Segunda 6 de Maio de 2024

Internacional

JUVENTUDE EM RIO CLARO DEBATE A SITUAÇÃO NO CHILE

Unesp de Rio Claro debate as lutas em curso no Chile

02 Sep 2011   |   comentários

"O cobre está no céu. A educação está na terra"
“Nossas reivindicações são à prova de polícia!”

No dia 29 de agosto, na Unesp de Rio Claro, o Bloco Anel às Ruas e o CAEGE (Centro Acadêmico dos Estudantes da Geografia) realizaram um vídeo-debate sobre as lutas estudantis no Chile, um processo de mobilização histórico, centrado a partir da reivindicação de fim do lucro sobre a educação e um ensino público e de qualidade para todos, que já foi capaz de instaurar uma crise no regime de dominação burguesa, golpeando fortemente o governo Piñera.

Nosso objetivo era refletir conjuntamente sobre como essa massiva mobilização de estudantes no Chile pode ser triunfante e como a juventude brasileira pode (e o porquê deve) extrair lições desse processo. Além disso, também achamos muito importante as demonstrações de solidariedade ativa, fomentando uma aliança operário-estudantil internacional.

O debate se iniciou com um breve resgate da história recente do Chile, país que foi palco de uma ditadura extremamente violenta, de 1973 a 1990, liderada pelo então general Augusto Pinochet. Seu governo é conhecido pela imposição de duros ataques à classe trabalhadora e população chilena, avançando muito no Chile no que se denominou de políticas neoliberais – entre as quais uma profunda reforma na educação, a partir da qual o ensino se tornou privado e lucrativo para os grandes monopólios, tendência colocada mundialmente. Como a redemocratização, à semelhança do Brasil, foi pactuada entre setores da burguesia, o governo subsequente formado por uma coalizão de partidos de centro esquerda (Concertación), que, aliás teve vitórias em todas as eleições presidenciais até 2010, não fez mais que operar a continuidade dessa política de ataques à classe trabalhadora e à educação, havendo inclusive, fortes greves de trabalhadores e levantes estudantis em 2006, mas que foram desviadas pela Concertación, que evitaram a convocação de uma paralização nacional, fazendo com que as mobilizações se esvaziassem desordenadamente.

Ainda no debate, para melhor compreendermos as raízes desse processo e da crise do regime político no Chile, buscamos alguns antecedentes da atual mobilização e também um panorama geral da economia do país. Após as amargas experiências com os governos da Concertación, foi eleito Piñera (representante da direita – Renovación), que assumiu a presidência no início do ano e acabou desfrutando de um clima de unidade nacional, fomentado após o terremoto que destruiu centenas de milhares de casas. Em pouco tempo a população já fazia sua experiência com um governo que militarizava os bairros atingidos pelo terremoto. Além disso, também desde o início do ano, já se desenvolvia nas ruas uma importante mobilização que reivindicava a não construção das cinco represas e hidrolétricas do projeto Hydroaysen, na região da Patagônia; o não aumento de 16% do gás natural, que elevaria o custo de vida da população em 25% na região de Magalhães e o fim da exploração capitalista e a estatização das minas de cobre.

A economia chilena praticamente se baseia em exportações da produção de commodities, sendo a maior parcela referente à produção de cobre, que totaliza 45% das exportações, o que corresponde a quase 35% do cobre utilizado no mundo. Apesar dos altos números, toda essa produção, fruto de trabalho precário e altamente explorado (como ilustram os diversos casos de mineiros mortos em acidentes), passa longe de atender as necessidades da população local – o Chile é considerado um dos países mais desiguais da América Latina.

Com essa situação somada aos infindáveis endividamentos das famílias para que seus filhos cursassem o ensino superior e o contínuo avanço dos ataques por parte do governo, vemos crescer durante quase seis meses esse processo de mobilização que estão sendo duramente reprimidos, com mais de 1400 presos, chegando ao assassinato pela polícia do jovem Manuel Gutierrez, de 16 anos, que se mobilizava com outros estudantes. Essa repressão é herança das transições pactuadas, sendo que tanto no Brasil quanto no Chile, torturadores seguem impunes e instituições do regime repressivo continuam funcionando – o próprio decreto no qual se apoiou Piñera, por exemplo, para proibir as mobilizações, é assinado por Pinochet etc.

Outro aspecto importante é como a popularidade de Piñera e da Concertación atinge hoje níveis históricos de desaprovação popular. A crise do regime é tão explícita que, na tentativa de desviar antecipadamente o processo, os reformistas, apoiados por algumas de suas mais importantes direções – a CONFECH (Confederación de Estudiantes de Chile) e a CUT (Central Unitaria de Trabajadores de Chile), que são dirigidas pelo PC e PS, já passam a falar em uma “segunda transição para a democracia” (!), não fazem mais que o jogo da burguesia com o discurso de aprofundar a democracia, garantindo a herança Pinochetista.

Além dos diversos métodos de luta colocados em prática pelos estudantes, como as greves, ocupações, passeatas com intervenções artísticas e os duros enfrentamentos com a polícia, a aliança com os trabalhadores, com bastante importância para os mineiros, é a chave para a vitória dos estudantes e o avanço das mobilizações. Dentre as diversas ações unitárias travadas nesse sentido, como marchas unificadas e a contribuição de sindicatos às ocupações, consideramos um exemplo de destaque a paralisação geral dos dias 24 e 25 de agosto, além da reivindicação de estatização das minas de cobre para financiar uma educação pública e de qualidade para todos.

Essa perspectiva estratégica, de aliança com a classe operária, consideramos ser ainda um importante elemento de avaliação para discutirmos os processos, também importantíssimos, desenvolvidos na Europa e no Oriente Médio. Com essa perspectiva é que buscamos localizar o processo chileno numa convulsiva situação internacional, quando a crise estrutural do capitalismo golpeia seriamente os principais imperialismos do mundo e a única saída que a burguesia internacional encontra é descarregar os custos sobre a população pobre e trabalhadora, retirando direitos e impondo mais ataques, escancarando assim a luta de classes como verdadeiro motor da história e deixando a ação independente da classe operária como única alternativa. Desse ponto de vista, consideramos vitais as lições extraídas do processo chileno, principalmente frente à condição real de que trata-se de um processo motorizado por elementos ainda não ligados diretamente ao desenvolvimento da atual crise, ganhando forte caráter preparatório, portanto, frente às perspectivas colocadas para o desenvolvimento da crise na região– um inevitável retrocesso da demanda por commodites por parte da China e uma consequente fuga de capitais da América Latina.

Sendo assim, discutimos ainda que para garantir que essas experiências adquiridas nas lutas não se percam, para que se transformem em patrimônio dos oprimidos e explorados, é preciso o surgimento de uma vanguarda organizada, que se ligue com as lutas dos trabalhadores, dos estudantes, da juventude e da população oprimida. Só desse modo a classe trabalhadora poderá tomar o poder para si e garantir condições dignas de vida para toda a juventude e população oprimida.

Esta atividade do Bloco Anel às Ruas se soma às tantas outras que viemos impulsionando nesta importantíssima campanha em solidariedade às lutas no Chile, exigindo que o governo Piñera liberte os mais de 800 estudantes presos durante as passeatas e que retroceda nas reformas educacionais.

Chamamos ao conjunto do movimento estudantil da Unesp a construir conosco essa campanha internacionalista com toda força, sabendo que os ataques à educação e direitos básicos são apenas preparatórios para épocas de crise mais agudas, predominando a lógica mundial de precarização da vida.

Viva a luta pela educação pública no Chile!
Educação pública, gratuita, de qualidade e para todos!
Abaixo a repressão aos lutadores!
Avançar na unidade operário estudantil já!

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