Domingo 28 de Abril de 2024

Nacional

Entrevistamos Claudionor Brandão, diretor do Sintusp demitido político e dirigente da LER-QI

Organização e mobilização para conquistar nossas justas reivindicações

02 Jun 2009   |   comentários

Jornal Palavra Operária: Qual a sua avaliação da invasão da Polícia Militar na USP?

Brandão: Nesta segunda-feira, dia 1º de junho, no 27o dia de nossa greve, tivemos um triunfo que, apesar de parcial, é extremamente importante. Pois a reitoria da USP, em conluio com o governo do estado, chegou ao absurdo de ordenar a invasão da universidade pela Polícia Militar, lembrando os tempos mais obscuros da Ditadura. Uma vergonha para uma reitoria que diz prezar pelos valores “democráticos” . Não bastava os inúmeros processos buscando criminalizar o movimento de funcionários e estudantes. Agora se trata da ocupação militar dos principais centros de funcionamento da universidade.

Mas o que a Sra. Suely Vilela não podia imaginar é que seria desatada uma forte resposta de repúdio tal como foi, não só por parte do movimento de funcionários, estudantes e professores das três estaduais paulistas, mas também por parte de amplos setores sociais de fora das universidades, incluindo parlamentares, lideres políticos, sindicais e de direitos humanos. A reitoria e o governo tentaram dar um salto brutal na política de repressão à liberdade de organização sindical e política de funcionários e estudantes dentro da universidade, dando um salto de qualidade na violação dos próprios preceitos elementares da autonomia universitária.

JPO: Como foi a resposta do movimento?

Brandão: A resposta foi imediata por parte dos funcionários da USP que prontamente repudiaram a brutal ação repressiva e reafirmaram a força de nossa greve. Em seguida foram os estudantes e professores que marcaram seu repúdio, deslocando várias salas de aulas inteiras para a porta da reitoria, realizando várias aulas públicas naquele espaço para demonstrar que ele é dos estudantes, funcionários e professores e de modo algum dos cassetetes e das armas de grosso calibre da Polícia Militar.

Como sinal de fraqueza, a reitoria foi obrigada a recuar, ordenando a retirada do cerco militar à reitoria e fazendo pronunciados demagógicos para tentar mascarar sua política autoritária e intransigente?

JPO: Qual a política da reitoria?

Brandão: Ao mesmo tempo em que deu ordem de repressão policial, a reitoria orientou todas as chefias de unidades a ameaçar os trabalhadores que não queiram voltar ao trabalho com punições como o corte de ponto etc. Ao mesmo tempo desde o dia 25/05 o CRUESP (Conselho de reitores das universidades estaduais paulistas) suspendeu as negociações com o Fórum das Seis (entidade que reúne os sindicatos de professores e funcionários das três universidades) e desde o dia 26/05 a reitoria da USP suspendeu as negociações com os trabalhadores e greve da USP. Apesar dos funcionários e professores das três universidades em suas assembléias de base terem rejeitado as propostas colocadas na mesa de negociações e exigido uma nova rodada de negociações, o CRUESP e a reitoria da USP se mantêm intransigentes em não sentar novamente na mesa de negociações. Assim, a política dos reitores e em especial da Sra. Suely Vilela é tentar vencer os trabalhadores pelo cansaço e ao mesmo tempo amedrontá-los e coagi-los para que voltem ao trabalho de forma desorganizada.

JPO: Como se desmascara a intransigência da reitoria?

Brandão: Já como uma resposta defensiva ao repúdio à ocupação militar na USP, a reitoria publicou um comunicado dizendo que mantém os canais de diálogo e comunicação abertos. Mas o fato é que o Comando de Greve tem publicado vários boletins exigindo uma nova rodada de negociações e até agora a o CRUESP e a Sra. Sueli não marcaram nenhuma nova negociação. A reitoria da USP tenta espalhar entre os trabalhadores a idéia de que as negociações não avançaram pela exigência de que o Brandão sente-se na mesa de negociação ou por causa da reivindicação de minha reintegração. Mas o fato é que os trabalhadores desde o início da greve aprovaram em assembléia que eu fazia parte da Comissão de Negociação da categoria, mas que se não fosse aceita minha entrada a comissão entraria mesmo assim; registrando o protesto à atitude anti-sindical da reitora que se arvora o direito de decidir quem deve ou não representar os trabalhadores, negando o reconhecimento do estatuto e das instancias de base da categoria, que são legalmente reconhecidas. O fato é que a reitoria vem se negando a negociar nossa reivindicação salarial, a garantia de nossos empregos e nossa carreira, a mudança de nomenclatura das companheiras da creche etc.

JPO: Como desmascarar o discurso demagógico da reitoria?

Brandão: A reitoria tem dito em seus pronunciamentos que os trabalhadores da USP são “violentos” . Mas violência é impor mais de 42% de perdas salariais; é colocar em risco o emprego de 5.214 pessoas; é não ter atendimento digno aos trabalhadores da USP e à comunidade da região no Hospital Universitário; é a ameaça de desabar o restaurante central onde circulam mais de 5 mil pessoas por dia; é o assédio moral que deixa mais e mais trabalhadores doentes; é o salário de miséria e as condições de humilhação a que estão submetidos os terceirizados que trabalham na universidade.

A reitoria tem dito que os trabalhadores em greve agem de forma ilegal. Mas ilegal é demitir um diretor sindical violando as garantias da Constituição brasileira e das normas da OIT de estabilidade no emprego para dirigentes sindicais.

JPO: Como combater a coação das chefias nas unidades e desmascarar suas mentiras?

Brandão: A reitoria da USP e suas chefias “puxa-saco” são hipócritas, pois a própria liminar da justiça que foi utilizada para militarizar a USP reconhece a legitimidade e a constitucionalidade da greve dos trabalhadores, quando a juíza afirma que “não se trata de impedir o movimento paredista” , e estes passam por cima deste fato ao ameaçarem os trabalhadores com punições e cortes de ponto caso não voltarem ao trabalho. A violência policial é utilizada para reprimir os trabalhadores em greve e nenhuma medida é tomada contra a reitoria e os chefes que com essas coações violam o direito elementar e constitucional dos trabalhadores a permanecerem em greve. Em cada unidade, precisamos denunciar, aos olhos dos trabalhadores, a hipocrisia e a violação dos nossos direitos que está sendo cometida quando nos ameaçam de punições para nos obrigarem a voltar ao trabalho sem que sejam negociadas e atendidas nossas reivindicações..

JPO: Quais devem ser as perspectivas para o movimento?

Brandão: Nossa perspectiva deve ser a organização e a mobilização para conquistar nossas justas reivindicações. Devemos manter nossa greve para arrancarmos uma a uma nossas reivindicações. Precisamos forjar ampla unidade com os estudantes e os professores do ensino médio estadual para lutar contra os ataques de Serra à educação, que pretendem privatizá-la e sucateá-la ainda mais, como tem sido com a implementação do ensino à distância através da Univesp. A solidariede ativa que temos recebido de diversos sindicatos (tendo à frente a Conlutas), personalidades, entidades estudantis, populares e democráticas são parte fundamental para constituir um forte movimento que barre as medidas autoritárias de Serra e da reitora contra a liberdade sindical e de expressão e manifestação na universidade e em todo o Estado.

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