Sexta 3 de Maio de 2024

Nacional

ENCHENTES EM ALAGOAS E PERNAMBUCO

Tragédia no nordeste: os coronéis aliados de Lula e de Serra culpam as chuvas por mais uma tragédia anunciada!

01 Jul 2010   |   comentários

Ainda são visíveis as marcas, o sofrimento e os estragos deixados pelas ultimas fortes chuvas de poucos meses atrás na Cidade do Rio de Janeiro e em Niterói. Grande parte dos milhares de atingidos ainda estão sem casas, a esperar por prometidas moradias, tentando recomeçar suas vidas, e já nos deparamos com uma nova tragédia. As catástrofes naturalmente capitalistas devastam mais rápido que a cicatrização das feridas por elas abertas. Depois de Santa Catarina, Angra dos Reis e Rio de Janeiro, agora é a vez da região nordestina, mais especificamente em regiões nos estados de Alagoas e Pernambuco.

História que se repete como tragédia

As fortes chuvas que caíram na região, promoveram uma série de alagamentos, decorrentes de cheias de rios da bacia do São Francisco que cortam diversas cidades. Cidades inteiras debaixo d’água, casas, escolas e hospitais, rede elétrica, de esgoto e viária destruídas. O quadro chocante das imagens da destruição se materializa com os dados recentes da defesa civil. Nas 95 cidades atingidas, somam-se 57 mortes e mais de 75 desaparecidos. O numero de desabrigados chega a 26.618 em Alagoas e 26.966 em Pernambuco, alem de 47.897 e 55.643 desalojados respectivamente, e mais milhares de casas afetadas [1].
Estima-se que centenas de pessoas estejam isoladas e sem aceso a água potável e comida. Em um vilarejo no interior de Alagoas, mais de 150 pessoas tiveram que se alimentar de barro para sobreviver. Milhares se encontram em condições parecidas, sem aceso a comida e a água.

Frente ao descaso e a demora do resgate e da assistência por parte dos governos estaduais e federal, os atingidos cansaram de esperar e começaram eles mesmos a organizar mutirões de resgate e de auto-ajuda para reconstruir as cidades. Limpam as casas e as ruas, reerguem as casas e até reativam as ligações de energia elétrica.

Os estragos das enchentes somam-se agora com a eminência de doenças. Já se registram casos de leptospirose e de diarréia, elem de ataques de animais peçonhentos e casos de problemas respiratórios. Se o suporte do sistema de saúde já era precário, agora se agrava com a dificuldade de aceso e com a destruição dos postos de saúde e dos hospitais, com danos em 22 estabelecimentos. O povo está à própria sorte.

História que se repete como farsa

O pouco alcance dos resgates e das medidas emergências por parte dos governos contrasta com o ecoar dos discursos que objetivam culpar a natureza pela tragédia. Lula já declarou que “não adianta tentar achar culpados” e os governos estaduais rapidamente culparam as fortes chuvas. A hipocrisia de tentar desviar suas próprias responsabilidades não tem nada de original, pois repetem a mesma farsa usada pelos governos na ultimas tragédias.

Porém, tamanha hipocrisia não passa a menor prova. Estudos da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) já constatavam o alto risco das condições de moradias nas cabeceiras e regiões alagadiças dos rios, processo que vem se intensificando desde os anos 80. Em entrevista, o professor de Engenharia da UFAL, Valmir Pedrosa, afirma que “ausência de obras de infra-estrutura e a construção de novas barragens” [2] foram determinantes para a tragédia.

Enchentes como essa já vem ocorrendo em menor grau, há muito tempo na região, como a grande enchente de 1988, que ocorreu em um dos mesmos rios de agora e deixou centenas de pessoas desabrigadas. Não por acaso, frente à continuidade das tragédias, o discurso da burguesia continua a se repetir como farsa.

A condição social de pobreza e miséria que leva grande parte dos habitantes da região a terem que morar nas encostas dos rios, em áreas de risco e em moradias precárias, não tem nada de natural, é conseqüência direta da desigualdade e da anarquia capitalista.

Nem bem aberto o período eleitoral e já se acentua o discurso demagógico de Lula e do PT em coro com os grandes empresários, do Brasil promissor, do Brasil potência, do Brasil que rompeu seus laços com o atraso e se alça como país do futuro. As catástrofes que vem se seqüenciando águam literalmente esse discurso. Se no Rio de Janeiro as últimas enchentes desvendaram a pobreza e miséria consentida na cidade das futuras Olimpíadas, as enchentes agora em Alagoas e Pernambuco desnudam toda a pobreza e o atraso da terra dos Coronéis. As faraônicas obras do rio São Francisco destinadas a abastecer as grandes plantações do agronegócio contrastam com a pobre agricultura familiar. A tragédia acaba por revelar a ocorrência de trabalho escravo e toda a expressão do atraso da região. Não à toa Lula deixou escapar que as cheias no nordeste e o terremoto no Haiti “são tragédias quase que semelhantes” [3]. A desigualdade do desenvolvimento nordestino não entra no discurso demagógico dos governos , mas está na principal causa da tragédia.

A cada nova tragédia os governos e a burguesia dão mostras cabais de que não podem resolver os problemas sociais, não podem acabar com o problema estrutural de falta de moradia digna, e por isso não podem evitar novas catástrofes, mesmo elas já estando anunciadas.

Os governos e a burguesia não só não podem impedir novas tragédias, como respondem a elas de forma reacionária. Destinam milhões para favorecer os coronéis, destinaram bilhões para salvar os grandes capitalistas na crise econômica, e frente à tragédia de tamanha proporção destinam míseros R$ 275 milhões, com a projeção absurda de reconstruir as cidades de volta ao estado de antes das enchentes em 10 anos (uma geração depois!). Prometem a construção de novas moradias, mas os desabrigados das enchentes de 1988 ainda esperam essas promessas, enquanto ainda estão alojados em abrigos improvisados sem as mínimas condições. Há apenas 87 abrigos para mais de 27 mil pessoas desabrigada, e nesses as condições são subumanas com a convivência junto a animais.

Mesmo os poucos mantimentos enviados não chegam, já que são desviados para favorecer as aristocracias regionais na política de favorecimento dos currais eleitorais, os mesmos políticos que compõem a base aliada tanto do governo Lula como do candidato tucano Serra. A corrupção é inerente ao capitalismo mesmo nas tragédias.

Ainda assim, frente à fome e o desespero dos atingidos, esses mesmo governos destinam 2.000 policiais da tropa de militares da Força Nacional de Segurança para reprimir o povo faminto quando esses tentam ter acesso a comida, água, medicamento e outros donativos. São incapazes de evitar as tragédias, antes são seus próprios causadores, frente à catástrofe deixam o povo a própria sorte, e quando o povo tenta por suas próprias vias obter donativos a única resposta, nas palavras do sargento Jairo de Góis, é “que os militares irão conter o avanço dos flagelados”, “para manter a ordem e evitar saques a estabelecimentos comerciais” [4]. A propriedade privada e a dita ordem burguesa estão acima miséria e da necessidade de milhares frente uma grande catástrofe.

O silencio sepulcral da burocracia sindical

Não bastasse o bloqueio midiático, acentuado com a euforia da Copa do Mundo, a burocracia sindical com seu absoluto silêncio vem cumprindo o nefasto papel de contribuir ainda mais para a secundarização da catástrofe, com o claro intuito de não expor o governo Lula e sua candidata Dilma nas eleições. Silenciam e apesar do seu imenso aparato, não movem uma única palha para cercar de solidariedade ativa e independente a tragédia, impedindo que a partir dos sindicatos e dos locais de trabalho inicie-se uma aliança operária popular com um programa independente dos trabalhadores frente a políticas burguesas de hipócrita solidariedade. É necessário que os trabalhadores superem suas direções burocráticas e exijam da CUT, CTB e outras centrais burocratizadas que rompem seu silencio e se coloquem ativamente por uma campanha de solidariedade ativa e independente frente à tragédia.

Por um programa operário

Os governos e a burguesia são incapazes de solucionar as desigualdades sociais e de possibilitarem moradias dignas para todos, e por isso, só podem oferecer novas tragédias para os trabalhadores e o povo pobre. Frente à tragédia é necessário que as organizações operárias, estudantis e populares, em especial a ANEL e a Nova Central, fundada no CONCLAT, combinem as denuncias das políticas demagógicas dos governos a uma campanha de solidariedade independente desde os sindicatos, locais de trabalho, colégios e universidade.

Frente à falta de água e comida, remédio e mantimentos, que os trabalhadores organizados confisquem os estoques dos supermercados e distribuam ao conjunto dos necessitados, ao mesmo tempo em que controlem eles mesmo as doações e donativos, única forma de evitar que sejam desviados. Que frente à falta de abrigos, expropriem as casas usadas para especulação imobiliária e as grandes mansões dos coronéis e aristocratas do agronegócio. Para solucionar a falta de moradias dignas, por de pé um plano de obras publicas controlado pelos sindicatos e financiado com impostos progressivos sobre as grandes fortunas.

[1Dados retirados do UOL Notícias, 04/06/2010.

[2O Globo, 26/06/2010

[33-UOL Notícias , 27/06/2010

[44-Da Agência Brasil, 30/06/2010.

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