Sexta 3 de Maio de 2024

Nacional

ECONOMIA

Um crescimento que se apoiou no aumento da dependência e da exploração

18 Oct 2008   |   comentários

Enquanto a economia mundial estava em crescimento,
nos cansamos de ouvir a ladainha do crescimento
sustentado da economia, de que o Brasil estava se tornando
menos dependente, de que as reservas de 200 bilhões
de dólares seriam um grande seguro contra qualquer
ameaça externa, de que os trabalhadores e o povo
viviam cada vez melhor e que melhorava a distribuição
de renda. Ao longo destes anos de otimismo, através do
Jornal Palavra Operária alertamos os trabalhadores para
a dura realidade que contrariava esse belo discurso. Agora,
com a crise se tornando um fato também para o Brasil,
vai ficar mais fácil perceber quanta mentira foi dita
pelo governo Lula, pelo PT e PcdoB, e pela CUT, Força
Sindical e Cia., enquanto nos roubavam e atacavam nossos
direitos para favorecer os capitalistas.

O crescimento brasileiro nada teve de independente.
Ele se baseou no aumentou da subordinação às potencias
imperialistas e num aumento da exploração e da
concentração de renda. O principal motor da economia
brasileira foi a exportação de matérias primas e a entrada
de capitais imperialistas, que viram na política pró-imperialista
do governo Lula a oportunidade de obter uma
alta rentabilidade para os seus capitais. De 1997 a 2007,
enquanto o lucro das 500 maiores empresas passou de
54% para 64% do PIB, a média salarial ficou abaixo do
nível de 2002 e ainda menor do que era em meados da
década de 90.

Com as altas taxas de juros, somadas ao superávit
comercial, o governo Lula garantiu um fluxo sempre
crescente de capitais para dentro do Brasil. Tornou-se
um grande negócio para os capitalistas brasileiros e estrangeiros
pegar emprestado lá fora a uma taxa reduzida
e emprestar aqui dentro a taxas bem mais elevadas. Garantindo
ainda por cima um lucro extra para esses capitalistas
com a decorrente valorização do real, já que
fizeram dívidas em dólar.

Essa política, que conteve a inflação através de um
real valorizado, foi em grande medida financiada com a
explosão da dívida interna em reais a juros altíssimos,
os maiores do mundo. Isto é, grande parte do dinheiro
que o governo arrecada com os impostos ’ muito mais
alto para os trabalhadores e as classes médias que para
as empresas ’ é transferido para o pagamento de juros
da dívida pública interna e externa, cujos títulos estão
nas mãos dos banqueiros, empresários e especuladores.
Os setores empresariais que estavam sendo prejudicados
com o real valorizado recebiam dinheiro do governo via
BNDES, Banco do Brasil e outras fontes. Claro que os
gastos com bolsa família, saúde, educação e demais gastos
sociais nem se comparam a essa enxurrada de dinheiro
que foi para o bolso dos capitalistas.

Com um real cada vez mais valorizado, com seu
lucro em alta em função do preço das commodities e
do aumento da exploração dos trabalhadores, com seu
valor em ações crescendo sem parar, as empresas exportadoras
brasileiras tiveram facilidade para obter crédito
internacional e se expandir em outros países. A bolsa de
valores se ampliou como nunca visto. Ao mesmo tempo
em que as multinacionais também tinham facilidade para
remeter seus lucros ao exterior.

Com o aumento da arrecadação estatal foi possível
para o governo ampliar o bolsa família e, junto com
o dinheiro do crédito internacional, estimular o crescimento
do consumo. Esse processo foi o que dinamizou,
principalmente a partir de 2007, o mercado interno e
fez o crescimento chegar com força ao setor industrial
e da construção civil, ampliando o número de empregos
criados, em sua maoiria com baixos salários.
Nesse esquema, o aumento da exploração dos
trabalhadores foi uma peça chave.

Foi o que garantiu uma alta
rentabilidade (“competitividade” )
às empresas brasileiras e
multinacionais aqui instaladas. O
aumento do consumo que motorizou
o mercado interno está
somente em parte baseado em
crescimento real da renda, isto
é, nos novos empregos criados e
nos planos assitencialistas do governo
Lula. Em grande medida,
o crescimento do consumo está
baseado na grande oferta de crédito
(e endividamento) dos últimos
anos, que acabou, e com as
empresas entrando em crise sua
primeira medida de “redução de
custos” é atacar os trabalhadores
e os consumidores comprometidos
com os crediários. Por isso,
é mentiroso o discurso de Lula
quando diz que é possivel escapar
da crise apostando no mercado
interno. Agora, as mesmas
conexões com a economia internacional
que possibilitaram
o crescimento nos últimos anos
vão ser as propagadoras da crise.
Enquanto isso, os dirigentes
sindicais governistas ’ CUT,
Força Sindical, CTB e Cia. ’ escondem
a gravidade da crise e se
negam a preparar os trabalhadores
para enfrentar os planos dos
capitalistas e do governo que
tentarão jogar as conseqüências
da crise sob nossas costas.

Diante desse quadro, os
sindicatos e dirigentes da Conlutas
e da Intersindical devem
tomar iniciativas de unificação
das campanhas salariais, dos setores
em luta em torno de um
programa de ação em defesa
de reajuste mensal de salários
de acordo com o custo de vida,
nenhuma demissão, ocupação e
controle operário em todas as
empresas que ameacem fechar e
demitir, emprego, salários e direitos
iguais para os trabalhadores
terceirizados e precarizados,
homens e mulheres, negros e
negras.

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