Domingo 5 de Maio de 2024

Nacional

Os zigue-zagues do PSTU

A situação nacional não permite oscilações

20 Jan 2005 | Nossa Liga Estratégia Revolucionária vem atuando, conjuntamente com a COMUNA, a JRS e independentes em frente única com o PSTU na Conlutas e na Conlute porque consideramos que o PSTU deu um passo a frente em uma política para a reorganização sindical e estudantil em processo. Pela primeira vez, em 2004, fizemos algumas frentes únicas em eleições estudantis como ocorreu para o DCE da Unesp e da Unicamp e para o CEUPES (Ciências Sociais – USP). Achamos importantíssimos esses passos dados na tentativa de unificar forças daqueles que se reivindicam marxistas revolucionários. Achamos que essas frentes únicas não podem se limitar a isso e devem dar lugar a um debate fraterno e democrático entre a militância. É nesse sentido que escrevemos esse artigo e as outras discussões que colocamos nesse jornal. Nossa corrente internacional surge em ruptura teórica e política com o morenismo, corrente da qual faz parte o PSTU, e temos elaborado vários artigos em polêmica com suas concepções teórico-políticas. Pelo espaço limitado, não vamos aqui escrever sobre esses fundamentos teóricos e programáticos que são as bases das oscilações da direção do PSTU, mas sim, demonstrar concretamente aonde levam essas concepções centristas na forma como a direção do PSTU pensa o governo Lula e a construção do partido. Para isso, confrontaremos a política da direção do PSTU com Trotsky.   |   comentários

Como Trotsky definiu o centrismo

Para Trotsky o centrismo tem como característica fundamental sua proeza em oscilar entre o oportunismo e o sectarismo, que para ele são duas faces de uma mesma moeda. Trotsky diz: “As três tendências do movimento operário contemporâneo ’ reformismo, comunismo e centrismo ’ derivam inexoravelmente da situação objetiva do proletariado sob o regime imperialista da burguesia (...) Assim, as duas correntes fundamentais da classe operária mundial são o social-imperialismo, por um lado, e o comunismo revolucionário, por outro. Entre estes dois pólos há uma série de correntes e agrupações de transição que mudam constantemente de roupa e se encontram sempre em estado de transformação e oscilação: às vezes oscilam do reformismo ao comunismo, outras do comunismo ao reformismo.” E continua: “Justamente por isso as organizações centristas de massas jamais são estáveis nem viáveis.”

Para justificar cada “zigue-zague” , a direção do PSTU vai mudando suas caracterizações de Lula, do PT e do PSOL de acordo com a necessidade e, por inúmeras vezes, dá giros mecânicos nas táticas de construção de partido.

O PSTU e a caracterização do governo Lula e do PT

Primeiro a direção do PSTU dizia que Lula seria o De La Rua, quer dizer o aplicador dos planos dos capitalistas, porém nos congressos e encontros sindicais e estudantis dizia no mesmo período: “congresso em Minas reafirma unidade e classismo ’ Metalúrgicos apóiam candidatos dos trabalhadores” . Essa foi a caracterização que o PSTU fez no seu jornal do indicativo aprovado nesse congresso de determinar o voto indistinto em Lula ou Zé Maria. Mas, afinal, Lula era um De La Rua ou um candidato classista e dos trabalhadores?

A revista Marxismo Vivo n° 6 diz que: “A confirmação da candidatura de Zé Maria à presidência da República e da lista do PSTU só se deu depois de uma dura batalha, de uma campanha por uma Frente dos Trabalhadores encabeçada por Lula, com um vice do Movimento dos Sem Terra (MST) e um programa de ruptura com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a à rea de Livre Comércio das Américas (Alca). Essa batalha foi travada durante mais de seis meses: de setembro de 2001 a abril de 2002.” De fato, a direção do PSTU travou durante meses uma batalha para fazer uma frente com Lula e a direção do MST. Isso se deve ao fato que, para os “teóricos” do PSTU, essa seria a expressão de um governo operário e camponês(!). Hoje, estes antigos aliados do PSTU, “dignos” dessa batalha, estão de braços dados implementando as reformas contra os trabalhadores.

Essa confusão é o que leva a direção do PSTU a chamar o voto em Lula-Alencar no segundo turno, ainda que em seus diversos materiais tentasse ocultar que aquilo significava o voto em setores da burguesia nacional.

Com a chegada de Lula à presidência, a direção do PSTU lança mão de todo tipo de exigências ao governo Lula, que iam desde a exigência de ruptura com a Alca e o FMI ao absurdo de exigir a saída dos ministros capitalistas do governo. Neste então, dizíamos que essa política era oportunista e não fazia mais que alimentar as ilusões das massas em Lula, pois seria impossível que naquele momento as massas impusessem essas demandas pelos métodos da luta de classes ou que Lula e o PT pudessem deixar de lado seu programa capitalista. No entanto, na medida em que vai ficando cada vez mais difícil para o PSTU sustentar suas exigências frente a um governo completamente burguês, subitamente, sem muitas explicações, abandonaram completamente essa política. Atualmente, frente ao processo de rupturas com o governo e a burocracia cutista, quando nós da LER-QI impulsionamos uma campanha de exigência para que a CUT rompa com o governo e o PT e assuma um programa de defesa dos trabalhadores, combinando essa exigência com uma dura denúncia das traições da burocracia, o PSTU diz que somos oportunistas e que apenas fomentamos ilusões na burocracia. Com isso o PSTU quer igualar o governo do PT à CUT? Nós acreditamos realmente que a política de exigências e denúncias à CUT hoje ajuda os trabalhadores a avançarem em sua experiência com a burocracia cutista e com o PT no caminho de recuperar os sindicatos para uma política de independência de classe e demonstramos que há condições objetivas e subjetivas para isso. O PSTU, por outro lado, dificilmente conseguiria demonstrar as condições objetivas e subjetivas para que os trabalhadores impusessem ao governo aquelas demandas através dos métodos da luta de classes naquele momento. Essa é a diferença entre usar uma política de exigência e denúncia para alimentar a confiança dos trabalhadores em suas próprias forças ou para alimentar a ilusão nos governos de conciliação de classes.

As oscilações do PSTU na questão do partido

Após um “entrismo sui generis” dentro do PT, escandalosamente prolongado por mais de 10 anos (!), o PSTU é fundado e vem se construindo de forma evolutiva e adaptada ao PT, atuando como se fosse uma “corrente externa” desse partido. A partir de 2002, o “turbilhão” provocado com a eleição de Lula não fez estremecer somente o movimento sindical e provocar o surgimento do PSOL. O PSTU também buscou se relocalizar com diferentes táticas de construção.

Em maio de 2003, no seu primeiro intento, o PSTU chamou uma “Conferência de Socialistas” conjuntamente com a igreja “progressista” e um vereador do PT de Guarulhos como parte de uma política do PSTU de construir um “grande” partido que unificasse desde a Consulta Popular até a Pastoral Operária! Aqui há uma semelhança nada ocasional com o PSOL, que o PSTU tanto critica hoje, que é a unidade entre reformistas e revolucionários em “coexistência pacífica” . É óbvio que esse intento foi uma falência. Como diz Trotsky, o centrismo não combina com a realidade.

Abre-se então a crise com os parlamentares do PT e, com a possibilidade de uma ruptura nesse partido, o PSTU chamava a fusão de todos esses setores num partido comum, sem qualquer debate estratégico e programático. Na medida em que os parlamentares expulsos começam a esboçar uma política independente do PSTU, este último lança um chamado à construção de um Movimento por um Novo Partido (MNP), já numa tentativa desesperada de se colar no processo de rupturas com o PT e de impedir que fosse para os ares seu projeto histórico de formar um partido com a esquerda petista. Mas os ex-petistas preferiram deixar o PSTU de lado para construir o PSOL, e desde então se transformaram nos piores inimigos do PSTU, comparando até mesmo com partidos burgueses, chegando ao absurdo de fazer uma campanha contra seu direito democrático de legalização. Deve ser difícil para os militantes do PSTU compreender esses zigue-zagues, nos quais os aliados privilegiados de ontem passam a ser os principais inimigos de amanhã. Atualmente, depois do fracasso do MNP, o PSTU empreende um giro abrupto da antiga política oportunista de unidade a qualquer custo com os aparatos e dirigentes reformistas de esquerda para uma política ultra-esquerdista e autoproclamatória de construção evolutiva, como se da “engorda” do PSTU fosse surgir o partido revolucionário!

Passam a se caracterizar como “partido de vanguarda com influência minoritária de massas” . Uma desproporção! É certo que o PSTU cresceu, principalmente em influência sindical, mas como é possível falar de influência de massas com míseros 0,19% dos votos nas eleições. O PSTU, que em algum momento na discussão de um novo partido tinha uma fortaleza tática, agora está cada vez mais em uma crise estratégica.

É necessário lutar juntos por um grande Partido Operário Independente

Com os zigue-zagues da direção, vão se desprendendo do PSTU setores como o “Socialismo e Liberdade” que permaneceram “conseqüentes” com a trajetória oportunista que o PSTU vinha traçando para se unificar com os reformistas de esquerda.

No “Manifesto por um Novo Partido” o PSTU dizia: “Trata-se de enfrentar os desafios da luta de classes no quadro político que se avizinha no país. Nenhum dos setores da esquerda socialista brasileira está hoje em condições de dar conta sozinho desses desafios. A dispersão dos socialistas neste momento, teria conseqüências trágicas. A unidade se impõe como necessidade da nossa classe, e cobra responsabilidade de todos nós.” O que a direção do PSTU diz sobre isso hoje? A “influência minoritária de massas” do PSTU superou esse problema? Definitivamente não.

Já que “nenhum dos setores da esquerda socialista brasileira está hoje em condições de dar conta sozinho desses desafios” , chamamos a “responsabilidade” dos militantes do PSTU para lutarmos juntos pela construção de um grande Partido Operário Independente dirigido pelos trabalhadores a partir dos sindicatos e organizações de base. A situação nacional não permite mais oscilações.

Artigos relacionados: Nacional , Debates









  • Não há comentários para este artigo