Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

Greve do Metrô contra a privatização da Linha 4

Uma greve política que pára a cidade e faz a patronal tremer

10 Aug 2006   |   comentários

Em protesto contra a privatização da Linha 4, metroviários de São Paulo paralisam o metró deixando a cidade congestionada de automóveis e sem alternativas para aliviar o transporte, o que mostra a falência do modelo de transporte privatizado e a falta e investimentos dos governos nesse serviço essencial. Esta greve também mostrou a força dos metroviários: apenas 7.600 trabalhadores, que movem 2,5 milhões de passageiros diários, podem paralisar a capital do maior estado do país. Esta força social precisa se materializar como força política, mostrando a potência da classe operária brasileira que tudo produz e movimenta, logo pode parar e controlar tudo.

A segunda quinzena de agosto foi marcada pela greve dos 7.600 funcionários do metró paulista. Em assembléia extraordinária no dia 10, foi aprovada a greve de 24 horas no dia 15. Era um movimento de protesto contra a licitação que o governo Lembo deu seqüência ao plano tucano de privatização da Linha 4 do metró, ligando a Estação da Luz à Vila Sonia e passando por regiões nobres como República, Higienópolis Pinheiros, Av. Paulista e Butantã.

Para garantir o “sucesso” da licitação a Companhia do Metropolitano, como divulgou o jornal O Estado de S. Paulo, de 10 de agosto, o “Metró montou uma operação de guerra e convocou os participantes com quatro horas de antecedência em relação ao horário previsto originalmente. Um dos secretários do governo estadual relatou: "Chegamos às cinco da manhã para evitar o risco de piquete dos metroviários, que são contra a privatização". Uma demonstração de como os governantes atuam para defender os interesses dos capitalistas. Mas também uma demonstração de como os metroviários, apenas alguns milhares, têm uma grande força social que assusta o governo e a patronal. É o peso da classe operária, que precisa se colocar em cena como força política capaz de defender seus próprios interesses e os do povo pobre, enfrentando com seus métodos ’ greves e piquetes ’ os capitalistas e seus capachos do governo.

Esta greve dos metroviários, apesar de ser apenas um dia de protesto contra a privatização, traz uma novidade importantíssima à situação nacional, que tem se caracterizado pela passividade e falta de lutas sindicais e políticas ofensivas da classe operária. Os metroviários, com sua greve política ’ contra o governo estadual e os grandes monopólios capitalistas ’, sinalizam para todos os trabalhadores e ativistas que para barrar os ataques capitalistas ’ demissões, precarizações, privatizações, reformas ’ e defender empregos, salários e direitos não há outro caminho que não seja a luta com os métodos da classe operária ’ as greves e piquetes ’, em sua luta em defesa de seus interesses contra a classe capitalista.

Sindicato dos metroviários não luta seriamente porque é governista

Enquanto o governo e a patronal, com a ajuda da imprensa, precisa armar um esquema de guerra com medo da força dos metroviários, o seu próprio sindicato atua covardemente. Há dois anos a maioria da direção do Sindicato dos Metroviários vem com uma campanha contra a privatização do metró ’ “Diga Não à Privatização do Metro” . Porém, esta campanha tem se resumido a recursos judiciais aproveitando as aberrações do projeto de licitação de Parceria Público-Privada (PPP). Várias assembléias massivas indicavam greve mas na hora H a direção sindical defendia a suspensão das medidas de força argumentando as “vitórias” na justiça (liminares). Para manter as aparências, seguia com “cartas abertas” à população e discursos contra a privatização. Mas tudo era feito na medida certa para desgastar o governo estadual ’ PSDB-PFL ’ e “cozinhar o galo” , enquanto os únicos métodos que o governo e a patronal temem ’ as greves, paralisações, medidas de força ’ eram deixadas para depois. Mesmo essa última greve foi decretada por 24 horas, o que levou setores de base a se opor, por compreender corretamente que não é com meras “greves de protesto” que se luta pra valer contra a privatização (vide Carta de trabalhadores da Vala-PAT).

Esta foi a estratégia da direção sindical. Infelizmente, a oposição ’ 30% da diretoria, constituída pelo PSOL e o PSTU ’ não tinham projeto para se alçar como alternativa de direção. A direção dos metroviários lançou campanha “contra a privatização” , marcou assembléias, falou em greves, mas na prática impedia a organização e uma verdadeira luta que fosse capaz de enfrentar a patronal e o governo. Por que agiram assim?

Os tucanos e pefelistas encaram a PPP como a melhor solução para a “escassez de recursos públicos” para investimento. Isto é, falam em falta de recursos mas sempre os encontra para entregar às empresas privadas. O governo Lula, que copiou o neoliberalismo de FHC e dos tucanos, também pensa assim e por isso fez aprovar as PPS, com os votos dos deputados e senadores do PT e do PCdoB.

Aloísio Mercadante, candidato a governador de São Paulo pelo PT, que tem como vice uma dirigente do PCdoB, faz demagogia e tenta enganar os metroviários e a população. Para ele “a causa é justa” , mas faz questão de dizer que “eu não acho que [a greve] seja o melhor instrumento de luta porque ela atinge a grande massa da população’’ (www.vermelho.org.br, 15/08, site do PCdoB) . O candidato presidencial tucano, Geraldo Alckmin, foi diferente apenas no tom, pois para ele a greve foi “totalmente descabida, absurda. (...) Deve ter a recriminação da população de São Paulo, punição por parte do Poder Judiciário" (Agência Reuters, 15/08).

O que une e iguala Alckmin e Mercadante ’ PSDB e PT-PCdoB ’ é uma questão básica: os dois são a favor do modelo de privatização via PPPs. No site do PCdoB, Mercadante reforçou que o governo do estado deve apostar nas Parcerias Público-Privadas. Para não parecer muito tucano, ele floreou um pouco (para ganhar votos à esquerda) e acrescentou que a “privatização-PPP” deve ser no ’’interesse público’’. Alguém pode imaginar um monstrengo que privatiza (PPP)... a favor do povo?

Aqui está a explicação política e material da estratégia dos sindicalistas do PCdoB e do PT, todos da CUT. Denunciam que o metró está sendo privatizado mas não podem enfrentar essa situação porque têm o rabo preso com o governo Lula, que lhes reserva cargos e privilégios no Estado, no Congresso e nos sindicatos e centrais. Por exemplo, Wagner Gomes, ex-presidente do sindicato e suplente de senador eleito com Mercadante, critica a PPP tucana mas na verdade defende o modelo: para ele “Que parceria é essa a chamada PPP da Linha 4 do Metró? Na verdade não é parceria, é favorecimento, é benefício do parceiro privado com prejuízo do parceiro público, do património do povo” (www.vermelho.org.br). Como se pode notar, para ele deve-se fazer “parcerias” com “parceiros privados” desde que não haja “prejuízo do parceiro público” . Em que mundo eles pensam que vivem? Querem enganar os metroviários e a população de que no capitalismo, reino da propriedade privada, é possível fazer parcerias com os capitalistas sem que eles tenham lucros? Ou querem nos enganar que é possível garantir uma “parceria perfeita” , com lucros para os capitalistas e também para o “parceiro público” ?

Só uma nova direção combativa e antigovernista, nascida das bases, pode reverter a privatização do metró e garantir empregos, salários e direitos

Essa direção ’ PCdoB e PT ’ não pode dirigir uma luta séria contra a privatização do metró porque isso significaria denunciar e combater o modelo de PPPs que apoiaram no Congresso Nacional (junto com os mensaleiros). Esses sindicalistas governistas colocam seus interesses pessoais e dos seus partidos acima dos interesses dos metroviários e da população. Esses burocratas sindicais governistas devem ser derrotados, expulsos dos sindicatos e federações, para serem superados por novos ativistas surgidos das bases que vivem apenas do seu trabalho e não têm outros interesses que não seja os direitos dos metroviários e dos usuários. Só assim os sindicatos e a força social e política dos metroviários será uma arma fatal contra os governos e os capitalistas e um exemplo de direção combativa para os demais trabalhadores. A oposição sindical ligada à Conlutas e à Intersindical está convocada a superar seus limites e apoiar-se nos setores mais destemidos que volta e meia aparecem entre os metroviários de base. Só assim poderá contribuir de maneira progressiva para combater os sindicalistas governistas do PCdoB e do PT e recuperar o sindicato dos metroviários como um instrumento de luta independente, democrático e combativo.

Como conclusão, os metroviários só podem defender seus empregos, salários e direitos organizando uma luta firme contra todos os privatizadores, sejam eles do PSDB-PFL ou do PT-PCdoB. Esta luta exige um plano para ganhar o apoio da população, que sempre é utilizada como massa de manobra contra as greves metroviárias. No dia 15, apesar dos transtornos causados, que mostram a falência do sistema de transporte privatizado e a falta de investimentos, os metroviários receberam a simpatia popular. Pesquisa da TV Band assinalou que 72% da população paulista consideravam a greve justa. Isso deve ser considerado pelos metroviários combativos, pois suas próximas greves devem ser preparadas não apenas como “protestos” (como faz a direção sindical) mas também precisa levar em conta os interesses dos usuários, principalmente das regiões mas distantes e dependentes deste transporte. Um plano ofensivo com piquetes e paralisações escalonadas e organizadas, com catracas livres em horários e dias, de forma a soldar a união com a população, quebrando o movimento reacionário da mídia e dos governantes que nessas horas de greve aparecem como “defensores da população prejudicada” .

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