Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

A Conlutas e seus sindicatos precisam impulsionar um partido operário independente controlado pelos sindicatos

05 Dec 2004   |   comentários

A classe trabalhadora brasileira necessita construir uma ferramenta política independente da burguesia e contra as traições dos reformistas e seus partidos políticos. Qualquer organização política séria deve buscar as táticas mais audazes para dialogar com os mais de 40 milhões de assalariados urbanos desse país, uma força extraordinária que move todo o sistema capitalista e, por isso mesmo, pelo seu peso social, é a classe capaz de lançar mão dos métodos mais avançados para paralisar essa máquina em defesa dos seus interesses e da maioria da população.

Infelizmente, a potência da classe trabalhadora brasileira não se expressa completamente porque a absoluta maioria ainda necessita completar a experiência imprescindível com a independência de classe, ou seja, esses milhões de trabalhadores precisam subverter sua consciência para acreditar em suas próprias forças e deixar de confiar nas direções reformistas e burocráticas ou nos políticos burgueses.

O descontentamento popular contra o governo Lula se fez sentir nas últimas eleições com a derrota do PT em cidades como São Paulo e Porto Alegre, além de outras que concentram grande quantidade de assalariados e classe média. Infelizmente, esse descontentamento não caminhou rumo à independência de classe, e sim foi dirigido em votos para os demais partidos burgueses, principalmente o PSDB, que recebeu 15 milhões de votos.

Apesar das derrotas sofridas, o PT ainda conta com enorme grau de confiança entre as massas deste país. Mesmo com um governo que traiu todas as promessas, este partido se tornou o mais votado do país, com 17 milhões de votos. Esses números indicam que, ao contrário do que as correntes de esquerda costumam afirmar, o PT “não está morto” .

Este quadro confirma que a classe trabalhadora brasileira não pode fazer valer sua força sem antes romper as ilusões que ainda mantém no PT e nos partidos burgueses. Isto é, os trabalhadores precisam completar sua experiência concreta para desmascarar o papel traidor e antioperário das suas direções políticas tradicionais, avançando para a sua independência política.

O outro lado dessa crise de subjetividade da classe trabalhadora se mostra na baixíssima votação dos partidos operários que se apresentaram nas eleições. Entre os 120 milhões de eleitores, o PSTU recebeu apenas 183 mil votos. O PCO, 42 mil. E isso apesar de o PSTU estar na linha de frente da Conlutas, onde a sua influência sindical é significativa, o que demonstra que a sua influência política é muito pequena mesmo entre os trabalhadores ligados aos sindicatos da Conlutas.

Estes resultados demonstram que esses partidos não podem ser alternativas reais para milhões de trabalhadores, nem ao menos para a grande maioria dos trabalhadores organizados nos sindicatos e organizações operárias, e para avançar em ganhar influência de massas devem resolver um grande problema político: combater o peso real que o PT e suas direções traidoras ainda conservam sobre o movimento operário e de massas.

Somente a CUT dirige cerca de 3.200 sindicatos e 22 milhões de trabalhadores. Chega a ser ingênuo imaginar que um partido como o PSTU, que não passa de poucos milhares de militantes, possa adquirir influência suficiente para enfrentar o poderio do PT e da CUT sem consolidar raízes nos principais sindicatos dessa central. Os milhares de sindicatos da CUT e as dezenas de milhões de trabalhadores precisam se livrar dessa burocracia sindical e da influência burguesa do reformismo, e isso somente poderá ser feito com uma ferramenta política muito superior aos partidos operários hoje existentes.

Os sindicatos precisam fazer política

Os sindicatos no Brasil têm um grande peso social e são as principais instituições reconhecidas pelas massas trabalhadoras, incomparavelmente mais que os partidos operários existentes. A classe trabalhadora precisa colocar de pé um partido operário independente, construído e dirigido diretamente a partir dos seus sindicatos, pois, para além do PT, os sindicatos são as formas organizativas básicas com as quais a classe trabalhadora brasileira hoje se identifica.

Estamos a favor de uma política que possa dar aos sindicatos, dirigidos e controlados pelos trabalhadores e não pelas burocracias, a possibilidade de colocar seu peso social na balança das forças políticas do país, ocupando o seu verdadeiro lugar na luta de classes. Por isso, defendemos a tática de um partido operário independente, dirigido pelos trabalhadores a partir dos seus sindicatos, que esteja a serviço de derrotar o capitalismo e tomar o poder do Estado.

É inquestionável que milhares e depois milhões de trabalhadores e jovens se veriam enormemente motivados se entidades como o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, a Federação dos Metalúrgicos de Minas Gerais, o Sintusp e os que hoje compõem a Conlutas convocassem encontros regionais, estaduais e nacional para iniciar a discussão sobre a criação de um partido operário independente que tire as lições necessária da experiência com o PT para impedir novas traições dos “Lulas” e tecnocratas pró-FMI. Nesses encontros, democraticamente organizados, com delegados eleitos em assembléias dos trabalhadores para que sejam eles os que tomem as decisões e façam valer a sua vontade, poderiam discutir o programa e o plano de ação para a construção de seu próprio partido.

O PSTU, o PCO e o PSOL deveriam tomar a iniciativa de convocar os trabalhadores nos sindicatos em que dirigem para iniciar a discussão sobre a necessidade de construir um partido operário independente dirigido pelos trabalhadores a partir dos seus sindicatos. Num processo de debate como esse, as organizações que reivindicam a independência de classe teriam liberdade para defender abertamente suas posições programáticas e estratégicas, com o compromisso de se disciplinar pelas decisões dos trabalhadores.

Desde a Liga Estratégia Revolucionária, defendemos que esse novo partido assuma um programa independente que parta das reivindicações parciais e democráticas, como a luta contra as reformas impostas pelo governo Lula, e se combine com as reivindicações que se confrontam diretamente com o capitalismo, ajudando a elevar o nível de consciência da classe operária, como por exemplo é a luta pela divisão de todas as horas de trabalho existentes entre todas as mãos disponíveis, sem redução salarial, para garantir emprego e salário para todos. Um programa que culmine com a luta por um governo da classe trabalhadora, numa democracia onde os trabalhadores através de suas organizações, em aliança com as classes exploradas, exerçam o domínio e o controle da economia em benefício das necessidades da maioria e não dos interesses capitalistas.

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