Sábado 27 de Abril de 2024

Juventude

Realizou-se a I Conferência Aberta da Comuna

05 Jul 2004   |   comentários

Após um ano de sua fundação a Comuna realizou no dia 26 de Junho na PUCSP sua I Conferência Aberta. A Conferência contou com a presença de aproximadamente 80 companheiros, entre eles militantes da Comuna e estudantes independentes.

A presidência honorária da conferência foi dedicada ao heróico povo que resiste às tropas imperialistas no Iraque; aos mineiros de Huanuni, que lutaram bravamente no outubro boliviano e se mantêm na luta contra o Estado na Bolívia; aos eletricistas da França, que mostraram na sua greve a força e a solidariedade da classe trabalhadora, desligando a energia das fábricas que demitem e ligando a dos trabalhadores inadimplentes; aos estudantes de Fortaleza, que travaram uma dura batalha nas ruas pelo passe livre; e aos trabalhadores da USP, que são a vanguarda da greve das universidades estaduais paulistas.

Foi um grande orgulho para a Comuna contar com a presença de companheiros operários como Saru, um trabalhador que na ocupação da fábrica Flakepet em Itapevi cumpriu um papel fundamental na luta contra a patronal e a burocracia de correntes petistas e até do PSTU, que se negaram a dar uma luta conseqüente para que a fábrica pudesse ser retomada sob controle dos trabalhadores e todos eles tivessem garantidos seus postos de trabalho. Além de sua presença, foi muito importante para nós ter um operário da fábrica Flakepet na composição da mesa da conferência e ouvilo discordar quando dizíamos que a luta na Flakepet havia sido derrotada: “...não foi uma derrota, porque eu conheci vocês e estou aqui hoje” .

Também foi um grande orgulho ter em nossa conferência parte dos setores destacados nas lutas mais avançadas que o movimento estudantil travou no último período. Os estudantes que atuaram na ocupação da reitoria da PUCSP, mostrando que para lutar contra a repressão nas universidades é necessário questionar a própria estrutura de poder nas universidades e que travaram uma das lutas mais avançadas do movimento estudantil dos últimos anos, colocando em prática a aliança operárioestudantil em apoio ativo à ocupação e a luta dos trabalhadores da Flakepet. Os companheiros da USP que também demonstraram seu apoio ativo à luta dos trabalhadores da Flakepet e que hoje estão, junto com os companheiros da Unesp e da Unicamp, na dura greve das universidades estaduais paulistas. Os estudantes do campus de Franca da Unesp que além da ativa participação nessa mesma greve tomaram para si a luta por uma bandeira que para Comuna é um princípio fundamental: a bandeira da autoorganização contra a burocracia no movimento estudantil. Um companheiro do Coletivo Ruptura que, além de fazer parte da vanguarda do movimento estudantil da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), teve uma importante atuação conjunta com a Comuna, tanto no Eneh (Encontro Nacional dos Estudantes de História) em dezembro de 2003, quanto no Encontro Nacional Contra a Reforma Universitária de Lula & FMI em maio de 2004, defendendo conosco a autoorganização do movimento estudantil nacionalmente e a luta por uma universidade a serviço dos trabalhadores contra a reforma privatista do governo Lula.

Estava também presente compondo a mesa a companheira Mara, militante do movimento Hip Hop, que falou em nome da JRS (Juventude pela Revolução Socialista), sobre a necessidade de unificar os que estão dentro e os que estão fora da universidade numa só luta pelos interesses da classe trabalhadora, pela revolução socialista.

O tom geral da conferência foi destacar a necessidade da construção de uma corrente revolucionária nas universidades frente às tarefas que a situação nacional e internacional colocam hoje para a juventude.

As tarefas colocadas hoje para a juventude revolucionária

A situação internacional demonstra a decadência do capitalismo. Demonstra, com a resistência iraquiana, que exércitos imperialistas armados até os dentes não são capazes de derrotar um povo que luta por sua libertação. Demonstra nos pequenos, mas importantes exemplos, como o levante revolucionário na Bolívia e as greves selvagens na Europa, que a classe trabalhadora pode colocar em xeque todo o sistema de opressão e exploração capitalista.

Frente ao pântano em que se meteu o imperialismo norte americano, frente a recomposição inicial da classe operária mundial, frente a recuperação da combatividade da juventude que se expressou no movimento anti guerra, é necessária a construção de uma corrente universitária internacionalista, que se ligue e apóie ativamente todas as lutas que travam a juventude e a classe operária mundial.

A situação nacional não nos impõe uma tarefa menor. A chegada de Lula ao governo expressou, de maneira distorcida, um giro à esquerda das massas no Brasil, que depositaram em Lula e no PT suas esperanças. Hoje, como não poderia ser diferente, o governo ataca os trabalhadores e a juventude, principalmente pela via de suas reformas ditadas pelo imperialismo, como foi a reforma da previdência. A próxima reforma que o governo quer nos impor é a universitária, que vem no sentido de privatizar as universidades públicas através da autonomia financeira, que significa corte de verbas públicas para que se busque financiamento das fundações e de empresas privadas, e através da compra de vagas ociosas das universidades privadas com verbas públicas para enriquecer os grandes tubarões do ensino. Essa política visa aumentar a exclusão da juventude explorada das universidades, elitizando e sucateando ainda mais o ensino superior, com um discurso demagógico para dividir quem está dentro e quem está fora da universidade. Nos propomos revolucionar o conhecimento da universidade de classes. Para nós, da COMUNA, a única maneira de derrotar a reforma do governo e colocar a universidade a serviço das lutas dos trabalhadores e de todos os explorados e oprimidos, é lutar por uma verdadeira aliança operárioestudantil. Lutamos pela unificação dos que estão dentro da universidade com a juventude secundarista que começa a se levantar na luta pelo passe livre, com o movimento HipHop, que aglutina os jovens trabalhadores que lutam por uma arte revolucionária, e com os trabalhadores que se desiludem com o PT e começam a romper com o governo.

Frente à desilusão com o PT, a juventude deve se colocar como sujeito e tomar para si a tarefa de lutar junto com os trabalhadores por uma nova direção revolucionaria. Frente aos partidos que hoje se colocam como alternativa, como o PSTU, que se mostra impotente para levar a cabo as tarefas fundamentais de luta contra o governo e a burocracia, se adaptando à lógica dos aparatos, ou o PSOL, que sequer se coloca esta tarefa e que busca reproduzir claramente o que foi o PT e o petismo, a juventude deve se organizar pela construção de um partido revolucionário. Um partido que supere a burocracia e as traições à classe operária, que represente de fato os interesses dos trabalhadores, contra toda a lógica petista que imperou nos últimos vinte anos, e que esteja a serviço de impulsionar os métodos revolucionários da auto-organização para se contrapor aos interesses da burguesia. É dentro dessa tarefa fundamental que a COMUNA atua em cada luta, por menor que seja, no sentido de tornálas exemplos para forjar uma nova tradição e uma nova práxis revolucionária.

A COMUNA não quer construir uma corrente apenas de ativistas estudantis, mas quer se fundir com os melhores ativistas da vanguarda para construir uma corrente revolucionária, que pense nacionalmente e se coloque a tarefa de dirigir o conjunto das lutas. Queremos atuar em cada tarefa do dia a dia nos colocando como sujeitos transformadores. Queremos ser comunistas completos e não apenas ativistas. Queremos nos colocar as tarefas da revolução nacional e internacional, pois acreditamos que somente assim podemos lutar conseqüentemente mesmo pelas demandas mais imediatas nos conflitos em cada universidade.

Nos propomos revolucionar todos os aspectos da vida e revolucionar a nós mesmos a cada momento que a realidade nos exija, e a ferramenta que utilizamos para isso é a teoria marxista revolucionária. Frente à ideologia “oficial” que prepara a formação de intelectuais de acordo com as necessidades do mercado e prepara os estudantes para que não questionem os fundamentos do capitalismo, a recuperação das fontes da teoria que expressa os interesses históricos da classe trabalhadora, seu estudo e compreensão, e o que é fundamental: a incorporação de seus princípios básicos à luta, tornase essencial na perspectiva de começar a sentar as bases para a formação de uma nova geração de estudantes e jovens revolucionários. A juventude tem a importante tarefa de resgatar o marxismo que travou, por meio das experiências mais avançadas da classe operária, como a Revolução Russa de 1917, as lutas contra a opressão capitalista pela justeza de sua teoria e prática revolucionárias.

Nossa I Conferência aberta foi um importante acontecimento no sentido de, junto com os estudantes que se colocam a serviço dos interesses da classe trabalhadora e que se enxergam como sujeitos revolucionários, aportar para a construção de uma direção revolucionária no Brasil.

Por isso, chamamos todos aqueles que se colocam na perspectiva de ser sujeito na luta por um partido revolucionário e pela revolução socialista, que estiveram ou não presentes na Conferência, a construir conosco uma corrente que, como faziam os estudantes na França em Maio de 1968, rompa com as velhas engrenagens, partindo do questionamento da universidade de classes para questionar a sociedade de classes.

Resoluções da I Conferência aberta da Comuna

Discutimos uma série de campanhas centrais para o próximo período. A primeira delas é a campanha pela vitória da resistência iraquiana, buscando uma ampla frente única nacional e internacionalmente com todos os grupos e jovens que se coloquem em luta pela retirada imediata das tropas imperialistas do Iraque e pela vitória do povo iraquiano. Outra campanha que nos propomos a impulsionar, junto com os jovens trabalhadores, secundaristas e ativistas do movimento HipHop, é a campanha contra a reforma universitária do governo Lula, contrapondo a isso a luta por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre. Discutimos também uma campanha de apoio ativo à greve das universidades estaduais paulistas, buscando, em cada universidade, tanto nas públicas quanto nas privadas, a aliança de funcionários, estudantes e professores pela defesa da universidade pública e para fazer desta luta um exemplo nacional.

Outras resoluções foram tiradas com relação às publicações da COMUNA. Vamos seguir com a publicação do jornal da COMUNA e fazer dele um importante instrumento dos estudantes nas suas lutas, além da construção de um site para difundir nossas idéias nacional e internacionalmente. Frente à discussão do resgate da teoria marxista, vamos publicar também uma revista teórica universitária, que seja uma arma contra as diversas teorias burguesas, e na qual se debata com os teóricos da academia e com as diversas formas de degeneração do marxismo revolucionário.

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