasileiro Henrique Meirelles se apressou em garantir que esta crise não afetaria o país, pois a economia brasileira estaria “muito mais fortalecida” e passando por um período de “absoluta normalidade” . Os analistas burgueses brasileiros também fizeram coro no discurso de “tranqüilidade” assegurada. Usam como argumento as reservas de dólares acumuladas pelo país no último período, que batem a casa de US$ 150 bilhões, além do câmbio flutuante o que permitiria ajustes no valor do real em relação ao dólar, se a crise norte-americana se estender a economia brasileira como sua dependente pode sofrer golpes. Um elemento chave diz respeito à possibilidade de uma queda nas taxas de consumo da população norte-americana, pois se esta passar a ter mais dificuldades para se endividar à partir da restrição á concessão de crédito e financiamentos a demanda por produtos de diversos tipos e, sobretudo de bens duráveis com valor agregado poderá cair.

O problema é que hoje os EUA importam um volume bastante alto deste tipo de bens da China. Isso levaria a China a ter que reduzir sua produção, para evitar assim uma crise de superprodução, já que não teria a quem vender, por um lado, e por outro seria uma pressão para a queda do preço de diversos produtos no mercado mundial. Num plano mais em médio prazo isso poderia afetar a economia brasileira que, diga-se de passagem, tem crescido inclusive abaixo da média latino-americana com uma média que não ultrapassa os 4% ao ano, índice mantido às custas da alta valorização das chamadas commodities, que são produtos básicos e de amplo consumo tais como a soja e o petróleo, cujos preços são definidos internacionalmente. Se a crise norte-americana provocar uma queda no volume de exportações que o imperialismo realiza com a China, é provável que a demanda de exportações de commodities brasileiras por parte daquele país caia, o que abalaria um dos pilares da economia brasileira hoje.

Isso significaria, como sempre no capitalismo, que os patrões tentariam descarregar a crise nas costas dos trabalhadores, gerando desemprego e mais miséria. Este elemento ainda que não esteja colocado no plano imediato, é importante porque demonstra que a internacionalização da economia, hoje uma realidade inquestionável, leva a que uma crise de proporções nos EUA, principal imperialismo que mantém esta posição exportando suas crises, traria reflexos a todo o mundo, e que o atual crescimento das economias latino-americanas estão longe de serem independentes, pelo contrário se dão no marco de uma brutal dependência em relação ao imperialismo e a outros países como a própria China. Assim, o discurso de Lula de que “isso é problema dos Estados Unidos e dos bancos americanos", não convence sequer membros de seu próprio governo, já que o próprio ministro da fazenda Guido Mantega teve que admitir que se a crise persistir o “valor das commodities poderia cair” .

Por outro lado, há que ressaltar que um dos recursos que tranqüiliza a burguesia neste momento é o de uma possível intervenção no real, que segue muito valorizado, como medida para fazer frente às oscilações da moeda norte-americana. O que eles não dizem é que esta medida seria uma nova via para descarregar nas costas dos trabalhadores e das massas a crise económica, pois no caso de uma desvalorização do real diminuiria o poder de compra dos salários, retirando destes a diferença gerada pelos desequilíbrios gerados pela anarquia capitalista. No caso de uma valorização como a que se deu no dia 16 de agosto, tendência que se mantém na visão de uma série de analistas burgueses, com o dólar batendo a marca de mais de R$ 2,00 e acumulando uma valorização de cerca de 7,80% neste mês e 15,1% desde o dia 23 de julho quando se deram os primeiros sinais de turbulência, fato inédito em muito tempo cujo resultado pode ser um aumento da inflação e encarecimento das importações, prejudicando os níveis de consumo em especial das classes médias.

No plano imediato, junto com a valorização do dólar, o mercado financeiro brasileiro também acumulou perdas e sofreu instabilidade, com a queda de 3,19%, totalizando uma perda de US$ 1,264 bilhão em investimento de capital estrangeiro. Isso ocorre porque estes investidores, que muitas vezes especulam com créditos baratos conseguidos no mercado internacional, temendo a conseqüência da crise retiram seus investimentos mais arriscados, como é o caso da maioria dos papéis das semicolonias. Assim, os investidores retiram seus ativos aplicados aqui para elevar sua liquidez e se minimizar perdas frente à crise, cobrindo suas posições no mercado internacional. Isso mostra que a economia, que se por um lado não acumulou altos índices de crescimento se comparado aos outros países latino-americanos, por outro foi um elemento de estabilidade para a situação, passa por um momento de inflexão.

Completa o cenário o fato de que se a crise norte-americana se estende não podemos descartar também que se reduza a concessão de crédito, que no último período também aumentou no Brasil, sendo também uma importante via para manter os índices da economia atuais. Isto poderia levar a uma queda no consumo de bens duráveis.

Apesar de acharmos que seria um erro recair em uma visão catastrofista, há que dizer que a “calma” dos analistas burgueses reside em grande parte em medidas económicas pensadas para descarregar possíveis crises nas costas de trabalhadores e das massas, por um lado, e por outro numa tentativa de colocar a situação económica do país como estável do que poderia, minimizando o caráter dependente da semicolonia. É contra isso que reafirmamos que a classe operária é a única que pode dar um fim à anarquia capitalista e suas crises.

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