Sábado 4 de Maio de 2024

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Um primeiro balanço das eleições

18 Oct 2008 | Enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo parecia derreter, desvalorizando abruptamente os ativos das principais empresas do país, e o dólar explodia, valorizando-se numa velocidade não vista desde a crise de 2002, os candidatos – e as próprias eleições – pareciam “em outro mundo”, o mundo das promessas demagógicas ou medíocres. Essas eleições se interpuseram de forma curiosa entre o “velho” – um período de bonança econômica – e o “novo” – um período de crise que começa a chegar.   |   comentários

PT e PMDB: os principais
ganhadores

Os principais ganhadores
dessas eleições foram os
partidos da base governista,
alavancados pelos enormes
índices de popularidade de
Lula, em especial o PT e o
PMDB, que avalizaram o
segundo mandato de Lula
até aqui e assentaram importantes
posições em vistas
à disputa eleitoral de 2010.

Dentre os quatro maiores
partidos do país, o PT foi o
que mais cresceu em número
de prefeituras governadas
e em número de vereadores.
O PMDB, apesar de ter crescido
menos desde o ponto de
vista do número de prefeituras
e vereadores, foi o partido
que mais cresceu no que diz
respeito ao número total de
votos válidos recebidos por
seus candidatos. O aumento
do número de votos recebidos
numa proporção maior que o
número de candidatos eleitos
mostra que o PMDB, que em
eleições anteriores sempre se
destacou por sua presença no
interior, em 2008 avançou
sobre as grandes cidades. O
PT, no sentido inverso, ao
aumentar sua quantidade de
candidatos eleitos numa proporção
maior que a de votos
recebidos, mostra que avançou
sobre o interior do país, o
que é novo para este partido
que historicamente se consolidou
nos principais centros
urbanos. Entretanto, isso não
quer dizer que o PT retrocedeu
nas maiores cidades
do país. Pelo contrário: em
2007, os petistas passaram a
governar 17 das 79 cidades
com mais de 200 mil habitantes
(chamadas “G79” );
em 2008, apenas no 1º turno,
o PT já conquistou 13 destas
cidades e disputa o 2º turno
em mais 15 delas; sendo que,
destas 15, em 11 os petistas
entraram na disputa pelo 2º
turno na dianteira.

O que pode mediar e
inclusive diminuir significativamente
a vitória do governo
e especialmente do PT são
os resultados que ainda estão
por vir no 2º turno nas principais
cidades do país. Em São
Paulo, independente do resultado
do 2º turno, José Serra,
principal competidor do PT
nas eleições de 2010, já saiu
fortalecido pelo debilitamento
de Aécio Neves nas disputas
internas dentro do PSDB;
sendo que, se Kassab ganha
de Marta no principal bastião
do país ’ sentido em que
parece indicar as pesquisas
’ será um importante revés
para os petistas. No Rio de
Janeiro, cidade em que o PT
foi historicamente débil, para
corroborar com sua tradição
oposicionista que mais uma
vez se expressa, excluiu não
só o candidato petista mais
também o do atual prefeito
Cesar Maia já no 1º turno.

Agora, o candidato apoiado
por Lula na capital carioca
’ Paes, do PMDB ’ corre o
risco de perder para o deputado
Fernando Gabeira (PV),
que apesar de ser de um partido
da base governista, tem
se destacado por suas críticas
ao Planalto. Em Porto Alegre
o PT concorre com o PMDB,
cujo candidato vai ser apoiado
pela governadora tucana
Yeda Crusius. Em Belo
Horizonte, a tentativa de
“dobradinha” tucano-petista
expressada na candidatura de
Lacerda, apoiado tanto por
Pimentel (PT) como por Aécio
(PSDB), sofreu um importante
revés na reta final e
disputará o 2º turno ’ em dificuldade
’ contra o PMDB.
Em Salvador, o PT também
disputa em condições parelhas
com o PMDB.

O grupo de partidos
“menores” apoiadores do
governo, conhecidos como
“Bloquinho” (PSB, PDT
e PCdoB), foram também
enormemente beneficiados
nessas eleições, fortalecendo
a tese de que o governo sai,
de conjunto, vitorioso.
O fortalecimento do
PMDB e a dependência que
o PT tem em relação a este
aliado é ao mesmo tempo
um “trunfo” e um “calcanhar
de Aquiles” para Lula.
Trunfo porque, de imediato,
sedimenta o êxito da aliança.
Calcanhar de Aquiles porque,
por outro lado, “aumenta o
preço” que Lula tem que pagar
pelos serviços do PMDB.
Pois, ao mesmo tempo em
que o caráter fragmentado
do PMDB em distintos “caciques”
com “feudos” regionais
é o que têm dificultado
“vóos próprios” deste partido;
este mesmo caráter é o
que pode permitir que uma
ala importante dos seus migre
para o bloco PSDB-DEM
em 2010 caso a crise económica
que se avizinha debilite
a popularidade de Lula e sua
capacidade de eleger um sucessor.

Este resultado do PT
mostra que, se em 2006 ficou
comprovado que Lula havia
conseguido se recuperar da
crise do mensalão, o PT também
conseguiu fazê-lo, e os
diagnósticos mais ou menos
catastrofistas que consideravam
este partido “morto” se
mostraram em grande medida
falsos.

A derrota dos partidos
de oposição

A vitória dos partidos
da base aliada do governo
fica mais clara quando verificamos
que os principais partidos
de oposição ’ PSDB,
DEM (ex-PFL)’ e seu principal
aliado “menor” , o PPS,
sofreram importantes perdas.
Na comparação entre o
número de prefeitos eleitos
em 2004 por cada partido e
o mesmo indicador nessas
eleições de 2008, o PSDB, o
DEM e o PPS tiveram uma
redução de, respectivamente,
10,1%, 36,9% e 57,5%.
Se compararmos a quantidade
de vereadores eleitos
por partido em 2004 e 2008,
o PSDB, o DEM e o PPS
perderam, respectivamente,
9,9%, 25,4% e 23,4%. Essas
são demonstrações retumbantes
de como os partidos
burgueses de oposição a Lula
foram, de conjunto, derrotados.

Especialmente o DEM
sofreu fortes derrotas em seu
“bastião” , a Bahia, onde após
a morte de António Carlos de
Magalhães em 2007, nestas
eleições tanto o PMDB como
o PT, avançaram sobre o “espólio”
dos “feudos” anteriormente
pertencentes ao “coronel”
ACM.

A derrota da oposição
de conjunto pode ser minimizada,
e no caso específico
do DEM até mesmo parcialmente
compensada, se
Kassab ganha em São Paulo.
Na projeção de Kassab se
expressa com mais evidência
um fenómeno particular
e central destas eleições,
também ligado aos reflexos
na política ’ enchendo os
cofres municipais ’ do ciclo
de crescimento económico
dos últimos anos: a maior
taxa de reeleição da história,
que também terminou beneficiando
os partidos de oposição,
principalmente nas
grandes cidades. Dois terços
dos prefeitos que eram candidatos
à reeleição tiveram
sucesso no primeiro turno
dos pleitos municipais do
país. A taxa de recondução
de 67% deste ano foi superior
aos índices de 2000 e
2004, que ficaram na faixa
de 58%.

Uma eleição marcada pelo
ciclo de crescimento
económico dos últim os
anos

Por política consciente
dos candidatos burgueses ou
reformistas, ambos apologéticos
do capitalismo, as eleições
em nada serviram para
debater os gigantescos problemas
que tomam conta da cena
internacional ’ com a gestação
da maior crise económica
mundial desde 1930 ’ e seus
impactos sobre o Brasil. Não
podia ser diferente, na medida
em que os partidos dominantes
e o conjunto da burguesia
têm sido os principais beneficiados
pelo recente ciclo de
crescimento económico e não
têm qualquer política alternativa
frente a seu esgotamento.

Pelo contrário, o que primou
foi a busca dos candidatos
’ tanto do governo como da
oposição ’ por se aproveitarem
politicamente dos enormes
índices de popularidade
de Lula e dos resultados do
recente ciclo de crescimento
da economia nacional que
agora começa a ver seu fim;
e as promessas demagógicas
ou medíocres baseadas na
falsa esperança de que as arrecadações
de impostos vão
continuar aumentando como
nos últimos anos. Estes foram
os dois determinantes centrais
que explicam o resultado eleitoral:
a enorme popularidade
de Lula e os efeitos alentadores
do ciclo de crescimento
económico nos cofres municipais,
cumprindo este último
um papel fundamental nas
grandes cidades, a ponto de
conseguir em muitos casos,
minimizar o poder de influência
de Lula, como se expressa
em São Paulo.

Se mesmo nesse momento,
quando ainda se sente
os efeitos finais do dito ciclo,
os problemas mais sentidos
pelo do povo ’ como saúde,
educação, alimentação, trabalho,
moradia, transportes etc.
’ sequer foram mencionados
ou foram abordados com promessas
cosméticas; a verdade
é que daqui para frente não
só estas paliativas promessas
tendem a se esfumaçar no ar,
como os partidos dominantes
e os capitalistas neles representados
vão começar a pensar
meticulosamente como
descarregar a crise nas costas
dos trabalhadores de modo
a reduzir o mínimo possível
seus lucros.

Foi uma sorte dos partidos
dominantes que as eleições
tenham se dado quando
ainda não terminou de chegar
a crise económica mundial
no Brasil? Aparentemente, se
poderia dizer que sim, mas
a verdade é que isso apenas
aumentará os desgastes de
um mandato, em que as condições
económicas crescentemente
deterioradas vão ressaltar
e fazer mais evidentes
o caráter demagógico de suas
promessas.

Nenhuma confiança nos
partidos dominantes e
seus governos. Voto
nulo no 2º turno!

Chamamos os trabalhadores,
a juventude e o povo
pobre a não depositar nenhuma
confiança nos candidatos
eleitos nessas eleições.
Frente às opções em jogo no
2º turno, não existe um candidato
“menos pior” para os
interesses dos trabalhadores.
Chamamos a votar nulo no
2º turno na medida em que
estarão em jogo disputas entre
os partidos dominantes que,
sejam ligados ao governo ou
à oposição, assumirão a dianteira
em descarregar os efeitos
da crise capitalista que chega
ao Brasil, sobre as costas da
maioria explorada e oprimida
da população. O discurso em
favor dos candidatos “menos
piores” deve ser combatido e
este combate deve dar lugar à
inadiável preparação dos sindicatos
e organizações populares
para enfrentar os efeitos
da crise que começa a chegar
ao país.

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