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Teoria

DEBATE NA USP

A crise econômica e as perspectivas da esquerda

15 Nov 2008   |   comentários

A primeira intervenção, de Ruy Braga, foi uma exposição geral do significado do período geralmente designado como neoliberalismo, e que ele chamou de “financeirização do trabalho” , que seria uma fase do capitalismo em que a esfera financeira extrapola seus limites e se põe como absolutamente dominante, remodelando todas as relações de produção, etc. Sobre a crise propriamente dita, não desenvolveu muito a análise, deixando o tema para a exposição da profa. Leda Paulani. Sobre as perspectivas da esquerda, remarcou que a crise não levará automaticamente para a revolução; por outro lado, pontuou que podem se abrir espaços à esquerda.

Por sua vez, Leda Paulani contribuiu com uma série de precisões acerca dos conceitos deixados por Marx para compreender o capitalismo em geral, e o capitalismo em seu estágio atual de desenvolvimento em particular, em particular o conceito marxista de “capital fictício” .

Buscou explicar a crise atual como o estouro de uma enorme “bolha” formada pela montanha de capital fictício criada pelo conjunto dos mecanismos da financeirização, e que se mostra impossível de realizar. Concluiu expressando um tom mais cético sobre as possibilidades de resposta dos trabalhadores e movimentos sociais ’ posição que matizou um pouco ao final do debate.

Christian Castillo partiu de mostrar que a magnitude da crise atual pode ser avaliada pelas próprias medidas tomadas para tentar remediá-la, como os pacotes de 700 bilhões de dólares nos EUA, ou de 1,9 trilhão de dólares nos países da UE.
Afirmou que a crise atual combina três planos históricos. É por um lado a crise do último ciclo (2002-2007) de crescimento sincronizado da economia mundial, e da divisão internacional do trabalho que lhe deu sustentação: os EUA atuando como grande consumidor mundial, a China como produtora em última instância, e diversos países da periferia capitalista beneficiados pela alta das matérias primas, especialmente pela demanda chinesa.

Por outro lado, é a crise de todo o padrão vigente durante o neoliberalismo, que consistiu numa guerra de classe do capital contra o trabalho a fim de recuperar as taxas de lucro que vinham caindo fortemente desde meados dos anos 1970. Christian mostrou como a recuperação conseguida baseou-se por um lado no aumento da super-exploração dos trabalhadores (rebaixamento salarial, terceirização, etc) e por outro lado na conquista geográfica de novas áreas para a valorização do capital (com a entrada de Rússia, China e do Leste europeu no mercado capitalista). O mecanismo fundamental foi a necessidade do capital sobreacumulado de encontrar espaços ou “nichos” de valorização (zonas do globo ou novos ramos produtivos e tecnologias) porém chegando a um ponto de “saturação” muito rápido, pois sempre há mais “capitais” precisando se valorizar do que existe capacidade real de valorizá-los, mediante a extração efetiva de mais-valia dos trabalhadores, em níveis suficientes.

Por fim, é uma crise do sistema capitalista como um todo, que entra numa fase de acirramento das disputas e conflitos, tanto entre os países como entre as diferentes camadas da burguesia, e de aumento inaudito das contradições e dos choques entre as classes. Nesse sentido, Christian remarcou o valor da comparação com os anos 1930, marcados pela sucessão de episódios como o surgimento do nazismo e a derrota da revolução espanhola. Uma seqüência que terminou desembocando na Segunda Guerra, que apenas através de uma enorme destruição de vidas e de capitais “sobrantes” , póde dar lugar um novo ciclo efetivo de expansão do capitalismo.

Christian concluiu considerando a vitória de Obama como uma demonstração da insatisfação das massas, e falou da necessidade de dialogar com as ilusões despertadas por Obama em diversos setores, em particular entre os negros dos EUA, do Brasil e da à frica.

Por fim, defendeu que é o momento de combater para que a classe trabalhadora conquiste sua independência política e se apresente como portadora de uma saída histórica de fundo para a crise do capitalismo.

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