Quarta 8 de Maio de 2024

Internacional

HAITI

Sob ocupação e morte: fraude nas eleições costuradas pela burguesia e o imperialismo

01 Dec 2010   |   comentários

A situação do povo haitiano segue piorando. O surto de cólera que assola o país há um mês já foi responsável pela morte de 1603 pessoas, e está longe de ser controlado. Seis em cada dez infectados são crianças. O país segue assolado pela epidemia , a devastação mais que vigente produto do terremoto no início do ano, e a ocupação criminosa das tropas imperialistas e da Minustah, comandada por Lula. Enquanto cerca de 1,5 milhão de haitianos vivem amontoados em barracas, tomando água contaminada, e sem as menores condições básicas de higiene, o imperialismo e a ONU gastam milhões de dólares mensais para manter as dezenas de milhares de efetivos repressivos para seguir massacrando o povo haitiano. Com este pano de fundo, o fictício regime democrático burguês haitiano realizou suas eleições presidenciais em 28 de novembro. Apesar de a burguesia imperialista ter dado grande destaque para estas eleições, numa tentativa de ofuscar a imensa crise social e política que assola o país, o resultado do pleito eleitoral é nova revolta popular e indícios de fraude em favorecimento do candidato oficialista, Jude Celestin.

As eleições, que também renovam um terço do Senado e as 99 cadeiras da Câmara dos Deputados, enquanto as legislativas foram adiadas, encontra-se agora sob fortes denúncias de fraude. Isso já era de se esperar, afinal o país encontra-se sob ocupação militar desde 2005, situação em que qualquer tipo de pleito minimamente legítimo é completamente impossibilitado. Os organismos internacionais como a OEA (Organização dos Estados Americanos) e a Comunidade do Caribe se apressaram em declarar que elas teriam sido legítimas. Dos 18 candidatos que se apresentaram, 12 firmaram uma declaração na qual denunciam a fraude. A votação foi organizada pela CPE (Comissão Provisória Eleitoral), cuja independência em relação ao governo Préval é questionada. De acordo com as pesquisas de opinião, Mirlanda Manigat teria 36% das intenções de voto, contra 20% de Celestin, do partido oficialista Unidade, enquanto “Sweet Micky” teria outros 14%. Nenhum dos candidatos contava, portanto, com os 50% necessários para resolver a disputa no primeiro turno. Neste sentido, Mirlanda Manigat já abandonou a declaração de denúncia contra a fraude, tendo se declarado em favor de participar do segundo turno das eleições. Quase cinco milhões de haitianos haviam se registrado para votar, tendo denunciado desde as primeiras horas da manhã a profunda desorganização em que o país se encontra, desmentindo a imagem de “bom serviço” que a ocupação militar atuante nas eleições quer vender ao mundo. Para completar o quadro atentados se deram contra Martelly que divulgou que homens armados atiraram contra simpatizantes do candidato num comício em Aux Cayes, no sul. Uma pessoa teria morrido, e é provável que novos enfrentamentos entre grupos rivais, e demonstrações de revolta popular, em que se manifestam o cansaço e a raiva por sua situação de miséria, tomem novamente as ruas. Este cenário aponta para uma instabilidade política profunda, a despeito dos esforços que a Minustah e o imperialismo, ao lado do fantoche René Preval, estão fazendo para propagandear estas eleições como mais organizadas e pacíficas que as de 2006.

No próprio dia 28 de novembro milhares de haitianos foram às ruas exigindo a anulação das eleições. Como não podia deixar de ser, foram brutalmente reprimidos pelas tropas da Minustah, tendo nas tropas brasileiras, as mesmas que ocuparam o Complexo do Alemão no Rio de Janeiro nos últimos dias, sua linha de frente. Estas manifestações são uma continuidade de uma série que aconteceram no país após o surto de cólera, quando os haitianos marcharam até o alojamento das tropas da Minustah exigindo sua retirada. Esta revolta popular se transformou em enfrentamentos contra as tropas da ONU em diversas regiões do país, como em Cap-Haitien, Quartier Morin (ambas a cerca de 300 km de Porto Príncipe), Hinche (130 km da capital) e diversas vilas e cidades do norte. Naquele momento, as tropas de ocupação não tiveram dúvidas: abriram fogo contra a população que se manifestava, e deixando pelo menos duas pessoas mortas, e dezenas de feridos. Ninguém duvida que esta seja a resposta da Minustah e das tropas imperialistas, caso o movimento de revolta popular contra o resultado eleitoral se amplie.

Candidatos às eleições: nenhuma crítica à Minustah e às tropas imperialistas

Sob as botas das tropas de ocupação da Minustah e do imperialismo, René Preval, que governou o país durante os últimos cinco anos, deverá ceder seu lugar para o próximo governante fantoche de Miami e Washington, responsáveis pela intervenção ocorrida no país após o golpe perpetrado contra o ex-presidente Jean Bertrand Aristide em 2004. Aristide, um padre tido como populista que em 1994 havia sido reconduzido ao poder pelo ex-presidente norte-americano Bill Clinton implementou os planos de privatização do FMI que terminaram de acabar com as bases da devastada economia haitiana, foi derrubado por um golpe direitista apoiado por George W Bush, apesar de ter cumprido com todos os ditames impostos pelo imperialismo. O movimento Famni Lavalas segue proibido, e seu líder, Aristide impedido de voltar ao país. Desde então, o país está ocupado pela Minustah e foi governado por René Preval, que sempre atuou como um fantoche das forças de ocupação e do imperialismo.

Os 18 candidatos presidenciais nas atuais eleições são em sua maioria membros imigrados nos EUA e Europa da burguesia haitiana amiga de Miami e Washington, que podem falar muito em nome dos interesses do povo haitiano, mas que estão em realidade dispostos a servir ao imperialismo. Os três candidatos principais são Mirlanda Manigat, que viveu na França e é esposa do ex-presidente Leslie Manigat, apoiada por setores da burguesia internacional expressos em meios como a revista Time, seguida do candidato do presidente Rene Preval, Jude Celestin, cuja principal promessa de campanha é permitir o retorno de Aristide, e por fim, “Sweet Micky” Martelly, cantor de música pop. Esta campanha eleitoral do Haiti foi divulgada como uma das mais caras da história recente, e nenhum dos candidatos se declarou contrário, ou mesmo crítico, à continuidade da ocupação do país pelas tropas imperialistas e da Minustah. Pelo contrário, são partidários da reacionária posição de que é preciso aprofundar a aproximação com as organizações internacionais a serviço do imperialismo como a ONU para que o país seja “reconstruído” e receba ajuda internacional. Desde o terremoto foram prometidos US$ 5,5 bilhões como assistência, entretanto quase nada deste dinheiro chegou ao país. E se chegar, seguramente servirá para prover os lucros das grandes empresas, como a construtora brasileira Odebrecht, que como abutres rondam o Haiti esperando que sua “reconstrução” funcione como um lucrativo balcão de negócios, enquanto o povo segue imerso na mais profunda miséria.

Por uma campanha de solidariedade operária e popular com o povo haitiano

Frente a esta situação que nos solidarizamos com o povo haitiano, que justamente demonstrou sua revolta contra as tropas de ocupação, e o surto de cólera, que não tem nada de “natural”, mas é parte indissociável da política de saque imperialista e de ocupação. Nos colocamos ao lado do povo haitiano que tomou as ruas nas últimas semanas. Fazemos coro ao seu clamor para que as tropas da Minustah e do imperialismo se retirem imediatamente do Haiti. Esta campanha deve se intensificar ainda mais, pois para além da inadmissível ocupação do Haiti, as tropas consideradas de “elite” brasileiras, mostram cada vez mais o caráter reacionário que cumprem dentro e fora de nosso país. A ocupação militar no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, demonstra que o “treinamento” recebido pelos militares brasileiros no Haiti visa ser utilizado contra a população das favelas, com o toque de recolher, varredura nas casas, disseminando medo e opressão imposto aos moradores. Esta é mais uma faceta do “progressismo” lulista, que será continuado na figura de Dilma Roussef. É preciso impulsionar a mais ampla campanha em defesa da retirada imediata das tropas de Lula do Haiti, e do imperialismo.

Denunciamos também a todos os organismos internacionais do imperialismo, que a despeito de sua demagogia buscam garantir os interesses da burguesia imperialista no país. Assim se demonstrou enquanto em meio ao terremoto que assolou o país o início do ano, a ONU negou atendimento médico aos feridos. Assim se demonstra hoje, enquanto milhares morrem de cólera, doença que há mais de cem anos não existia no Haiti, a política do imperialismo e de seus organismos é aumentar os efetivos militares. Por tudo isso, é que os trabalhadores haitianos devem ver nos seus irmãos de classe da América Latina e do mundo os únicos que realmente podem prestar uma verdadeira solidariedade, a partir de seus métodos próprios. É preciso que as organizações de esquerda, sindicatos, de juventude, de direitos humanos, de mulheres tomem para si esta campanha.

Pela retirada imediata das tropas de ocupação do imperialismo norte-americano e da Minustah chefiada por Lula!

Contra a farsa eleitoral avalizada pela ONU, OEA e MInustah!

Por comissões independentes formadas pelos sindicatos e organizações populares para investigar as causas da tragédia da epidemia de cólera e punição aos responsáveis!

Que os lucros dos grandes monopólios e toda ajuda humanitária sejam utilizadas para o atendimento médico e social da população!

Que os recursos sejam controlados pelas organizações populares e dos trabalhadores!

1-Para mais informações leia Revolta popular é reprimida brutalmente pela Minustah em www.ler-qi.org

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