Sábado 20 de Abril de 2024

Movimento Operário

Greve dos 100 dias nas universidades estaduais paulistas em momento decisivo

07 Sep 2014   |   comentários

Na última semana os trabalhadores das três universidades estaduais paulistas, USP, Unesp e Unicamp, junto a professores e estudantes deram uma enorme demonstração de forças.

Na última semana os trabalhadores das três universidades estaduais paulistas, USP, Unesp e Unicamp, junto a professores e estudantes deram uma enorme demonstração de forças. A começar pela marcha dos trabalhadores da USP que caminhou do campus Butantã da USP até o MASP, com mais de mil trabalhadores e estudantes, uma parcela importante de companheiros mais velhos, com todos gritando “Não tem arrego” ao completar 100 dias de greve. Na Unicamp apesar dos professores terem se retirado da greve unificada “pegando o que é seu” e abandonado os trabalhadores, estes continuaram firmes na greve, apesar também de sua direção sindical, onde a maioria do Sindicato (incluindo o PSTU) defendeu o fim da greve uma semana antes da negociação, e mesmo assim a greve se manteve sobre gritos de “Não tem arrego”. Na Unesp trabalhadores e professores com todas as dificuldades geográficas de organização, continuam na greve unificada rejeitando as propostas da Reitora Marilza para dividir a greve. E na USP está surgindo uma nova base de professores à esquerda da direção atual da Adusp, que por vezes tentou encerrar a greve.

Esta demonstração de forças impôs que tanto o Conselho Universitário da USP quanto o CRUESP tivessem que recuar da proposta de arrocho salarial, apresentando algum índice acima de zero. Mais que isso, teve que ser o Tribunal Regional do Trabalho, e não esta casta burocrática que é o CO e o CRUESP, a defender a manutenção de nossa database em maio e portanto propor como mínimo um abono indenizatório retroativo a maio. Resta ver se a Reitoria vai dar o braço a torcer e mostrar que tem sim dinheiro para algum reajuste para os trabalhadores. Por isso é fundamental preparar um forte ato para a próxima semana. Parte das conquistas dessa greve está no fato de até o momento ter conseguido frear a inflexão que o governo estadual e a burguesia tentaram impor na conjuntura com a derrota à greve dos metroviários, depois da vitória da greve dos garis.

Também é nesta semana que os trabalhadores vão decidir sobre os rumos da greve e precisam desmascarar a Reitoria da USP que vem buscando fazer uma chantagem patronal colocando que qualquer reajuste salarial será em base a aprovação de ataques aos trabalhadores, como é o Plano de Demissões Voluntárias (PDV). A Reitoria quer colocar nestes termos para dividir os trabalhadores, quando somos nós que, junto a professores e estudantes, viemos lutando desde 1989 pelo aumento de repasse de verbas para a universidade, ao mesmo tempo que exigimos a abertura imediata dos livros de contas. Sem isso só pode ser uma falácia o discurso da Reitoria de crise orçamentária, um mero artefato para mascarar o avanço do desmonte da USP.

Em segundo lugar é preciso garantir que os trabalhadores em greve não tenham nenhuma punição ao mesmo tempo que continuamos lutando pela retirada de todos os processos administrativos e criminais e pela reintegração do companheiro Brandão. Já podemos dizer que o elemento mais importante de toda esta enorme e heroica batalha foi o surgimento de uma nova camada de ativistas que se fundiu com a velha guarda de tradição do Sintusp. O Comando de Greve com delegados eleitos pela base e revogáveis foi um enorme exemplo, e a maior força deste movimento grevista, que mostrou que a auto-organização dos trabalhadores ampliando o Sindicato nos momentos de luta é o caminho mais correto para os trabalhadores terem conquistas e avançarem em sua luta.

É preciso colocar de pé um forte plano de luta que já tem uma série de tarefas como retomar o HRAC e barrar o PDV, mas principalmente lutar contra a desvinculação do Hospital Universitário que vai incluir uma forte luta pra aprofundar esta como uma causa popular. Ao mesmo tempo se mostrou uma grande necessidade avançar na aliança com estudantes e professores, sendo que a ausência do movimento estudantil – que teve como freio também suas direções (PSTU, PSOL) neste momento declaradamente mais preocupadas com as eleições – foi uma grande debilidade desta luta que deveria mover o conjunto da universidade contra o desmonte.

O autoritarismo desta Reitoria, e de seu Conselho Universitário, representando os interesses do governo Alckmin em São Paulo, também dão a maior prova de que é mais necessário do que nunca derrubar esta burocracia que manda na Universidade. É preciso lutar para impor uma Assembléia Estatuinte Livre, Soberana e Democrática que possa definir os rumos da universidade, dissolvendo o cargo de Reitor e o Conselho Universitário, e impondo um governo tripartite com maioria estudantil pra dirigir a USP. Combinado a isso, precisamos lutar por mais verbas para toda a educação pública, impondo o fim do vestibular e a estatização de todas as universidades privadas. Todo jovem tem direito de estudar! Em síntese, trabalhadores, estudantes e professores precisam tomar os rumos da USP em suas mãos. Para isso será fundamental manter viva a força do Comando de Greve e da auto-organização dos trabalhadores para todas estas batalhas na luta por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre.

UMA GRANDE CONQUISTA: USP é obrigada a pagar os dias descontados

Com mais de 100 dias de greve, organizando atos, cortes de ruas e piquetes, e enfrentando uma grande ofensiva da Reitoria e do governo Alckmin, os trabalhadores da USP não recuaram frente ao corte de ponto e nem às ameaças da própria justiça, mantendo coesa a greve e com a certeza de que somente nossa força poderia impor o pagamento dos dias. O TRT sentenciou o pagamento dos dias parados, e a Reitoria, mostrando seu caráter anti-sindical foi até o STF pedir a reversão desta sentença. Não foi desta vez, até o STF reconhece nosso direito de greve.

Movimento Nossa Classe organizando dezenas de trabalhadores

Durante a greve o Movimento Nossa Classe se consolidou como um dos mais fortes movimentos de trabalhadores nas universidades estaduais paulistas. Com cursos de formação marxista, atividades de debate sobre a greve, panfletagens, presença massiva nos atos e piquetes, fomos consolidando um movimento classista, combativo, anti-governista e de independência de classe que foi parte ativa dos Comandos de Greve, linha de frente dos enfrentamentos e aportou para avançar nas medidas internacionalistas da greve, a aliança com a população e a unificação com outras categorias.

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