Domingo 5 de Maio de 2024

Movimento Operário

GREVES MINEIRAS NA ÁFRICA DO SUL

Por trás da democracia sul-africana e da potência do minério, o maior massacre desde o Apartheid

17 Sep 2012   |   comentários

Há um importante processo de ruptura com as direções sindicais burocráticas. Os mineiros da Gold Fields incluiu na sua pauta de reivindicações a expulsão da burocracia e na Gol One’s os mineiros lutam por reincorporar seus companheiros demitidos, entre eles os que criaram o PTAWU, um sindicato paralelo que lutavam para reconhecer.

A África do Sul possui uma grande fortaleza em mineração, onde é líder mundial. Tem as maiores reservas mundiais de magnésio e de platina, além de estar entre os países com as maiores reservas de ouro, diamante, vanádio, entre outros, fundamentalmente importantes para o desenvolvimento da indústria e da especulação financeira sobre metais preciosos a nível mundial. O setor é responsável por mais da metade das exportações do país, representando mais de 30% de todas as ações que giram na Bolsa de Valores de Johannesburgo.

Em um país marcado pela colonização inglesa, não é possível dizer que tal riqueza seja apropriada pelos trabalhadores da nação. As grandes mineradoras tem suas sedes na Inglaterra ou nas mãos da pequena camada branca da população, que desde a colonização e através do apartheid se consolidou como a burguesia local, historicamente opressora do povo negro.

A LONMI – mineradora que ordenou junto ao governo sul-africano o massacre contra os trabalhadores em greve nas minas de Marikana, que deixou 44 mortos, 70 feridos e mais de 250 mineradores detidos – é a principal líder do mercado de platina.

Este massacre da empresa e da polícia, longe de amedrontar os trabalhadores desatou uma mobilização ainda maior. Dias depois irromperam greves em outras minas como Anglo American Platinium e Royal Bafokeng Platinum. Por outro lado, o governo pró-imperialista de Jacob Zuma do Congresso Nacional Africano (CNA) tratou de continuar com a linha repressiva e de julgar os protestos usando uma lei do Apartheid pela qual se culpa os manifestantes pelas vítimas da repressão. Assim, os 270 ativistas presos durante o massacre foram acusados pela morte de seus companheiros.

Estas greves de um dos mais lucrativos setores da economia revelam as péssimas condições de trabalho a qual só pode ser submetida uma população com expectativa de vida de cerca de 48 anos, 1 a cada 6 habitantes infectado pelo vírus da AIDS, uma altíssima taxa de analfabetismo, um índice de estupro epidêmico e condições precárias de saneamento básico.

Os 44 trabalhadores assassinados a mando do governo sul-africano para favorecer a LONMI, assim como os milhares de trabalhadores junto aos quais faziam greve, reivindicavam o aumento de seu salario de R5.600 para R12.500 (de R$1.300 para R$3.040 aproximadamente), valores condizentes com os gastos necessários para manter uma vida onde nenhum aspecto básico é fornecido pelos recursos do Estado, entretanto bastante inferiores aos altíssimos lucros das mineradoras, trabalho roubado dos que morrem em acidentes de trabalho.

O processo segue em aberto, com a direção histórica da categoria, o Sindicato Nacional de Mineiros (de sigla NUM em inglês), negociando de perto com a empresa e o governo para encerrar a greve, que apesar de brutalmente reprimida, segue forte com cerca de 8% dos trabalhadores comparecendo à mina para trabalhar. A empresa alega que só negocia com a mina funcionando, e no dia 06 de setembro o NUM, a Câmara de Minas, a Solidariedade (central sindical menor que a COSATU – da NUM e que a NACTU – da AMCU) e a Associação Unificada da África do Sul, com o apoio do ministro do Trabalho Mildred Oliphant, assinaram um acordo de paz que exige a volta dos mineiros ao trabalho, determinando uma data limite de retorno.

Enquanto isso, a AMCU (Associacao dos Mineiros e Trabalhadores da Construção), ruptura do NUM que tem sido a direção mais radicalizada do movimento, negou-se a assinar o documento e opina que os trabalhadores não devem ser espectadores de uma negociação de reivindicações que já haviam aparecido nas greves mineiras de 2007, e que ate hoje não haviam sido conquistadas. Nesse sentido, a paz está condicionada ao aumento salarial, e não a um acordo assinado pelos patrões. Há um importante processo de ruptura com as direções sindicais burocráticas. Os mineiros da Gold Fields incluiu na sua pauta de reivindicações a expulsão da burocracia e na Gol One’s os mineiros lutam por reincorporar seus companheiros demitidos, entre eles os que criaram o PTAWU, um sindicato paralelo que lutavam para reconhecer.

Desde então o ativismo segue em ascensão, e no dia 12 de setembro mais de mil mineiros bloqueavam a entrada da mina de Thembelani, na região de Rustenburg, a uma distância de 40km de Marikana (do mesmo grupo ao qual a empresa LONMI esta aglomerada, a Amplats), para além dos quase 15 mil em greve na mina Gold Fields, espalhada em quatro localidades distintas do país. A indignação não se deve apenas à recusa de negociação por parte das empresas, mas também pelo fato de os trabalhadores detidos no dia do massacre terem sido responsabilizados pela morte de seus companheiros, demonstrando que o governo não quer assumir as responsabilidades sobre a atrocidade que cometeu. Frente a esta situação, foi convocada para esta quarta-feira uma greve geral de mineiros no país.

Declaramos todo nosso apoio à greve dos mineiros e exigimos, lado a lado a esses trabalhadores, que o governo, a polícia e a empresa sejam responsabilizados e punidos por esse triste massacre, que traz à nossa memoria Soweto e grandes massacres da população negra durante o Apartheid, que só seguem ocorrendo porque ao mesmo tempo em que somos descartáveis, somos também perigosos para o capitalismo.

É preciso que os trabalhadores de conjunto avancem para questionar o governo do CNA (Conselho Nacional Africano), que ao fim do apartheid iludiu os trabalhadores e cumpriu o papel de transição compactuada: acalmou o sentimento anti-racista das massas pela via da figura de Nelson Mandela, mas ascendeu ao poder com a promessa de manter a sociedade da maneira como estava, impedindo a punição sobre os assassinos do apartheid e mantendo a mesma situação de terras e de trabalho determinadas anteriormente pela burguesia branca. Marikana nos escancara que desde 1994 nada mudou, a não ser as saídas burguesas de aparências democráticas.

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