Sábado 4 de Maio de 2024

Nacional

O SIGNIFICADO DAS REVOLTAS NAS PERIFERIAS E FAVELAS

Por uma campanha de solidariedade e apoio aos moradores de Heliópolis

02 Sep 2009   |   comentários

Em menos de uma semana, dois episódios simbólicos na zona sul de São Paulo. No dia 24 de agosto a policia militar executa ordem de reintegração de posse na favela Pq. do Engenho no Capão Redondo, a favor da Viação Campo Limpo, num terreno de 14 km² onde viviam em moradias precárias mais de 800 famílias. Seria mais um caso corriqueiro na periferia de São Paulo, dominada pela especulação imobiliária e pelas moradias precárias, não fosse a reação dos moradores. Num ato de revolta e desespero, colocaram fogo nos seus próprios barracos e atiraram pedras e outros objetos na PM. Na madrugada de 31 de agosto para 01 de setembro, a bala de guarda civil mata uma adolescente de 17 anos, a quinta morte dessa forma em apenas alguns meses na cidade de São Paulo. Mais um fato corriqueiro, não fosse a reação de centenas de moradores de Heliópolis que protagonizaram dois dias de rebelião contra a repressão policial, fazendo barricadas, colocando fogo em carros, ónibus e viaturas e atirando pedras contra a PM.

São cenas que estão se tornando mais comuns desde pelo menos o final de 2007 e o inicio de 2008. No final de 2007 os moradores da favela Real Park na Zona Norte de São Paulo, próxima a Marginal do Rio Tietê, deram uma resposta às seguidas chacinas promovidas pela polícia, bloqueando por horas a principal via de acesso à cidade e combatendo com bombas caseiras e molotovs a tropa de choque. No carnaval de 2008, na favela Pela-Porco em Salvador, quatro garotos foram assassinados pela policia nas tradicionais “faxinas” que antecedem os grandiosos carnavais de Salvador. Os moradores da favela do Pela-Porco, protagonizaram no dia seguinte da morte de Djair e seus três companheiros, uma revolta que se generalizou por vários bairros com bloqueio de ruas, barricadas com ónibus incendiados e enfrentamento com a polícia.

No seu blog, o jornalista petista Paulo Henrique Amorim, aponta como as revoltas em Heliópolis e no Capão Redondo desmascaram o governo tucano de José Serra e sua política contra os trabalhadores e o povo pobre. Mas esses acontecimentos mostram mais do que isso. Mostram como é mentirosa a propaganda oficial do governo Lula de que está diminuindo a desigualdade social e de que o seu governo está transformando o Brasil. Nosso país continua o mesmo de sempre, com a maioria dos trabalhadores ganhando salários miseráveis, morando em péssimas condições e sendo vítimas da violência policial e de uma política de extermínio, que não é exclusiva dos governos tucanos, mas que também é aplicada em estados como a Bahia, governada por petistas.

Essas revoltas têm um significado ainda mais profundo. Mostram que vai se acumulando nos setores mais pobres dos grandes centros urbanos uma profunda insatisfação social, que não é captada pelas pesquisas de opinião organizadas pelas agências burguesas. Os setores que se mobilizaram em Heliópolis, ao contrário do que a policia militar vai tentar fazer parecer, com a ajuda da rede globo e da grande mídia, não é organizado pelo tráfico. São trabalhadores precários que ganham um salário de fome, jovens desempregados vítimas da desigualdade social e do racismo, pais e mães de família, os que se mobilizaram contra a ação da polícia. A grande maioria dos empregos criados pelo governo Lula nos últimos anos foram empregos precários e com baixos salários, são trabalhadores e trabalhadoras que não ganham o mínimo para sustentar as suas famílias e que não encontram representação para suas demandas nem nos sindicatos atrelados ao governo, nem no PT ou no PCdoB. Se no movimento operário organizado, pelo controle que exercem sobre sua representação sindical os setores governistas, não vemos grandes lutas se desenvolverem, é nos setores mais precários e não organizados, na juventude, nos estudantes e nos camponeses, que vemos os primeiros sinais de revolta que podem estar antecipando a entrada em cena dos grandes batalhões da classe operária.

A perspectiva da crise capitalista, ao contrário do que prega o governo Lula, é de se aprofundar apesar da pequena e débil recuperação que está em curso. A única resposta que a burguesia tem a oferecer são as demissões, reduções de salário, aumento da exploração e da miséria e recrudescimento da violência policial. A tragédia da atual situação, é eu também as organizações que se reivindicam revolucionárias, e os sindicatos anti-governistas da Conlutas, também não estão se colocando à altura da situação. O PSOL, só se preocupa em conseguir seu lugarzinho ao sol nessa democracia dos ricos podre que vivemos no Brasil. O PSTU, que não consegue responder com uma política combativa e baseada na luta de classes às demissões na Embraer, é ainda mais impotente para se aliar aos trabalhadores precarizados das periferias das grandes cidades.

No entanto, a crise económica e a perspectiva de agudização da luta de classes e, consequentemente, da repressão policial, colocam um grande desafio para as organizações que se reivindicam revolucionárias. Soldar a aliança entre os principais batalhões mais organizados da classe operária, como metalúrgicos e petroleiros, com o os trabalhadores precários e o povo negro das periferias. É preciso que os sindicatos da Conlutas incorporem nas suas lutas cotidianas as reivindicações que possam atender as necessidades destes setores: reforma urbana radical para acabar com as moradias precárias e a especulação imobiliária; emprego e salários dignos para todos os trabalhadores, através da repartição das horas de trabalho e de um salário mínimo que atenda as necessidades de uma família; saúde, educação e possibilidades de lazer e cultura para o povo negro e os trabalhadores das periferias e bairros pobres das grandes cidades.

É urgente e necessária uma grande campanha de solidariedade com os moradores de Heliópolis que agora vão ter que enfrentar a fúria vingativa da policia por terem ousado se rebelar contra sua política de extermínio. Por isso propomos à Conlutas que o mais rápido possível deflagre uma forte campanha para se solidarizar com os moradores de Heliópolis, que leve adiante uma política concreta de exigência à CUT, CTB, Força Sindical e ao PT, e que entre em contato com a associação de moradores de Heliópolis e organizações de direitos humanos, para a formação de uma comissão de apuração, que garanta verdade e justiça para os moradores de Heliópolis, que não podem esperar nada da justiça burguesa, da policia e do governo Serra, a não mais repressão e assassinatos.

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