Sexta 3 de Maio de 2024

Nacional

MARCHA DE 24 DE ABRIL

Por um verdadeiro plano de lutas para impor nossas reivindicações

23 Apr 2013   |   comentários

No dia 24 de abril a CSP-Conlutas, juntamente com setores do funcionalismo compostos pelo Andes, Fenasps, Condsef, Fasubra, CPERS, Sepe, entre outros setores da própria CUT como a “CUT pode mais”, além de correntes que são parte da base aliada do governo como o MST, estão convocando a Marcha à Brasília.

Em meio aos altos índices de popularidade do governo, sustentados sobre a base dos baixos índices de desemprego, da continuidade do crédito para manter o consumo, e muita propaganda diante da antecipação da disputa eleitoral de 2014, trabalhadores e jovens de todo o país participarão desta Marcha buscando nesta uma via de poder manifestar seu descontentamento com as condições de vida e de trabalho que apesar da onda de estabilidade geral vêm sendo mantidas no governo de Lula e aprofundadas pelo governo Dilma.

Participaremos desta manifestação convocada por setores anti-governistas que se colocam em defesa dos trabalhadores e do povo pobre, que se diferenciam das manifestações convocadas por centrais sindicais como a Força Sindical, UGT, CTB e CUT que organizam marchas onde impera a conciliação de classes onde os patrões que nos exploram têm assento garantido enquanto a maioria da classe trabalhadora continua explorada silenciosamente. Ao contrário disso, a Marcha do dia 24 não será composta por setores da burguesia ou por partidos burgueses. Consideramos neste sentido que a Marcha levanta demandas fundamentalmente progressistas ainda que articuladas com um eixo fundamentalmente equivocado que se declara “contra a política econômica do governo federal”, como demonstraremos abaixo.

Marcha “contra a política econômica do governo federal” ou pela vitória das lutas operárias?

Consideramos que o eixo central deveria estar ligado aos processos da luta de classes, apresentando ao mesmo tempo um programa que fosse no cerne da luta contra o estado capitalista contribuindo para o avanço da consciência de classe de milhares de trabalhadores e jovens que despertam às lutas.

Esta Marcha deveria levantar firmemente a denúncia da brutal repressão que têm sofrido os lutadores das obras do PAC exigindo a retirada imediata da Força de Segurança Nacional das obras e usinas, o fim dos processos e perseguições aos operários e ativistas que lutam, a denúncia do governo Dilma por implementar, como nos tempos da ditadura militar, agentes da Abin para ilegalmente espionar sindicatos da Força Sindical e as atividades de organização das lutas nas usinas do PAC. Ao mesmo tempo, exigimos firmemente o fim do regime semiescravo de trabalho a que são submetidos os operários em Belo Monte, Jirau e Santo Antônio.

Da mesma forma deveria ser construída se apoiando nos principais processos de luta de classes que percorrem o país como a greve dos professores, colocando esta Marcha a serviço do atendimento de todas as reivindicações e contra as ameaças ao direito de greve dos governos estaduais e federal. Em nossa opinião uma Marcha como esta deveria levantar a defesa do emprego e contra as demissões dos operários da GM de São José dos Campos que vêm sendo atacados com milhares de demissões e contra qualquer tipo de acordos que retirem direitos dos trabalhadores em troca de empregos.

Consideramos que mesmo que a Marcha seja uma política que tenha sido preparada há meses por suas direções, os incipientes enfrentamentos de classe que os operários da construção civil e professores brasileiros protagonizam neste momento, sofrendo distintas formas de repressão, deveriam fazer as direções ao calor destas lutas rever os “planos” e colocar estas lutas e seus trabalhadores como a ponta de lança de um programa que ligue a conquista de nossos direitos mais elementares ao ataque das riquezas e lucros dos capitalistas.

Acreditamos que se esta marcha se colocasse neste sentido estaríamos avançando no objetivo de construir uma unidade que fortaleça os setores da classe trabalhadora que vêm sendo atacados e estaríamos em melhores condições para preparar uma verdadeira frente única que coloque em movimento os sindicatos e organizações que convocam esta Marcha para definir um plano de lutas efetivo que deveria ser construído nas regiões para chegar a milhares de ativistas organizados democraticamente a partir das fábricas, empresas, escolas e locais de trabalho para construir a relação de forças necessária para lutar por cada uma destas reivindicações.

Se construímos um movimento assim, isso nos permitiria nos dirigir aos sindicatos e bases da CUT, Força Sindical – principais concentrações sindicais e operárias do país – e às direções e bases do MST, movimentos por moradia e estudantil exigindo que rompam seu atrelamento ao governo Dilma – que ataca nossos interesses e direitos – e seja parte de uma frente única operária, popular e estudantil que aplique este plano de lutas. Por isso, consideramos que esta marcha e a reunião da CSP-Conlutas que haverá em Brasília deveriam ser, além de um ato de pressão e demonstração de forças da vanguarda contra os ataques do governo e da patronal, um espaço privilegiado para discutir este plano e medidas que consolidem e deem continuidade a essa unidade através de plenárias com delegados eleitos, reuniões e assembleias nas organizações, campanha de agitação (cartazes, folhetos, inserções na mídia), passeatas e bloqueios de avenidas e estradas, paralisações etc.

Por isso, colocar como eixo os processos de luta exigiria uma denúncia frontal à burocracia cutista e da Força Sindical que estão com o governo e se calam diante dos ataques em Jirau e Belo Monte. No caso da Força Sindical trata-se de setores diretamente ligados às empreiteiras que defendem a presença da Força Nacional nos canteiros de obras como produto do “acordo com as centrais” ocorrido no ano passado que pretendia “normalizar as obras das usinas”. Foram estas burocracias as que estiveram à frente da traição das lutas nas universidades federais, dos professores estaduais e que não à toa protagonizam a tentativa de retirada de direitos através do Acordo Coletivo Especial (ACE).

Estas bandeiras não podem ficar reduzidas a um ato ou a setores de vanguarda anti-governistas. É necessário ao mesmo tempo em que denunciamos as direções burocráticas do movimento operário e sindical, atuemos para nos unificar com os setores majoritários da classe trabalhadora que ainda se encontram nas bases dos sindicatos da CUT e da Força Sindical.

Por um programa de independência de classe

A direção majoritária da CSP-Conlutas (PSTU) e os outros setores que estão encabeçando a Marcha, colocam como eixo central a luta “contra a política econômica do governo federal”. Este eixo dado à Marcha, mesmo que seguido de uma série de pontos programáticos em si mesmos corretos, confere um conteúdo de conjunto bastante problemático à Marcha. É um programa que, em que pese as legítimas demandas que levarão milhares de trabalhadores à Brasília, termina por preservar o estado capitalista e suas instituições lutando para que a mudança seja na “política econômica”. Certamente, esta não é uma palavra de ordem que ajude a vanguarda operária e popular do país a avançar em sua independência com relação não só ao governo, mas também aos eventuais setores burgueses que se coloquem como “oposição” a ele.

Em nossa opinião, no lugar deste eixo, deveria ser defendido claramente um programa de independência de classe. Um programa operário e popular que ataque a raiz deste sistema capitalista, começando por denunciar o governo do PT e a burocracia sindical que o sustenta. Além de exigir o aumento geral dos salários e a defesa do emprego, o programa deveria estar claramente pelo reajuste automático do salário de acordo com o aumento do custo de vida, e declarando-se abertamente pelo salário mínimo do Dieese, nenhuma demissão e nenhuma retirada de direitos. As exigências de redução da jornada de trabalho sem redução dos salários, retirada do projeto do Acordo Coletivo Especial (ACE), fim do fator previdenciário e aposentadoria integral também devem estar combinadas a nenhum centavo para os grandes capitalistas (GM, Gerdau, Camargo Côrrea, Eike Batista, etc). Pela efetivação de todos os trabalhadores terceirizados, temporários e precários sem necessidade de concurso público ou processo seletivo. Igual trabalho, igual salário. Não ao pagamento da dívida para os grandes detentores de títulos e imposto progressivo sobre as grandes fortunas para garantir verbas para moradia, terra para quem trabalha, saúde, educação, creches e transporte público de qualidade etc. Um programa para uma marcha que deveria ser parte de um plano de lutas verdadeiro, construído nas bases das categorias e organizações, para potencializar a mobilização de amplos setores com métodos e ações combativas para torcer o braço do governo e da patronal, denunciando a burocracia sindical que se nega a colocar-se a favor desses interesses operários e populares.

Entretanto, sabemos que esse governo não tem qualquer interesse em atacar os lucros patronais para favorecer os trabalhadores. Nesse marco, os companheiros do PSTU, em conjunto com os demais setores que dirigem a Marcha, terminam colocando as justas demandas que trouxeram milhares de jovens e trabalhadores para Brasília no marco de uma estratégia que só pode ter como objetivo construir uma “oposição de esquerda” nas eleições e nos sindicatos que não está a altura de levar adiante um verdadeiro plano de lutas a setores mais amplos da classe trabalhadora, que não estarão nesta Marcha e nem sequer são hoje base de seus sindicatos – estão há anos e décadas semeando ilusões no governo do PT e em sua burocracia. Neste marco, chamamos os trabalhadores e jovens da CSP-Conlutas e ANEL a debater estas idéias e rever a estratégia de “mudança da política econômica” que orienta em outro sentido as demandas de milhares de trabalhadores e jovens presentes na Marcha.

Somente superando a política da atual direção majoritária de privilegiar uma estratégia cujo objetivo é forjar uma “oposição de esquerda” desvinculada do desenvolvimento de setores de vanguarda operária através dos métodos da luta de classe, será possível construir a aliança entre as distintas categorias e entre a classe trabalhadora e demais setores populares não apenas na propaganda, mas através da ação comum. Se não nos guiamos claramente por uma estratégia baseada na luta de classes, terminamos sendo “presa fácil” das armadilhas do regime dominante, que nos pressiona a separar a luta econômica da luta política e nos pressiona a ocupar espaços políticos e sindicais superestruturais à esquerda do governo mas que não se enfrentam contra o regime capitalista e não colocam os trabalhadores como sujeitos de sua própria emancipação.

Precisamos construir uma nova tradição que coloque a unidade da esquerda a serviço do desenvolvimento da ação de setores de massas proletárias na luta de classes, ligando os processos de mobilização por demandas econômicas nas bases de cada categoria a demandas políticas que contribuam para construir um plano de luta unificado para arrancar nossos direitos atacando pela raiz este sistema de exploração e opressão.

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