Sábado 4 de Maio de 2024

Nacional

AUMENTO DOS PREÇOS

Os trabalhadores serão os principais prejudicados pela inflação

14 May 2008   |   comentários

A economia brasileira continua crescendo. Nesses primeiros meses de 2008, por exemplo, a indústria automobilista bateu recordes históricos de vendas. A safra de grãos desse ano pode superar todas as marcas anteriores. Mas os primeiros efeitos da crise dos EUA começam a ser sentidos. A inflação internacional das commodities, gerada principalmente pelo aumento da demanda chinesa, foi acelerada em função da crise financeira e da crescente desvalorização do dólar, que leva grandes capitais a buscar posições mais seguras no mercado de matérias primas e alimentos. Essa inflação atinge o Brasil e funciona como uma correia de transmissão da crise internacional, apesar da continuidade do crescimento económico interno.

A crescente valorização das commodities é um dos fatores que, ao atrair uma enxurrada de dólares ao país, pressiona a valorização do Real. Isso vai incubando contradições importantes para a economia brasileira. A balança comercial, que foi o grande trunfo do governo Lula para financiar seus programas sociais e juntar cerca de 200 bilhões de dólares em reservas, já é deficitária em bens industrializados e as importações crescem num ritmo muito maior que as exportações. A maior parte da dívida pública brasileira está em reais e é atrelada aos juros do Banco Central, o que significa que ela aumenta a cada valorização do Real e a cada vez que o Banco Central aumenta os juros.
A inflação dos alimentos e também do petróleo e de outras commodities, cada vez mais alta, provoca um aumento de custo para os industriais, que começam a repassar esses aumentos ao consumidor. Os dados da inflação para o início deste ano mostram que outros produtos, para além dos alimentos, começam a ter aumentos significativos. O aumento do preço do diesel, por sua vez, vai pressionar mais ainda os preços dos alimentos e do transporte público. Os trabalhadores mais precarizados e com os piores salários, são não só os primeiros a sentir as conseqüências da inflação, mas os primeiros a lutar contra a queda do valor real dos salários, como mostrou a greve da construção civil em Fortaleza.

Essas contradições, em dinâmica, ameaçam o atual esquema de acumulação de capital promovido por Lula, que chamamos de neoliberalismo lulista, que se baseia numa alta taxa de juros e no Real valorizado para atrair capitais internacionais, no saldo positivo do comércio exterior, que sustenta a dívida pública e os investimentos sociais, nos baixos salários herdados da época de FHC e na baixa inflação que ajuda as centrais sindicais governistas a conter as reivindicações salariais dos trabalhadores.

Neoliberais e neodesenvolvimentistas

O aumento da taxa de juros pelo Banco Central tem como objetivo conter a inflação diminuindo o ritmo de crescimento da economia e esfriando o consumo. Essa é uma tentativa de manter intacto o atual esquema de acumulação. Com essa tentativa do Banco Central de conter a inflação, os maiores beneficiados são os capitais internacionais, que continuarão sendo altamente recompensados com os juros altos da dívida pública interna e que com o Real valorizado tem ótimas condições para repassar seus lucros aos países de origem. Não à toa que deram ao Brasil o selo de “grau de investimento” , já que a política económica do governo Lula garante uma alta rentabilidade aos seus capitais. Essa política, porém, provocando o esfriamento do consumo, pode paralisar o crescimento do emprego e gerar ondas de demissões em massa.

Os industriais que têm sustentado seus lucros justamente no crescimento do consumo temem que as medidas do Banco Central, ao esfriar o consumo, esfriem também os seus lucros. Até mesmo setores exportadores de commodities temem ser prejudicados se o Real continua a se valorizar. Essas divisões são muito iniciais, mas começam a gerar disputas em torno da política económica do governo Lula. Se expressam nas divergências entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda, que quer evitar o aumento dos juros com subsídios e redução de impostos a setores industriais e exportadores, para manter os altos lucros destes setores sem que o aumento de custos seja repassado aos consumidores. Para tentar conter a valorização do real, o governo Lula vai comprar mais dólares, criando um “Fundo Soberano” para financiar empresas brasileiras no exterior.

Economistas neodesenvolvimentistas defendem uma política burguesa alternativa ao neoliberalismo lulista. Defendem um “novo modelo” , fundamentado na redução dos juros e na desvalorização do real, o que beneficiaria diretamente setores industriais e exportadores, já que encareceria o preço em reais dos produtos importados, gerando uma espécie de reserva de mercado para a indústria e reduziria o preço em dólares dos custos de produção. No entanto, no momento, uma política económica neodesenvolvimentista conta com uma escassa base de apoio na burguesia mais concentrada, que teme que qualquer mudança na política económica provoque como conseqüência desequilíbrios políticos, greves salariais e fissuras com o imperialismo.

Mas essa política neodesenvolvimentista, defendida inclusive por setores de “esquerda” como o PSOL, apesar de se disfarçar sob o lema de defesa da produção e da renda, também tem como eixo um ataque brutal às condições de vida dos trabalhadores. A desvalorização do Real levaria a uma enorme redução do poder de compra do salário. Na Argentina, por exemplo, quando o Peso foi desvalorizado em função da crise económica isso significou uma redução de cerca de 30% nos salários. Além disso, as tendências inflacionárias aumentariam, reduzindo ainda mais o valor real dos salários.

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