Sábado 27 de Abril de 2024

Cultura

Pablo Picasso em São Paulo

16 Mar 2015   |   comentários

A mostra Picasso e a Modernidade Espanhola, que entra em cartaz no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) a partir do próximo dia 25 de março, traz um importante panorama da arte moderna espanhola.

O nome de Pablo Picasso é sinônimo de arte moderna. Confundindo-se com as próprias vanguardas, o artista espanhol realmente esteve na linha de frente contra as convenções pictóricas e as tradições plásticas da cultura ocidental. Durante a primeira metade do século XX, quando as contradições da sociedade burguesa explodiam pelos poros da arte, Picasso ajudou na redefinição do conceito de representação artística. Estes fatos já são motivos de sobra para que prestemos atenção numa chamativa exposição que irá ocorrer na cidade de São Paulo. A mostra “Picasso e a Modernidade Espanhola“, que entra em cartaz no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) a partir do próximo dia 25 de março, traz um importante panorama da arte moderna espanhola. Indispensável dizer que Picasso foi ponta de lança no processo de modernização da pintura na Espanha e no mundo.

Bem, a oportunidade para se observar o estrago revolucionário que Picasso realizou no tecido burguês da arte não é um mero passeio diletante e, portanto, digno de senhoras da classe média alta que bebem chá e soltam risinhos. Estudar de perto as telas de Picasso, significa refletir sobre a maneira como a arte moderna (em suas tendências mais progressistas) questionou o status quo. Se hoje o pintor nascido em Málaga é celebrado enquanto clássico da arte ocidental, não podemos negligenciar o fato da sua contribuição estética não se separar de um amplo movimento cultural que ambicionou testemunhar politicamente o funeral da classe dominante.

Picasso pertenceu a uma geração de artistas boêmios que libertou o olhar das pesadas lentes do academismo. Se o ano de 1917 mostrou que a guerra revolucionária contra a burguesia foi vitoriosa na Rússia, dez anos antes Picasso demonstrava com a tela “Les Demoiselles D`Avignon“ que as tradições plásticas desta classe encontravam-se seriamente ameaçadas. Desde a Renascença que a pintura não atravessara semelhante reformulação. Ao lado de outros vanguardistas importantes como Georges Braque, Picasso lançou as linhas mestras do cubismo. Para os cubistas, compor e decompor a realidade através de figuras geométricas, consiste numa redefinição da criação artística. Dando autonomia à imagem que liberta-se das convenções da perspectiva, a pintura pode ser observada/sentida a partir de diferentes pontos de vista.

Se Picasso é pedra fundamental do cubismo, suas práticas artísticas não o aprisionaram nos limites desta escola de vanguarda: seu estilo pictórico abrangeu uma série de outros elementos estéticos. O pintor trouxe ainda uma contribuição ímpar para o movimento surrealista: interessado no universo do inconsciente, posto em evidência pela teoria de Freud, Picasso colaborou com o desenvolvimento das concepções artísticas do surrealismo. Nunca é demais lembrar que o surrealismo não é, e nem nunca foi, um movimento artístico ou uma escola de vanguarda. Podendo ser compreendido como a mais radical forma de revolta contra os interditos da civilização burguesa, o surrealismo envolve uma espécie de romantismo revolucionário que encontrou na psicanálise um ponto de partida.

O desempenho escandaloso de Pablo Picasso nos meios da vanguarda parisiense havia atraído o interesse do grupo em torno de André Breton. Picasso colabora com os surrealistas, em 1925, ilustrando com suas obras a edição 04 da barulhenta revista “La Révolution Surréaliste", órgão oficial do movimento durante os anos vinte. No mesmo ano Picasso integra ao lado de artistas como Miró, De Chirico e Ernst a exposição “A Pintura Surrealista", realizada na Galeria Pierre na cidade de Paris. Mas, apesar de sua atuação junto ao surrealismo, Picasso também não restringiu-se ao automatismo psíquico e às pesquisas expressivas dos surrealistas.

Apesar de suas contradições pessoais, Picasso foi um artista que fez da pintura um gesto de libertação. Como todo mundo sabe, o ataque aéreo que os nazistas realizaram na cidade basca de Guernica, em 26 de abril de 1937, inspirou Picasso na realização da obra de arte que tornou-se a imagem simbólica do século XX: pintar a monumental tela “Guernica", num momento que a barbárie fascista avançava pela Espanha, representa grande coragem. Enquanto o general Franco destruía a República espanhola e Hitler e Mussolini realizavam ensaios que já delineavam o que seria a Segunda Guerra Mundial, artistas como Picasso (que residia em Paris) denunciavam os horrores promovidos pelo fascismo. Em “Guernica" notamos um quadro em que a opção monocromática define a crueza da destruição: figuras humanas e de animais estão mergulhadas num profundo pesadelo, em que a angústia revela um explosivo grito de sofrimento. Sem dúvida uma obra que exprime um protesto internacional contra as atrocidades da guerra.

Certa vez Picasso disse que “A pintura não é feita para decorar as moradias. É um instrumento de guerra ofensiva e defensiva contra o inimigo“. Julgando que este inimigo é a ordem capitalista, então vale a pena refletirmos sobre o alcance revolucionário que a pintura pode ter. Ainda que a arte moderna não assuste hoje em dia a burguesia, devemos assimilá-la para darmos prosseguimento ao combate.

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