Quinta 16 de Maio de 2024

Nacional

Balanço do VIII Concut

Venceu a estratégia governista na CUT

06 Jul 2003 | No dia 7 de junho encerrou-se o 8º Congresso Nacional da CUT (Concut), em São Paulo, reunindo cerca de 2.700 delegados. A direção majoritária da CUT, Articulação Sindical, pretendia, nesse Congresso, consolidar o controle da Central e aprovar a estratégia de apoio ao governo Lula-Alencar e ao projeto burguês de "desenvolvimento nacional", constituindo-se no braço sindical deste governo. Essa estratégia foi vitoriosa no Concut, elegendo Luis Marinho (candidato proposto por Lula) para a presidência da CUT, por 74,68% dos votos, numa chapa que reunia a Articulação Sindical, PCdoB (CSC), Democracia Socialista (CSD), Tendência Marxista, Unidade Sindical (PPS) e Sindicalismo Socialista Brasileiro (PSB). Uma incontestável vitória dos governistas! De outro lado, a esquerda - "Unir a esquerda na CUT" (PSTU-MTS) e "Fortalecer a CUT" (esquerda petista) - ficaram com 25% dos votos, numa derrota anunciada.   |   comentários

Maioria da CUT garantirá apoio e "ajuda" ao governo

Desde a abertura, a direção majoritária da CUT controlou o Congresso para impor sua estratégia de defesa do governo e do programa em aliança com a burguesia nacional e setores do imperialismo, que exige a aplicação das reformas pendentes (principalmente as que atacam os trabalhadores, como a da previdência e a trabalhista) e o cumprimento de acordos com o FMI. Para não restarem dúvidas sobre o apoio ao governo, na abertura do Congresso estiveram presentes José Genoino (presidente do PT), a prefeita Marta Suplicy e vários ministros. O ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, hoje o principal responsável por atacar os direitos dos servidores públicos e demais trabalhadores, representava o governo. O próprio presidente Lula discursou no congresso, tendo sido vaiado por parte dos delegados quando defendeu a reforma da Previdência.

A Articulação Sindical derrotou todas as propostas contrárias aos interesses do governo e do imperialismo. O não pagamento da dívida externa e até o apoio às ocupações do MST foram posições rechaçadas. Essa submissão da direção da CUT aos ditames do governo Lula-Alencar não deixa dúvidas de que a luta dos trabalhadores deverá, antes de tudo, passar por cima dessa direção burocrática, que imporá sua política de conciliação de classes através de pactos e acordos com a patronal e o governo. Se na década anterior, durante os governos FHC, a CUT ainda se mantinha na "oposição", ao mesmo tempo em que negociava os pactos e acordos; agora os trabalhadores, suas organizações e dirigentes têm que reorientar suas estratégias para enfrentar diretamente a burocracia sindical cutista. A direção majoritária da CUT, constituindo-se, diretamente, no braço sindical governamental que tudo fará para impedir que os trabalhadores, principalmente das grandes empresas, possam ter liberdade para responder aos ataques patronais e do governo, que já estamos vivendo com o elevado custo de vida, o desemprego e as "chantagens" dos empresários que exigem retirar direitos e diminuir salários.

Apoiando essa estratégia também estavam o PCdoB (CSC), a Democracia Socialista (CSD) e a Tendência Marxista, além do PSB e do PPS. Estas correntes apoiaram a Articulação Sindical, assumindo abertamente sua condição de membros do governo Lula-Alencar, agentes diretos da aplicação das medidas governamentais e patronais como a reforma da Previdência. A despeito dos discursos dessas correntes, o fato concreto é que garantiram à Articulação Sindical e ao governo a sustentação política necessária.

O Congresso da CUT não expressou a realidade do desemprego e das perdas salariais

Apesar dessa derrota anunciada no congresso, a realidade do país mostra sinais importantes de que o governo e os burocratas sindicais serão obrigados a muitas manobras para enfrentar os descontentamentos que com certeza virão com a continuidade do aumento do custo de vida, da perda de renda e salários e dos ataques patronais aos direitos trabalhistas. A própria reforma da Previdência já tem causado um importante desgaste ao governo, ao menos entre o funcionalismo público. Enquanto, no Congresso da CUT, eram aprovadas a resoluções desejadas pelo governo e as discussões não tratavam do enorme desemprego e dos demais problemas cruciais, a vaias a Lula e a outros dirigentes foram apenas uma antecipação de um princípio de desgaste do governo que veio à tona no dia 11 de junho em Brasília, no primeiro ato público contra medidas de Lula, que reuniu cerca de 25 mil manifestantes. Esta importante atividade demonstra que o governo Lula-Alencar, apesar de contar com o apoio da direção da CUT, além do peleguismo da Força Sindical e de outras centrais, e com a simpatia majoritária nas pesquisas de opinião, não terá caminho livre para impor suas medidas anti-operárias e antipopu-lares. Contraditoriamente, as esperanças e ilusões dos que votaram em Lula, e os funcionários públicos são parte deste processo, tendem a empurrar os trabalhadores a uma ação concreta contra os ataques que o governo prepara como parte do plano de governo burguês pactuado com a burguesia nacional e o imperialismo.

Sem desconsiderar a grande importância da vitória do bloco majoritário na CUT, podemos ser otimistas e prever que a realidade que já vivem os trabalhadores vai se impor sobre os aparatos burocráticos, pois o governo Lula-Alencar, em aliança com a burguesia e o imperialismo, nada pode oferecer de concreto para trazer soluções duradouras para os grandes problemas da população trabalhadora e pobre, incluindo as classes médias. Para implantar o programa de governo e o plano de "desenvolvimento nacional", pactuado com a burguesia, o governo Lula-Alencar terá que impor medidas duras e violentas contra os trabalhadores e as massas. Algumas de forma indireta - como a reforma da Previdência (que aparece para muitos como um "problema" apenas dos funcionários públicos) -, mas as principais atacarão o nível de vida atual e as esperanças futuras dos que hoje apóiam o governo. O governo Lula-Alencar, em conciliação de classes com a burguesia e o imperialismo, já fez sua opção política: governar com e para a burguesia, sem qualquer ruptura com esta ou com o imperialismo. Essa opção, é óbvio, será cobrada pela realidade. Os trabalhadores, os funcionários públicos, as classes médias e as massas pobres cobrarão, mais rápido do que se espera, a fatura de Lula, do PT, da CUT e da "esquerda reformista", exigindo melhoria em seu nível de vida. Para isso é que devemos nos preparar.

Infelizmente, a esquerda não foi capaz de forjar uma alternativa

Mais uma vez a esquerda que se opõe à Articulação Sindical não foi capaz de aproveitar o congresso para iniciar um processo de unidade política e metodológica como alternativa ao oficialismo da direção da CUT. O PCdoB e a DS, como vimos, alinharam-se aos ditames do governo e conformaram uma nova maioria com a Articulação. O bloco "Fortalecer a CUT", que reunia as principais correntes da esquerda petista, manteve-se aferrado à estratégia de "ser contra as medidas ’neoliberais’" do governo, ao mesmo tempo em que reivindica esse governo como "seu" e como uma "vitória da esquerda e dos trabalhadores". Com essa posição, a esquerda petista, na prática, favorece o governo contra os trabalhadores, como se viu com a questão da reforma da previdência, em que dividiram a "esquerda" e votaram, junto com a Articulação e seus aliados, pela manutenção da reforma para "apresentar" e negociar emendas com o governo e o Congresso. A esquerda petista, mais uma vez, fica com o "seu governo" e os cargos na máquina estatal, contra os interesses dos trabalhadores. Assim é que, por exemplo, a Força Socialista "critica" a reforma da Previdência, mas mantém-se no cargo de líder do PT no Congresso (Nelson Pelegrino), com a responsabilidade de garantir que a bancada do PT "vote coesa e unificada com o governo".

O PSTU, que defendia "unificar a esquerda na CUT", também fracassou e mostrou sua impotência política ao não dar a batalha concreta para que nesse congresso se expressasse o real interesse dos trabalhadores, discutindo, organizando e aprovando um pólo de esquerda em torno de um plano operário de saída para a crise que enfrentasse o elevado custo de vida, o desemprego, os ataques patronais, governamentais e imperialistas.

Ao contrário, nesse congresso o PSTU e a esquerda petista se resignaram a "marcar posição" e a garantir seus cargos no aparato da CUT. A própria direção do PSTU afirma isso em seu jornal, considerando uma grande vitória ter feito uma chapa conjunta com a esquerda petista apenas para estar na direção da central, a despeito dos desacordos políticos no congresso. Nenhum plano efetivo foi apresentado pela esquerda, deixando centenas de milhares de trabalhadores, funcionários públicos e ativistas sem qualquer perspectiva de unidade e coordenação. Mesmo em minoria, com 25%, porém dirigindo dezenas de sindicatos e milhares de trabalhadores, o PSTU estava em condições de apresentar um pólo de atração aos milhares que já se mostram contrários às medidas do governo e ao oficialismo da CUT , como vimos no dia 11 de junho em Brasília. Os 25 mil que lá estiveram ficaram sem uma alternativa, uma perspectiva combativa que indicasse um caminho contra a conciliação de classes da direção cutista e de seus aliados. Os funcionários públicos ficaram desarmados para ganhar suas bases e avançar num combate real contra a reforma da Previdência, diminuindo suas forças.

A direção do PSTU, em seu desejo de "unir a esquerda na CUT", fazendo crer que essa esquerda é contra o governo, deixou de lutar pela unidade real com os que estão mostrando na prática sua indisposição com o governo - os funcionários públicos. Isso deveria ter sido feito tendo como eixo o combate pela unificação e coordenação dos sindicatos de trabalhadores em geral e do funcionalismo contra as reformas e em apoio efetivo à greve marcada pelo funcionalismo para 8 de julho. A unidade em torno dessa luta concreta deveria, e poderia, ser um grande movimento para preparar a greve e dar uma alternativa aos trabalhadores e ativistas por um plano unitário de oposição real às medidas do governo.

Artigos relacionados: Nacional , Movimento Operário









  • Não há comentários para este artigo