Sábado 27 de Abril de 2024

Juventude

LIÇÕES ESTRATÉGICAS DO CONFLITO DA USP

Transformar o comando de greve com delegados mandatados e revogáveis no organismo mais democrático de direção da luta

27 Nov 2011   |   comentários

O comando de greve com delegados mandatados e revogáveis eleitos nas assembleias de curso foi uma importantíssima conquista do movimento estudantil da USP, que constitui um exemplo para o movimento estudantil e sindical de todo o país, permitindo que o Brasil dê alguns passos no sentido de grandes exemplos de auto-organização que surgiram em outros países, como as coordenações de delegados de base na greve da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam) em 2000 e nas lutas contra a reforma universitária de Sarkozy na França em 2006. Na reunião do comando de 18/11 já eram 150 delegados, representando 3 mil estudantes nas assembleias de cursos (na proporção de 1x20). Entretanto, é necessário avançarmos muito para que o comando de greve de fato se constitua como o organismo mais democrático e unificado de direção da luta.

Por um lado, o PSOL e o PSTU vêm esvaziando o comando, negando-se a eleger delegados nos cursos ou não indo às reuniões do comando, pois na realidade não concordam com esta forma democrática de organização dos estudantes, priorizando sempre as entidades sem ver a necessidade de permitirem que se desenvolvam organismos de auto-organização durantes os processos de luta que contribuam para que as massas estudantis auto-determinem sua própria luta. Assim, buscam ignorar o Comando de Greve querendo levar suas posições diretamente para as assembléias gerais, onde há pouco espaço de discussão política.

O MNN, por sua vez, não enxerga o comando como um organismo de unificação democrática dos milhares de estudantes em luta, o qual por isso mesmo deve representar todos os setores do movimento proporcionalmente ao peso que têm. Isso se expressa não só em concordarem com o PSOL e o PSTU que o comando deve ser apenas um organismo executivo das resoluções votadas nas assembleias gerais, mas também em que não lutam para que o PSOL e o PSTU se comprometam em construir este Comando.

Não podemos concordar que as assembleias gerais, que devem ser as instâncias máximas e soberanas dos estudantes, sejam transformadas por política das direções estudantis do PSOL e do PSTU em meras reuniões burocráticas, sem discussão política, sem debater como está e o que precisa mudar no curso da luta, sem refletir os debates democráticos dos cursos, impedindo que os delegados eleitos nos cursos tenham seu “mandato” valorizado. Essas correntes transformam a assembleia geral em “comícios” ou “parlamentos”, onde a base mobilizada nos cursos não se expressa, os estudantes independentes praticamente não falam e não têm suas propostas encaminhadas, e são espectadores da luta política restrita às correntes, , pois não querem que o movimento se autodetermine e faça valer a força dos setores em luta. Esse tipo de assembleia “parlamentar” de nada serve para fazer a luta avançar na perspectiva de massificá-la e transformá-la numa força real para impor à reitoria as demandas aprovadas. Quando nem as assembléias “parlamentares” servem para pressionar por negociações com a reitoria de temas secundários como a segurança, essas correntes tudo farão para minar por dentro a força da greve, impedindo de toda maneira que seja um movimento real e de massas.

Para combater a burocratização das assembleias gerais, devemos transformar as assembleias de cursos e o comando de greve com delegados eleitos nas bases nos verdadeiros organismos de democracia direta dos estudantes, capazes de refletir e decidir os rumos da greve e das ações de luta. É por isso que o comando não pode ser meramente um organismo executivo das resoluções da assembleia geral, e sim um organismo que unifica as assembleias de curso, tomando decisões com base no voto dos delegados, e assim permitindo que os debates mais profundos estejam ligados à centralização nas nossas ações para potencializar a nossa força.

Desta forma, os mandatos dos delegados não devem ser imperativos (quando os delegados só podem votar exatamente sobre o que já foi votado em sua assembleia de curso), pois senão excluímos a possibilidade de os argumentos discutidos por determinados setores de um curso influenciarem sobre os delegados dos outros cursos. Assim como os delegados de um curso não podem expressar apenas as posições majoritárias do mesmo, e sim devem ser proporcionais a todas as posições minoritárias que se expressem na assembleia. A cada assembléia de curso, em base a uma nova avaliação da situação e dos rumos da luta, assim como do posicionamento que tiveram os delegados, esses devem ser referendados ou revogados de acordo com as necessidades do movimento.

Só assim o comando de greve dos estudantes da USP poderá se constituir como um verdadeiro organismo de frente-única e auto-organização que expresse todos os setores em luta, capaz de dirigir o movimento da forma mais democrática e unificada possível, constituindo-se assim como um exemplo para o conjunto das lutas dos estudantes e trabalhadores não só no Brasil, mas também em outros países, dando aos estudantes que lutam o poder de dirigir as lutas, rompendo a pressão burocrática das direções estudantis que colocam seus interesses acima das necessidades e decisões do movimento estudantil.

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