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2015 e os primeiros “laboratórios” da luta operária contra os ajustes

24 Feb 2015   |   comentários

O ano de 2015 começou com primeiras respostas operárias ao plano de ajustes do governo Dilma. A insatisfação popular, que expressa cansaço diante das mentiras dos governantes, derrubou a popularidade de Dilma, mas também de Alckmin e Haddad, logo no primeiro mês do ano. O voto no “mal menor” fez milhões de brasileiros engolirem figuras como o Ministro da Economia Joaquim Levy, representante direto de um tipo de economia tucana que já declarou: se a (...)

O ano de 2015 começou com primeiras respostas operárias ao plano de ajustes do governo Dilma. A insatisfação popular, que expressa cansaço diante das mentiras dos governantes, derrubou a popularidade de Dilma, mas também de Geraldo Alckmin e Fernando Haddad, logo no primeiro mês do ano. O voto no “mal menor” fez milhões de brasileiros engolirem figuras como o Ministro da Economia Joaquim Levy, representante direto de um tipo de economia tucana que já declarou: se a economia continua como está o pacote de ajustes deve durar mais alguns anos. Significa que estas instituições já apodrecidas com políticos que só querem enriquecer às custas dos trabalhadores e do povo pobre querem descarregar os primeiros efeitos da crise em nossas costas. Neste cenário, os trabalhadores começam a se exercitar em greves para barrar os ajustes.

Façamos como os operários da Volks e os professores do Paraná

Logo na primeira semana de janeiro os operários da Volkswagen, que já haviam passado por cima de suas direções em dezembro impedindo a aceitação do lay-off, mostraram mais uma vez sua combatividade. Fizeram uma greve de 11 dias que conseguiu reverter a demissão de 800 operários lançando no movimento operário industrial de todo o país a ideia de que “demitiu, parou”. Com esta greve, marcaram com força a possibilidade de resistência dos operários industriais frente aos planos de ajuste que incluem demissão ou outras formas de ataque aos nossos empregos, e que se fazem sentir também contra os trabalhadores mais explorados de nossa classe – como os terceirizados, os sem contrato e também os trabalhadores imigrantes, todos estes em sua maioria mulheres e negros.

Em seguida, pudemos acompanhar a valentia dos professores do Paraná, que junto com outras categorias do funcionalismo público, conseguiram com uma greve de 3 dias barrar o pacotaço de Beto Richa do PSDB. Apesar dos interesses da direção da APP e seus deputados do PT, a verdade é que a radicalidade e combatividade dos professores do Paraná trouxe a tona uma das principais lutas deste ano que retomando os métodos da classe operária ocupou, enfrentando a polícia, um dos centros políticos do estado, a Assembléia Legislativa do Paraná. Desta greve e destes métodos, emana naturalmente a ideia de que todos os professores do país afora “façam como os professores do Paraná”.

A estas principais lutas se combinam a resistência em outras fábricas como a Mercedez de São Bernardo do Campo, além da luta contra milhares de demissões a conta gotas nas fábricas de todo o país, também como efeitos da crise da água. Os professores também se mobilizam fortemente, apesar de suas direções, como em São Paulo onde um importante setor de professores já começa a questionar os calendários da direção da APEOESP com Bebel à frente. Rio de Janeiro, os operários do COMPERJ tomaram as ruas de uma importante avenida da cidade para chamar a atenção pra sua luta de mais de 2 meses por salários e direitos, enquanto os empresários da Petrobrás lucram com a corrupção. Nesta última semana, foram os operários da GM que entraram em greve contra o plano de lay-off e em defesa do emprego, colocando a necessidade de uma ampla campanha de solidariedade a esta luta.

Os ajustes são um plano de toda a burguesia

Ainda que muitos tentem fazer parecer os planos de ajuste que o governo Dilma está levando adiante não são um projeto apenas de seu governo ou partido, mas sim um plano de toda a burguesia pra defender seus interesses e descarregar os problemas econômicos do país em nossas costas. Dilma tenta expressar pequenos recuos frente a implementação da reforma trabalhista fragmentada por via das medidas provisórias, mas seu Ministro da Economia já declarou em Davos que os ajustes vão continuar. Não à toa as demissões na indústria permanecem e os ataques com os cortes de orçamento também continuam deteriorando com toda a força a educação pública no país, mostrando a farsa da “pátria educadora”. Contra as demissões na GM e as ameaças em outras empresas, Dilma não se pronuncia, porque ela, que foi a “mãe do PAC” no período de crescimento econômico, agora é a “madrasta dos pacotes de maldades” contra os trabalhadores, aposentados, mulheres, a classe média e o povo pobre.

Estes planos de ajustes, que vão se expressar em demissões, retiradas de direitos, flexibilização dos direitos trabalhistas, corrosão dos salários e rendas da classe média (elevação da inflação e desvalorização do real) e mais precarização do trabalho, passarão necessariamente pelo Congresso nacional. É neste espaço parlamentar que os políticos, em sua grande maioria corruptos, que utilizam estes espaços para enriquecer e atuar como “lobistas” dos grandes empresários nacionais e estrangeiros, vão decidir sobre a vida de milhões de brasileiros e brasileiras. Destas instituições passa longe a vontade popular e a vida da população.

Não à toa que o recém-empossado presidente da Câmara dos Deputados não tem o menor pudor em dizer que o direito ao aborto só será aprovado sob seu cadáver. Isso significa que neste segundo mandato de Dilma mulheres continuarão morrendo por abortos clandestinos, em sua maioria negras e trabalhadoras porque este Congresso estará dominado por setores reacionários que o PT e o governo preferem ter como “amigos” e “aliados” para manter sua “governabilidade”, mesmo que seja contra os trabalhadores e o povo. O PT “dorme com o inimigo” e quando sofre alguma pressão corre em busca de socorro falando em “golpismo” e “onda reacionária”. Este partido está cada vez mais vendido e entregue aos capitalistas e ao Estado burguês, reacionário por essência, isto é, contra os trabalhadores, a juventude, a classe média e o povo pobre, uma verdadeira “ditadura do capital”, uma “democracia dos ricos”.

No Senado também vamos ver a oposição tucana junto com Aécio Neves avalizando as políticas econômicas de Joaquim Levy, afinal este ministro é um tucano de carteirinha. Todos juntos, encobrindo a corrupção da Petrobrás e outros escândalos, para manter seus interesses, a exploração e a dominação da população pobre de todo o país.

Abaixo a “democracia dos ricos” e corruptos

A insatisfação popular que se expressa na queda de popularidade dos governantes precisa se canalizar contra estas instituições podres e antidemocráticas, que votam leis e ajustes contra nós, que não expressam a mínima vontade popular, apenas os interesses dos empresários e da casta política e de funcionários políticos que viram as costas ao povo e ao país. O Executivo – com Dilma na cabeça –, o Legislativo e o Judiciário são instituições contra o povo, são balcões de negócios dos capitalistas. Não à toa vimos o ministro da Justiça recebendo em seu gabinete os advogados das empreiteiras corruptoras, negociando por trás das leis e do povo para favorecer os capitalistas. Os presidentes, ministros e políticos patronais são, todos, serviçais dos empresários e ricos que nos exploram e oprimem. São nossos inimigos!

Neste cenário, as centrais sindicais governistas e patronais (CUT, Força Sindical, CTB, UGT e outras) fazem corpo mole, mesmo que não aceitem abertamente os ajustes, mas sem uma política decidida para defender os trabalhadores, porque seus dirigentes sindicais preferem manter a defesa do “seu” governo (ganham muitos cargos e privilégios) e não os interesses da classe trabalhadora e do povo pobre.

Apesar das amplas ilusões que ainda existem de que “as coisas podem melhorar” sem luta e organização, e o descontentamento popular que não significa condenar todas as instituições capitalistas (executivo, legislativo, justiça, polícia) responsáveis por este estado de coisas, elevar o inicial questionamento às instituições do regime (contra os políticos e o enriquecimento, por exemplo) aponta necessariamente para buscar uma saída realmente democrática, na qual o povo possa fazer valer seu peso social – a maioria da população, contra a minoria de capitalistas, parasitas, burocratas sindicais e políticos patronais –, impondo uma democracia verdadeiramente popular, onde os interesses da maioria trabalhadora e oprimida seja a “lei” e não essa “república dos corruptos, políticos capitalistas, tecnocratas que impõem planos de ajustes e arrocho salarial e burocratas sindicais vendidos”.

Para nós, que defendemos uma sociedade sem classes, sem exploração e opressão, os trabalhadores, a juventude e o povo pobre devem conquistar o direito a decidir e fazer valer sua vontade, pois são os que sustentam o país. Lutar por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, onde a população pudesse decidir por si própria a saída para os grandes problemas do país (soberania, propriedade privada versus propriedade social, direito à cidade, serviços públicos, emprego, meio ambiente etc.), que em nossa opinião deveria estar relacionado com a luta por um governo operário e popular, contra os capitalistas e todas essas instituições do regime de exploração e opressão, na perspectiva de uma sociedade sem classes, sem explorados e exploradores em todo o mundo.

Uma política independente para enfrentar os planos de ajuste

Neste cenário, e se apoiando nos exemplos que servem para nós como primeiros “laboratórios” da luta operária para se preparar e enfrentar os planos de ajuste e ataques é necessário conformar desde já um verdadeiro polo anti-burocrático e anti-governista com todos os setores de esquerda e os trabalhadores e a juventude que vem protagonizando as últimas greves e lutas. São destas primeiras respostas da classe operária que de forma mais contundente podemos organizar a resistência nacionalmente.

É por isso que seria fundamental a CSP-Conlutas, a partir da reunião de sua Coordenação Nacional, fazer um chamado a organização deste polo, chamando a base de seus sindicatos, da juventude e de movimentos sociais a organizar plenárias e assembleias que possam levantar um programa de luta contra os ajustes e os ataques para que nenhuma família fique sem emprego e nenhuma família fique sem água ou luz. Acreditamos por exemplo, que a partir da reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas é necessário debater as propostas apresentadas pela Direção Nacional do PSOL para enfrentar os ajustes, onde colocam medidas que podem nortear uma frente-única expressando essa luta não somente a partir de figuras públicas ou parlamentares, mas que os mesmos se coloquem a serviço do desenvolvimento de uma verdadeira mobilização independente dos governos e da burocracia sindical, mas exigindo que CUT, CTB e outras grandes centrais convoquem uma paralisação nacional com plano de luta mobilizando suas bases pra enfrentar os ataques e os ajustes.

Um programa operário pra enfrentar esta situação deve começar por não aceitar nenhuma demissão ou outras formas de ataque ao emprego, exigindo a redução da jornada sem redução do salário, pra que todos tenham acesso ao emprego. Também devemos combater a inflação, lutando para que o aumento do salário seja de acordo com o aumento do custo de vida. Apoiar as lutas operárias, como a luta dos professores do Paraná, estudantis (ocupações de universidades e mobilizações por assistência estudantil) e populares (pela água, luz e saneamento), como a grande mobilização dos caminhoneiros em vários estados. Devemos lutar pelo fim da PL 4330 que aumenta e perpetua a terceirização e garantir a efetivação de todos os trabalhadores terceirizados sem necessidade de concurso público.

Para que nenhuma família fique sem água e sem luz, lutar pela abertura dos livros de contabilidade destas empresas que foram privatizadas e entregues aos grupos capitalistas para atacar o lucro patronal e para que estejam, além de estatizadas, sob controle operário e popular, como única forma de garantir água, saneamento e energia de qualidade, segura e de baixo custo.

Para enfrentar a corrupção é preciso levantar medidas de fundo, mas desde já podemos agitar a ideia de que um deputado, funcionário público de alto escalão e juiz ganhe o mesmo salário de uma professora! Por comissões independentes de investigação para os escândalos de corrupção da Petrobras e outras empresas, pois não podemos confiar neste Congresso e nas CPIs. Todas estas medidas devem apontar no sentido da taxação das grandes fortunas, um plano de obras públicas para garantir moradia, transporte, saneamento, água e energia para todos, que seja financiado pelo não pagamento da dívida interna e externa aos grandes especuladores e rentistas. A partir da CSP-Conlutas também poderíamos levar adiante uma grande campanha internacionalista pelo cancelamento da dívida pública na Grécia, mostrando solidariedade ativa com nossos irmãos gregos que sofrem com os planos de austeridade.

Avançar em uma saída revolucionária para os trabalhadores

Nós, que impulsionamos o Movimento Nossa Classe e a Juventude Às Ruas, buscaremos atuar nesta perspectiva nos locais de trabalho e estudo, incentivando a mobilização e organização dos trabalhadores e da juventude, bem como a luta das mulheres por seus direitos mais elementares rumo ao Dia Internacional da Mulher, 8 de março.

Neste próximo mês iremos lançar o portal Esquerda Diário que pretende ser uma nova ferramenta digital para ser assumida amplamente por trabalhadores e jovens de todo o país, dando voz para os que sofrem cotidianamente com a opressão e exploração capitalista. Neste processo queremos debater com todos os jovens e trabalhadores que tem sido linha de frente das últimas lutas, bem como com as próprias organizações de esquerda e dos movimentos sociais, a necessidade de avançarmos para uma resposta de fundo para os trabalhadores, que só poderá se dar com uma preparação prévia para os próximos embates e possíveis ascensos da classe operária brasileira, onde cobrará seu preço que a nossa classe não esteja devidamente organizada em um instrumento – sindicatos, organizações amplas e democráticas de luta, partido independente da burguesia – capaz de aglutinar a experiência histórica com o PT e suas traições, conduzindo os trabalhadores ao caminho revolucionário. É nesta perspectiva que atuamos em cada luta, em cada greve e na defesa de cada direito das mulheres, negros e LGBTs, e com a qual queremos debater com cada companheiro e companheira.

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