Domingo 28 de Abril de 2024

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PELA RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL

Rumo ao III Congresso da Liga Estratégia Revolucionária

14 Aug 2012 | Nos dias 18 e 19 de agosto se realizará o III Congresso da Liga Estratégia Revolucionária, integrante da Fração Trotskista – Quarta Internacional. Será um momento onde dezenas de delegados, militantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Campinas, Marília, Franca, ABC paulista, entre outros estarão reunidos para deliberar e debater as tarefas que temos que nos colocar como revolucionários na atual situação. Contaremos com a presença de delegações internacionais, com Titin Moreira, dirigente setentista do Partido dos Trabalhadores Socialistas (Argentina), e do companheiro Pablo Torres, dirigente do Partido dos Trabalhadores Revolucionários – Classe Contra Classe (Chile). Neste artigo, buscaremos expressar as principais discussões que levaremos adiante nesta jornada e que estão sendo debatidas na organização em dois meses de pré-Congresso.   |   comentários

A crise capitalista se aprofunda e abre novas perspectivas para os revolucionários

Há 5 anos do início da crise capitalista com a quebra do banco Lehman Brothers, os planos de resgate e todos os mecanismos utilizados pelos capitalistas para ganharem tempo, como os resgates aos bancos, impediram a explosão de cracks generalizados até o momento, mas aprofundaram as contradições econômicas, que já começam a dar lugar a novos fenômenos políticos e sociais novos que questionam a estabilidade desta ordem social com ameaças de novas quebras, inclusive de Estados e já não mais de bancos. Apesar de no último ano a crise ter tido seu epicentro na Europa, não se pode perder de vista que a mesma se iniciou nos Estados Unidos, principal imperialismo mundial, em evidente decadência de hegemonia. Não deixar de olhar para esta crise desde um ângulo global é o que permite ver as novas tendências que podem estar colocadas, tanto do ponto de vista da luta de classes, quando das tendências de surgimento de novos “elos débeis”, como hoje se expressa na Europa, mas também de novas possíveis disputas interimperialistas, como pode vir a ocorrer entre EUA e Alemanha.

Na Europa, os ataques ao proletariado e à população pobre abriram espaço para massivas greves e mobilizações, acompanhado da emergência de uma juventude em todo o mundo. Estas mobilizações em distintos países, nos EUA, na Europa de conjunto, junto aos processos do mundo árabe, vieram colocando a luta de classes cada vez mais na situação internacional, com a juventude protagonizando seu maior levante desde 1968. Até mesmo o jornal britânico Financial Times há pouco constatou que uma das quatro tendências que está surgindo como resposta à crise é o que eles chamaram de “tendência anti-capitalista / socialista”. Não somente retornam processos de luta de classes, como mobilizações de massa, mas há também um novo interesse pelas idéias marxistas que deve ser encarado como um importante espaço de atuação para os revolucionários.

Todos estes processos abrem a possibilidade de que, ao calor destas lutas, seja possível superar as idéias que o proletariado mundial ainda carrega, ou seja, todo o atraso fruto da herança de décadas de stalinismo (mal chamado “socialismo real”) e dos últimos 30 anos marcados pela ofensiva neoliberal, o que nós caracterizamos como um período onde a burguesia “restaurou” sua dominação e sua hegemonia sobre a classe operária. Este é o cenário que permite que as variantes que se fortalecem dentro desta “tendência anti-capitalista / socialista” sejam as reformistas de esquerda como o Syriza na Grécia ou a Frente de Esquerda na França.

Há cinco anos da crise capitalista, abre-se a necessidade de encararmos a tarefa de medir como as principais organizações do movimento trotskista internacional responderam aos novos desafios postos pela crise capitalista. Ao contrário do senso comum que entende a luta política entre as organizações de nosso movimento, o trotskismo, como mera disputa por posições sem conteúdo, queremos retomar o debate de estratégia para torná-lo vivo, tal como em seu tempo foi fundamental todos os debates no interior das distintas correntes que compunham o marxismo russo e internacional para que o partido bolchevique se constituísse como a direção capaz de elevar a classe trabalhadora russa à vitória na maior revolução de todos os tempos. Estas novas experiências e posicionamentos diante da luta de classes recolocam como tarefa central a luta política, teórica e ideológica entre as distintas vertentes “anti-capitalistas” e “socialistas” (além de suas versões anarquistas e autonomistas), mas também com as vertentes trotskistas que poderiam neste momento apresentar o trotskismo como alternativa à crise internacional – diferentemente de apoiar programas reformistas, como ocorreu na Grécia. Neste país, o Secretariado Unificado apoiou integralmente o Syriza e seu programa. No caso do PSTU/LIT, a adaptação ao reformismo de esquerda se expressou na política frente às eleições gregas de uma “frente de esquerda” entre o Syriza, o KKE e outras agrupações. Ou seja, não somente o Syriza, mas incluindo os stalinistas que cumprem claramente um papel de freio ao movimento operário.

Os novos elementos transitórios da situação nacional e a política nas greves em curso

Os últimos anos de crescimento econômico no Brasil e de um governo dirigido pelo PT deram lugar a ilusões gradualistas e reformistas de massas. A combinação entre uma política econômica herdada do governo Fernando Henrique Cardoso, o avanço na precarização do trabalho com aumento dos postos de trabalho, uma economia baseada no crédito e orgânica relação do governo Lula com a burocracia sindical foram fatores decisivos para aprofundar a crise de subjetividade da classe operária brasileira, que foi avançada ao ponto de criar um partido de trabalhadores e anos depois ver o mesmo dirigindo o país para a burguesia. Os últimos anos que chamamos de “lulismo” colocou imensas dificuldades para a atuação do conjunto da esquerda, e agora começa a passar novas provas diante do segundo ano do governo de Dilma Roussef, que poderíamos chamar de “lulismo sem Lula”.

As mudanças das condições da economia mundial mostram que o Brasil está mal preparado, uma vez que a orientação de exportação de commodities (matérias primas) e o real valorizado implicaram numa baixa do setor manufatureiro. Os elementos “especiais” do caráter semi-colonial do Brasil tendem a mostrar seu caráter conjuntural e tendem a voltar a pesar as raízes estruturais de um país subordinado ao imperialismo. Ou seja, não está descartada a possibilidade de que um novo capítulo da crise capitalista possa se abrir e converter a países como o Brasil nos novos elos débeis da crise capitalista mundial.

O esforço colocado por agora é identificar nas mudanças na situação quais são os elementos transitórios que já podem indicar tendências de maior agudização da luta de classes, combinando à necessidade de atuação e preparação dos revolucionários nestes novos processos. A maior onda de greves do funcionalismo federal desde 2003 coloca um desafio ao governo de Dilma Roussef e começam a se expressar com mais forças as debilidades de um “lulismo sem Lula”. Os ataques na General Motors de São José dos Campos expressam uma antecipação de setores patronais que buscam com ameaças de demissão flexibilizar direitos trabalhistas abrindo as portas para demissões em massa e para que outras montadoras e fábricas de outros ramos façam o mesmo. As rebeliões dos operários da construção civil, que há anos vem ocorrendo, são a expressão da contradição criada no próprio governo, do avanço do “crescimento” sobre as costas de um proletariado negro e super-explorado que já começam a dar mostras que não será sem resistência. Em Camaçari, na Bahia, a Bridgestone passa pela maior greve da história da indústria, superando os 41 dias dos metalúrgicos do ABC em 79.

Discutiremos no Congresso a necessidade de uma grande campanha para que a CSP-Conlutas, as Intersindicais, sindicatos do funcionalismo dirigidos pela esquerda anti-governista impulsionem uma coordenação nacional destas lutas, que necessitam para superar a fragmentação e a burocracia sindical para dar um sinal claro ao governo e aos patrões que não vamos aceitar arrocho salarial, condições de trabalho semi-escravas e que a crise seja descarregada sobre as nossas costas. Essa campanha irá se combinar com uma forte campanha contra a repressão aos lutadores, e ao povo pobre que é massacrado cotidianamente nas favelas e periferia onde ocorre uma guerra civil de baixa intensidade, que consideramos que devemos impulsionar desde o Sintusp onde toda a vanguarda está sendo atacada incluindo muitos de nossos militantes, e em defesa do direito de greve, que o governo vem atacando, o que coloca uma nova prova à esquerda anti-governista no Brasil.

Impulsionar uma grande “ofensiva ideológica” pelas idéias do trotskismo

As análises internacionais e nacionais estão a serviço de no âmbito da prática das organizações revolucionárias em seus distintos estágios de construção hierarquizar as tarefas concretas que uma pequena organização como a nossa deve levar adiante para aportar para a construção do partido revolucionário – o que não será fruto do nosso desenvolvimento evolutivo. Uma tarefa é aprofundar a elaboração e formação teórica, assim como a propaganda das idéias do trotskismo, colocando como eixo de nossa organização no próximo período impulsionar uma enorme “ofensiva ideológica” das idéias de Leon Trotsky, que ao lado de Lênin, se apresentou como o mais estratégico dentre os marxistas do século XX.

Centralmente na USP, mas também na Unicamp e na Unesp de Marília, além de em outros locais de trabalho e de estudo, iremos durante todo este semestre impulsionar um ciclo de debates chamado “Porque Trotsky?” buscando por um lado debater com todo o senso comum (ou as ideologias diretamente criadas pela academia) que reinam na universidade e entre a classe trabalhadora sobre o papel que cumpriu o trotskismo no século XX. Por outro lado, queremos com estas atividades, que culminarão num grande ato em homenagem à Leon Trotsky, expressar como as idéias marxistas revolucionárias, que para nós é o trotskismo, são uma alternativa real e concreta diante da crise capitalista.

Uma estratégia de construção para emergir nos próximos processos de luta de classes

No próximo período consideramos necessário aprofundar a construção da “Juventude Às Ruas”, que tem sido uma experiência entre militantes da LER-QI e independentes a partir da intervenção nas lutas do movimento estudantil, mas também nas lutas de trabalhadores da USP, Correios, bancários, professores e outras categorias. Uma juventude que combate pelas idéias revolucionárias na Universidade, e que se coloca concretamente ao lado dos trabalhadores diante dos ataques que já começam a surgir e da precarização do trabalho, que atinge principalmente as mulheres, os negros e a juventude trabalhadora. Na USP viemos impulsionando a luta ao lado das terceirizadas da União e da BKM desde o último ano, assim como estivemos na linha de frente da luta contra a permanência da polícia dentro da Universidade, onde grito de nossa juventude era “fora a polícia da USP, dos morros, bairros e favelas”. Na Unicamp organizamos jovens trotskistas que interviram em debate com importantes intelectuais durante o “Colóquio Marx e Engels”, na Unesp de Marília viemos, junto a independentes, dando importantes exemplos de luta para o movimento estudantil, como foi barrar a terceirização do restaurante e organizamos uma nova camada de jovens que passam a se reivindicar como parte da “Juventude Às Ruas”.

Nossa atuação como ala revolucionária no Sindicato de Trabalhadores da USP vem buscando colocar na ordem do dia os elementos da tradição trotskista no movimento operário, lutando pelas formas amplas de democracia operária e pela independência diante do estado. Na luta contra o corporativismo buscamos estar sempre presentes nas campanhas em defesa dos trabalhadores, como fizemos levando uma importante delegação para São José dos Campos na GM e como queremos buscar fazer posicionando o Sintusp como uma alternativa que busca não somente “fazer a diferença na luta de classes”, mas se coordenar com outros sindicatos e movimentos para questionar os ataques aos trabalhadores. Queremos combater propostas como o projeto apresentado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC de flexibilizar os direitos dos trabalhadores, abrindo um enorme precedente contra o proletariado nacional. Justamente para se preparar para os novos momentos da luta de classes queremos avançar desde nossa intervenção no Sintusp e desde nossa juventude para uma atuação mais regional na Zona Oeste, que busque dar conta da solidariedade de classe com as fábricas que já vem sofrendo com demissões, uma luta pela organização das centenas de trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da região, uma luta contra a violência policial que damos dentro e fora da universidade, e a busca por uma ligação orgânica entre a juventude universitária e a classe operária, abrindo para isso uma nova casa de cultura e política na região.

Estes e outros desafios que queremos nos colocar no próximo período fazem parte da necessidade de levar adiante uma estratégia de construção para que nossa organização aprofunde relações orgânicas na classe operária, aprofundando os trabalhos que viemos construindo no Metrô de São Paulo, entre professores em várias cidades do estado de São Paulo, em bancários onde junto a independentes construímos a experiência do piquete da 7 de abril que virou uma referência na última greve, no ABC Paulista e em sapateiros de Franca, trabalhos que queremos potencializar a partir desta concentração na Zona Oeste debatendo vivamente um projeto audaz para dar um salto de construção.

A construção de um partido revolucionário não será um processo evolutivo

Quando dizemos que o Brasil pode vir a transformar-se num elo débil, não estamos aqui definindo ritmos precisos (isso pode se dar a médio-longo prazo), mas sim o processo no qual nos inserimos para pensar a estratégia de construção de um partido revolucionário no Brasil, como parte da luta pela reconstrução da IV Internacional - fundada por Trotsky em 1938 – e o papel da LER-QI neste processo, pois não encaramos que a construção deste partido será fruto de nosso desenvolvimento evolutivo. Os debates que faremos no Congresso, que sintetizamos aqui alguns aspectos fundamentais, são para definir o melhor possível as tarefas que vamos encarar como organização para aportar qualitativamente para a construção de um partido revolucionário com uma estratégia para vencer, que é o que vem fazendo falta internacionalmente, pois os ataques seguem em sua maioria passando apesar da resistência.

O processo de construção de um partido revolucionário se dará aos saltos, a partir de um processo vivo de rupturas e fusões, de rupturas com as direções históricas do movimento operário, que a crise capitalista dará lugar. Deste processo surgirão milhares de trabalhadores e jovens que avançarão na experiência com a tradição petista, com o sindicalismo, com o autonomismo, etc, que inclusive darão lugar a novas organizações políticas e sindicais. Dentro da esquerda organizada, também haverá um processo de reorganização do qual seremos parte, lutando para que surja um partido de milhares e milhares que possa disputar a direção da classe trabalhadora e da juventude para uma perspectiva revolucionária. Isso terá que se dar com uma superação do que é hoje o PSOL e o PSTU. Basta ver como essas organizações não deram nos últimos anos nenhum exemplo de prática política distinta nos sindicatos que dirigem e como estão respondendo à atual situação. Já não se trata somente de posições teóricas e programáticas equivocadas, de magros resultados eleitorais apesar de toda sua adaptação ao PSOL, ou de tomar uma derrota enorme num lugar como a Embraer e Pinheirinho. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, dirigido pela CSP-Conlutas e pelo PSTU, já deram uma mostra da total falta de preparação para os próximos desafios que surgirem no país e o preço que pode cobrar a separação entre sindicalismo e propaganda socialista para os dias de ato. Enquanto falam que o PSTU é “o partido das lutas e do socialismo”, protagonizam um acordo que na prática flexibiliza os direitos dos trabalhadores de GM, despreparando-os para os ataques que poderão se concretizar apenas em novembro. A forma como o PSTU está encarando os ataques na GM é mais uma expressão de que este partido não se prepara para a luta de classes, mas para lutas de pressão sobre o parlamento e governantes, implorando para Dilma resolver os problemas fundamentais que só se resolvem na luta de classes. Outra expressão histórica, teórica e estratégica de como estes partidos, com inserção de longa data na classe trabalhadora brasileira precisam ser superados, é como, com todos estes anos nunca produziram um balanço da maior experiência da classe trabalhadora brasileira, o ascenso do final dos anos 70, e deste modo, sem tirar lições do passado desarmam uma vanguarda para que em um próximo ascenso a classe trabalhadora supere todos entraves que possam surgir e expresse todo seu potencial revolucionário.

Neste III Congresso, estes são alguns dos debates que queremos aprofundar para colocar nossa organização à altura das tarefas que se desprendem da atual situação e das perspectivas frente a crise capitalista, para a qual queremos nos preparar fortalecendo-nos

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