Segunda 29 de Abril de 2024

Internacional

I Congresso da LER-QI

Teses internacionais

08 Aug 2007 | O presente artigo se localiza no marco da abertura do período de preparação do I Congresso da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional, e visa apresentar uma caracterização sintética que parte das principais discussões realizada em comum com nossa organização internacional a FT-QI, sobre a atual situação internacional, e as tarefas que dela se depreendem para os revolucionários. Assim, partimos de uma reflexão sobre a relação entre a luta de classes, a situação da economia e a relação entre os Estados, para definir os elementos mais dinâmicos da situação internacional, no esforço de aportar para o resgate de uma prática militante baseada no internacionalismo revolucionário.   |   comentários

1 Caracterizamos que o fenómeno mais importante da situação internacional é o processo de decadência histórica do imperialismo norte-americano, que se aprofundou a partir da intervenção no Iraque. A invasão foi um erro estratégico, já que ao invés de disciplinar as demais potências imperialistas e redefinir as vias de dominação imperialista no Oriente Médio, tem levado os EUA a um atoleiro indiscutível ao mesmo tempo em que debilita seus aliados na região, como Israel, que se encontra em uma importante crise estatal após o fracasso da ofensiva contra o Líbano no ano passado. Este mesmo processo é a base da ascensão do Irã como potência regional, que tem conseguido capitalizar em grande medida o sentimento anti norte-americano que se aprofundou na região após a invasão do Iraque, e que tem obrigado o imperialismo a pactuar com o integrante do “eixo do mal” uma saída para o Iraque. Tem levado também a uma maior tensão inter-estatal, como a que se expressa na atualidade com a crise entre os EUA e a Rússia sobre a instalação de um sistema anti-mísseis no Leste Europeu. Os EUA tentam com este movimento disciplinar a Rússia após o debilitamento de sua política de alentar as “revoluções coloridas“ [1] para garantir seus interesses na região. A Rússia, por sua vez, busca manter sua zona de influência no Leste e aprofundar sua localização como potência regional. A tendência é que as tensões na relação entre os Estados siga se aprofundando no próximo período, ainda que não esteja dado que possam avançar para enfrentamentos mais abertos. Isto porque apesar de relativa debilidade dos EUA, não há no panorama internacional nenhuma outra potência capaz de fazer frente a seu poderio político e, sobretudo, militar. Em relação às semi-colónias latino-americanas, este processo levou a um enfraquecimento da autoridade do imperialismo norte-americano sobre a região, o que abriu brechas que são aproveitadas por governos nacionalistas burgueses atenuados, como os de Chávez e Evo Morales.

2 Entretanto, seria um erro cair numa visão mecânica de que a decadência do imperialismo norte-americano leva diretamente a um giro à esquerda na situação internacional, ou a um favorecimento direto do movimento de massas. Como expressão disso vemos a ascensão eleitoral de governos de direita na Europa, que outrora foi o tradicional reduto da social-democracia, como o de Sarkozy na França e de Angela Merkel na Alemanha. O atual presidente francês foi eleito com base em uma plataforma de ataques neoliberais ao Estado de bem-estar social, como restrição do direito de greve dos traba-lhadores da educação e de transporte inicialmente, e o favorecimento dos mais ricos com redução de impostos, o que lhe rendeu a comparação com Bush, enquanto incorporava em seu discurso reacionários aspectos nacionalistas e anti-imigração absorvidos da ultra-direita de Le Pen. Isso corresponde a um giro à direita, sobretudo das classes médias européias, no período após a vitória do Não na constituição da União Européia, que termina sendo a base de uma recomposição mais reacionária deste projeto por parte da burguesia dos imperialismos europeus. Ainda que não esteja dado no imediato em que proporção estes governos conseguirão desferir seus ataques e, acima de tudo, qual será a resposta do movimento de massas frente a isso, este é um elemento importante que deve ser levado em conta. Para esta situação cumpriram um papel importante as direções sociais liberais do movimento de massas, que impediram que a classe operária interviesse com seus métodos nas mobi-lizações passadas. No que diz respeito à situação do Iraque, há um aprofundamento de uma guerra civil de caráter reacionário entre xiitas e sunitas, que apesar de se combinar com elementos de resistência à ocupação, tem se distanciado crescen-temente do cenário de novembro de 2004, quando ambos os setores combatiam simultaneamente as tropas imperialistas. Frente a isso os EUA seguem discutindo uma saída que, apesar de enormemente rebaixada em relação ao seu projeto inicial, preserve minimamente sua dominação, baseada na imensa destruição e assassinato dos iraquianos. Isso poderia se materializar numa retirada gradual das tropas, mantendo algum contingente permanentemente, e na manutenção de um governo capacho, plano que pode ser tranqüilamente compartilhado pelo Partido Democrata se estes ganham as próximas eleições presidenciais.

3 Esta situação se dá no marco de um crescimento da economia mundial, que apesar de hoje passar por um momento de inflexão, tende a se manter no próximo período. No que diz respeito aos países asiáticos, a China segue mantendo um crescimento de 10%. Como pano de fundo destes índices, está a restauração capitalista dos ex-Estados operários do Leste, além da abertura do mercado chinês com sua numerosa e barata mão-de-obra. As economias latino-americanas, por sua vez, mantêm a projeção do crescimento na média de 5% (Cepal), tendo como principais impulsionadores as economias da Venezuela e da Argentina. Esta expansão, que já dura quatro anos, é motorizada em grande parte pela alta dos preços de commodities, das quais as economias latino-americanas são expor-tadoras. O crescimento económico tem atuado no último período como um importante elemento estabilizador em vários países da América Latina, e mesmo no Brasil, onde os índices são inferiores à média. Entretanto, a turbulência que tomou conta dos mercados financeiro e creditício dos EUA nas últimas semanas, comprova que o atual ciclo de crescimento económico não é orgânico. Assim, o estímulo ao consumo possibilitado pelo crédito barato nos EUA, com suas baixas taxas de juros que levou a um aumento da especulação imobiliária nos últimos anos, dá sinais de desgaste, podendo se reverter numa desvalorização maior do dólar numa tentativa de manter os atuais níveis de consumo. Ainda que no imediato as projeções de crescimento da economia mundial se mantenham, tendencialmente poderia afetar o ciclo segundo o qual os EUA atuam como consumidores em nível mundial, e a China como produtora de manufaturas. Se isso acontecer, os efeitos para o Brasil poderiam se reverter numa redução das exportações das commodities, das quais um grande volume são destinadas à China, e por outro lado tornar os demais produtos brasileiros menos competitivos pelo seu encarecimento, fruto da valorização do real em relação ao dólar, no mínimo. Ainda que seja prematuro traçar um prognóstico sobre os ritmos de uma possível desvalorização do dólar, ou do avançar deste ponto de inflexão que se abriu nas últimas semanas, se explicita a dependência e, portanto, vulnerabilidade das economias das semicolónias latino-americanas.

4 No que diz respeito à classe operária, vemos elementos que reafirmam o processo, ainda lento, mas sustentável, de recomposição da subjetividade do movimento operário, que se expressa em setores de vanguarda e segue tendo como eixo a América Latina. O próprio crescimento económico, se por um lado atua como estabilizador favorecendo o conservadorismo das classes médias como na Argentina, por outro possibilitou que a classe trabalhadora tenha se recomposto do ponto de vista objetivo, o que favoreceu a que vários setores tenham saído a lutar. Apesar de ainda primarem as ilusões reformistas no continente, e de as lutas serem motivadas fundamentalmente por reivindicações económicas, há setores da classe operária que começam a realizar uma importante experiência com os governos nacionalistas-burgueses light. Os exemplos mais importantes na presente situação são os operários da Sanitarios Maracay, que apesar de serem um setor de vanguarda, que mantém suas ilusões no chavismo, seguem exigindo a estatização sem pagamento de indenizações desta fábrica, tendo resistido à repressão da polícia que atua em nome da burguesia e do governo de Chávez. Ou ainda os mineiros de Huanuni que retomam seus métodos históricos de mobilização, como as barricadas, para exigir de Evo Morales a estatização da mina e o cum-primento de suas promessas feitas com os decretos editados no ano passado, para citar os mais expressivos. Ou ainda, num patamar mais inicial, o processo de ressurgimento de lutas operárias no Brasil desde abril, com algumas se transformando em políticas ao se enfrentar à ameaças de Lula, como a do Ibama e do Incra, e o aprofundamento do processo de reorganização sindical, como expressamos nas páginas desse mesmo jornal. Surgem também fenómenos de massas como a heróica greve geral deflagrada pelos professores do Peru, que a exemplo da Comuna de Oaxaca no México, se enfrentaram nas ruas com as Forças Armadas enviadas pelo presidente Alan García para reprimi-la. Neste marco, impõe-se como tarefa a luta para que a partir destas mobilizações a classe operária avance em sua independência de classe, superando a fragmentação imposta por anos de neo-liberalismo que dividiu, e busca dividir ainda mais, suas fileiras entre precarizados, terceirizados etc. Isso deve se ligar à luta para que o conjunto da classe trabalhadora se coloque como sujeito político inde-pendente, capaz de se pór à frente de todos os setores explorados da população e responder as suas demandas.

5 Hoje é chave travar o combate para desmascarar as novas media-ções surgidas, como o chavismo, que minam a independência de classe buscando canalizar o descontentamento das massas por dentro limites do capi-talismo. Neste sentido, reiteramos a im-portância das iniciativas que temos impulsionado, como o chamado à campanha internacional pela nacionalização sem pagamento de indenização dos setores chave da economia e contra as empresas mistas de Chávez, bem como a luta por um parti-do operário independente contra o PSUV, e por um governo operário e camponês em oposição o “socialismo do século XXI” , como um combate que busca respon-der aos principais desafios postos pela rea-lidade internacional hoje.

[1Por “revoluções coloridas” , da qual a Revolução Laranja ocorrida na Ucrânia entre 2004 e 2005 foi a mais expressiva, foram processos no Leste Europeu marcados por mobilizações apoiadas pelo imperialismo que derrubaram governos apoiados por Moscou no período de 2003 a 2005. Hoje, os governos que ascenderam neste processo enfrentam escândalos de corrupção, e crises profundas.

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