Sábado 27 de Abril de 2024

Internacional

GREVES MINEIRAS NA ÁFRICA DO SUL

Os operários enfrentam a repressão, o governo e a burocracia sindical

16 Nov 2012   |   comentários

A nova onda de greves no setor ocorre rechaçando o acordo assinado pela burocracia sindical da União Nacional de Mineiros (NUM, da sigla em inglês) que desde o início vem procurando quebrar a luta com diferentes métodos, incluindo a utilização de bandos de jagunços contra os grevistas.

Há mais de 2 meses da repressão e assassinato de 34 grevistas em Marikana, a greves num dos setores mais importantes da economia sul-africana – mineração – continuam. No final de outubro mais de 30 mil mineiros em Rustemberg paralisavam a American Platinum (Amplats), a maior exploradora desse mineral no mundo, exigindo melhores condições de trabalho, aumentos de salário e contra a demissão de 12 mil trabalhadores. Em Marikana milhares de mineiros paravam durante várias horas reclamando a liberação de quatro companheiros que foram detidos após depor em tribunal que investiga a repressão e os assassinatos feitos pela polícia na greve de agosto, nessa cidade. Em outras explorações mineiras do país surgem greves e enfrentamentos com as forças de segurança.

A nova onda de greves no setor ocorre rechaçando o acordo assinado pela burocracia sindical da União Nacional de Mineiros (NUM, da sigla em inglês) que desde o início vem procurando quebrar a luta com diferentes métodos, incluindo a utilização de bandos de jagunços contra os grevistas.

Na tentativa de barrar o processo de ruptura das bases operárias com a burocracia sindical da NUM, a central operária nacional (Cosatu) organizou um ato no estádio de Rustemberg, onde se dava a greve da Amplats. No ato se viu uma mostra a mais da ruptura de um setor de ativista e da base em greve, com milhares de mineiros vestidos de camisetas com dizeres contra o acordo feito pela burocracia e a maobilização de mil manifestantes de Marikana denunciando a cumplicidade da burocracia da NUM na repressão aos grevistas.

Os métodos de luta, as greves duras e o surgimento de um ativismo operário nucleado no sindicato independente AMCU (Associação de Mineiros e Construtores), ocorrem fruto de que a reivindicação de melhores condições de trabalho enfrenta-se com as empresas imperialistas e a aliança da burocracia sindicala (NUM e Cosatu) com o governo do CNA (Congresso Nacional Africano) e o PC (Partido Comunista) sul-africano que não vacilam em declarar as greves ilegais e perpetrar a repressão policial e de jagunços para garantir os negócios das mineradoras imperialistas.

Aumenta o desgaste do governo do CNA

O governo do CNA em meio à crise econômica mundial vem garantindo os planos imperialistas na África do Sul. Nos últimos anos a desigualdade, a pobreza e o desemprego afligem os trabalhadores e o povo pobre, depois do fim do Apartheid e a ascenção do CNA ao governo, como explicamos em artigos anteriores (ver “Massacre operário na África do Sul”, em La Verdad Obrera nº 489, www.pts.org.ar), as empresas imperialistas, os empresários brancos e uma minoria negra são os que enriquecem à custa da exploração da população negra.

O regime nascido após o fim do Apartheid, assentado na aliança entre o CNA, o PC e a burocracia sindical da Cosatu, está sendo questionado pela mobilização e luta operária do setor mineiro e que agora começa a se estender a outros setores, como os trabalhadores rurais.

Há poucos dias da conferência nacional do CNA vem à luz mais claramente as divisões no interior do partido governante. Dirigentes como Julius Malema (fundador da Liga da Juventude do CNA), que vinha questionando a política do atual presidente Jacob Zuma, voltou a lançar críticas públicas ao governo, buscando canalizar o descontentamento popular e mostrando-se como ala “viável” dentro do partido para evitar uma ruptura dos trabalhadores e do povo pobre com o CNA, cada vez mais contestado.

Nestes meses de luta dos trabalhadores se vê inúmeras mostras de combatividade e heroismo, conseguindo parte de suas reivindicações, porém as empresas imperialistas de preparam para descarregar a crise sobre os ombros dos trabalhadores, mais uma vez, quando anunciam reestruturações e demissões para o próximo ano. Após três meses de “greves selvagens”, de enfrentamentos com a burocracia e a polícia, e de uma brutal repressão, começa a ficar cada vez mais claro a impossibilidade de o governo do CNA – que é o sócio menor das grandes multinacionais – poder responder às demandas mais legítimas dos trabalhadores e do povo. Será necessária uma experiência profunda com estas direções políticas e sindicais, assim como com os setores que se apresentam como “renovadores”, para expressar uma alternativa de independência de classe que possa encarar e derrotar os ataques que, como parte da crise capitalista internacional, estão sendo descarregados nas costas dos trabalhadores.

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