Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

TRABALHO PRECÁRIO NA UNIVERSIDADE MATA NOVAMENTE

Triplo assassinato de operários na UnB: essa é a patronal do PAC e do “Brasil-potência”

27 Jul 2011   |   comentários

A UnB é qualificada como excelência no ambiente universitário nacional, da mesma forma que o governo Lula/Dilma se vangloria de gerador de empregos.

A realidade é bem outra. A morte dos três operários dias atrás, asfixiados debaixo de toneladas de terra, no canteiro de obras da UnB e trabalhando em troca de um salário miserável e em condições escravas e perigosíssimas de trabalho, negam totalmente aquela imagem alegre e ideológica de “excelência” ou de “governo dos trabalhadores”.

Lourival, 46 anos, Nelson, 37 e Raimundo, 22, foram soterrados por uma coluna de terra equivalente a cinco caminhões cheios, em um buraco de terra fofa e sem qualquer escoramento, de seis metros de profundidade, no exato momento em que cavavam para instalar o sistema de esgotos de um complexo hospitalar de expansão da UnB. Por pouco não foi também soterrado o alojamento onde vivem operários.

Fala-se em “tragédia no canteiro”, o engenheiro da obra fala em “fatalidade”, mas fatos são fatos: o operário João Barbosa foi demitido dias antes porque se desentendeu com a chefia ao reclamar dos riscos que os colegas que morreram passavam. Os próprios familiares denunciaram na imprensa que os operários mortos reclamavam constantemente, em casa, da insegurança no trabalho, dos riscos de morte que corriam; na própria delegacia que colheu depoimentos, dois operários sobreviventes reclamaram que não tinham condições de segurança nem para trabalhar à noite. E que são obrigados a trabalhar aos sábados.

A própria burocracia sindical agora está falando que havia várias “irregularidades” na obra, que põem em risco a vida dos trabalhadores e fala que desde março foram denunciados um total de treze problemas nessa mesma obra. Não por acaso o próprio mestre de obras fugiu imediatamente do local do acidente, traindo seu papel assassino.

Mais ainda: 24 horas antes do chamado acidente, um fiscal da UnB tinha interditado a obra – verbalmente e por documentação, obra que, no entanto, continuou funcionando mal o fiscal virou as costas.

Resumindo, o acidente de acidente não tem nada, trata-se, como reconhece a própria imprensa burguesa local, de “uma tragédia que poderia ter sido evitada se os mecanismos de segurança necessários para a escavação tivessem sido respeitados” (C.Braziliense, 22/7/11). Os próprios trabalhadores que morreriam horas depois tinham sido fotografados pelo fiscal que estivera antes no canteiro de obras, fotos que revelam falta de condições para trabalhar no local. Uma especialista em Segurança do Trabalho denunciou que a obra em que morreram os três operários não tinha qualquer proteção de escoramento. Ou seja, como diz a especialista, com ou sem equipamento de segurança pessoal, eles teriam morrido de qualquer jeito.

“A maioria das obras de Brasília está matando e meu tio morreu por conta da irresponsabilidade dos engenheiros”, declarou o sobrinho do trabalhador morto (Lourival), acrescentando que o operário que morreu soterrado reclamava cotidianamente das condições de risco e falta de equipamento de proteção. O pai de um dos operários assassinados , informou que seu filho queria sair da obra porque não havia condições de segurança e que ele só desceu no buraco fatal por medo de ser demitido e por absoluta dependência do salário que recebia, de 800 reais.

É sabido por todos aqui em Brasília que trabalhar na construção civil por aqui é correr risco de vida ou de virar deficiente físico. E que as empresas da construção civil lideram as mortes e acidentes de trabalho. Empresas economizam na segurança (“custos”), não dão a necessária folga aos operários que trabalham, em regra, em condições insalubres. A lei existe (CLT) com suas normas de segurança, a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) existe (com seus escassos fiscais), mas apesar das notificações que choveram apenas neste ano sobre outras sete obras em andamento apenas na UnB (por parte do sindicato), NADA foi feito. O próprio sindicato não vai alem de registrar “legalmente” as denúncias: não mobiliza a categoria para NADA em defesa da vida dos operários, mesmo reconhecendo que somente na UnB existem aquele monte de obras que também oferecem risco de mortes aos operários.

É um problema generalizado. Mortes notificadas apenas este ano somaram um total de onze, ou seja a classe trabalhadora da construção vive em estado de guerra de baixa intensidade. No dia seguinte ao do triplo assassinato a imprensa local mostrou inúmeras “zonas de perigo”, como chamam, por toda a cidade, em vários canteiros. Vários locais sem telas de proteção em caso de queda; falta de cinto de segurança e várias valas sendo cavadas sem escoramento ou cerca de proteção. Neste mesmo dia um operário caiu do terceiro andar de outra obra, sem tela de proteção, quebrando braço, perna, cotovelo.

A reação do governo é abrir comissão de investigação, sem pressa (vão investigar durante pelo menos um mês), SEM participação de trabalhadores, com ampla defesa legal para a patronal assassina e quanto aos familiares que se virem para enfrentarem as privações e que sofram no meio da impunidade, do padecimento emocional das mortes, das privações materiais.

Como é previsível, a burocracia sindical não patrocinou qualquer mobilização nas ruas ou canteiros em defesa de condições de segurança para os operários. E com certeza o mesmo governo que já não aplicava a lei apenas vai fazer de conta que se preocupa. Isto ocorre na capital federal, governada por Dilma e por um governo do PT que a maioria dos trabalhadores ainda encaram como representante de suas melhorias graduais. O que se mostra na verdade e como estes governos e as centrais sindicais que o apóiam como a CUT, CTB, Força Sindical garantem o silêncio dos trabalhadores frente a cada abuso e assassinato da patronal em nome de seus negócios com “seu” governo.

No entanto, o que choca, neste como nos demais casos, é o solene descaso do movimento estudantil em relação a esse triplo assassinato de trabalhadores no espaço da sua universidade. Nos dias seguintes ao triplo assassinato no espaço da UnB foi como se nada tivesse acontecido: operários que levantam as paredes e as salas e toda a infra-estrutura onde os jovens vão estudar, enfim, trabalhadores que operam em condições absurdamente insalubres, que ganham salário de fome dentro da UnB, são sepultados vivos dentro nas dependências da UnB e a reação da própria Anel não foi de mobilizar a comunidade estudantil, fazer um acampamento e marcha de protesto, para dar um basta na política de serial killer da patronal da construção civil, para se solidarizar com os operários e suas famílias.

Caberia uma ampla mobilização dos estudantes da saúde (os operários morreram levantando um hospital), de engenharia, do direito, de todas as áreas, para exigir não apenas que as comissões de investigação sejam abertas aos estudantes e operários mas sobretudo levantando a bandeira pelas comissões de segurança do trabalho dirigidas por operários e estudantes (estudantes de engenharia e de medicina por exemplo), funcionando como brigadas de auto-defesa e que mobilizassem diante de cada situação de risco para a saúde de quem trabalha. E pela entrega ao controle operário de toda empreiteira que mate operários.

Pelo fim da terceirização na construção civil e na própria UnB (que super-explora terceirizados e agora o reitor vem chorar lágrima de crocodilo decretando três dias de “luto” e vem falar em abrir comissão de investigação mas onde não entram estudantes e nem operários), pela incorporação dos terceirizados as empresas onde trabalham e sem concurso público na UNB, pelo fim desses salários miseráveis, pelo salário mínimo do DIEESE, pela escala móvel de salários para contratar mais operários e permitir mais horas de descanso para toda a categoria.

Não faz qualquer sentido que a Conlutas não promova uma mobilização geral aqui em Brasília contra esta política assassina da patronal da construção civil e impulsionando comissões por canteiro de obras que denunciem na imprensa da Conlutas – e mesmo que através de jornais clandestinos – o estado de opressão e insalubridade dominante. Essa é a tarefa elementar das correntes revolucionárias no meio de estudantes e dos trabalhadores. Inclusive como parte da luta implacável contra a burocracia sindical. E da denúncia do governo fundido por mil laços com os empreiteiros que financiam suas campanhas eleitorais, como todo mundo está cansado de saber, e depois podem matar operários impunemente.

Esse é o governo das obras da Copa do Mundo e PACs em geral, dos Jiraus, obras baseadas em trabalho escravo e na morte e no sofrimento da classe trabalhadora.

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