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Opinião: Grande ato e assembléia dos estudantes da USP: uma nota “militar” sobre as conquistas e novas contradições no movimento

12 Nov 2011   |   comentários

Um general prussiano, Claus Von Clausewitz é um “must” nas escolas de guerra da burguesia. Também era para Lênin e Trotsky. Ele afirmava que a guerra era a política continuada por outros meios. Suas reflexões sobre a guerra são fundamentais para aqueles que nos pautamos pelo combate, pela reflexão e pela vontade de agir para vencer. Os estudantes da USP precisam vencer! Sua vitória será um passo adiante em todo o país contra a militarização das universidades e das periferias e favelas. Com alguns olhares do prussiano precisamos ver a situação atual do movimento com suas conquistas e contradições para vencermos.

Das vitórias e seus riscos

Toda batalha implica em perigos. As conquistas também abrem dificuldades até para o exército vitorioso. O exército derrotado se reagrupa, estuda seu contra-ataque. A euforia dos vitoriosos os distrai, o ganho de aliados faz pensar que tudo já está ganho. Por este caminho só se conhece a derrota. É preciso a consciência do estudo meticuloso junto a mais obstinada vontade na linha de frente dos combates. É com esta visão que queremos olhar os novos cenários na USP.

Os aliados que são ganhos para o movimento vitorioso (taticamente) atuam com seus próprios interesses e não os do movimento. A consciência dos avanços e das contradições é uma necessidade imperiosa para o triunfo do movimento, começando por sua efetiva luta pela anulação de todos os inquéritos aos 73 presos políticos.

O movimento da USP já conheceu algumas vitórias táticas, uma derrota militar (a desocupação). A realidade é dialética, a guerra também. A derrota militar começa a se transformar em vitória política. Ela fez acelerar a massificação da luta contra a polícia.

A conquista de aliados, dos que não estavam na luta e da massificação

O grande ato que os estudantes da USP oganizaram no centro de São Paulo na quinta-feira passado afastou toda e qualquer dúvida de que se tratava de um movimento minoritário. Mesmo longe de seu centro de gravidade, a FFLCH, os estudantes da USP mostraram na importantíssima e tri-secular São Francisco como uma maioria, ativa que toma as ruas pelos presos políticos e pela retirada da polícia da USP é muito mais forte que todo o ataque da mídia a seu movimento.

A greve cresce. A luta pela retirada da polícia ganha novos setores, aliados na intelectualidade, na intelectualidade e figuras políticas petistas, na própria mídia em figuras da cultura como Marcel Rubens Paiva e o vocalista dos Detonautas. A associação sindical dos professores da USP, a ADUSP começa a apoiar a luta pela retirada da polícia. O DCE (PSOL) e seus aliados do PSTU, de opositores abertos a entrada imediata em combate com a polícia através de se oporem aos métodos de luta como a greve e as ocupações pela retirada da polícia, começam a se postar como “campeões” do movimento. Estas conquistas, aqueles que não estavam na luta entrarem nela, ganhar apoios inesperados, nos fortalece, massifica o movimento, ao passo que trás novos perigos consigo.

A massificação do apoio e a consolidação de uma ala militante de milhares são conquistas do movimento. Termine como terminar este movimento ficará marcado como milhares de estudantes da USP são, no mínimo, críticos a polícia na USP e em alguma medida em toda sociedade. Isto já está consolidado e uma vitória contra o senso comum acrítico e elogioso sobre a polícia que se consolida no país com as UPPs e toda campanha reacionária a la Tropa de Elite e programas de TV como Cidade Alerta, Balanço Geral.

A questão é como do já consolidado avançamos ao não conquistado. Cada vitória tática recoloca o exame da correlação de forças, o exame de para onde e como avançar.

Uma conquista não tão reivindicada e o perigo do esvaziamento do comando de greve

Outra conquista do movimento é ter começado a se firmar um órgão que pode ser sua direção democrática. Esta conquista é o comando de greve com delegados revogáveis por curso. Este organismo é o que permitirá a massificação do movimento e sua não entrega em negociações por fora do movimento como se tentou fazer na ocupação da FFLCH. É o que permitirá, como uma assembléia das assembléias, sua evolução democrática e radical.
Duas democracia começam a se chocar. A formal por fora da luta de classes, a da eleição das entidades como o DCE, e a democracia dos que lutam, da representação dos mobilizados, das assembléias, dos piquetes, das ocupações.

O DCE segue se postando como direção do movimento não por uma maioria no comando de greve, mas por ser o DCE. A entidade tem o direito e o dever de postar-se enquanto tal. Os estudantes em luta devem exigir seus recursos, seus contatos com a mídia, que toda sua estrutura estejam a serviço da luta. Para isto os estudantes em luta precisam exigir que tudo avance e se decida em base às assembléias e o comando de greve.
Há mostras contraditórias de como avançar neste sentido. Por um lado foi tirado um adesivo massivo assinado pelas entidades (inclusive o SINTUSP onde nos opusemos), votado em nenhuma assembléia ou comando, este adesivo constitui um perigo pelo método com que foi tirado, como por seu conteúdo “Segurança sim, PM não” (o que desenvolveremos abaixo). Por outro lado, foi afirmado em assembléia na SanFran (e não no centro mais radical do movimento, a FFLCH) que não se faça mais isto, que o comando ou as assembléias mandam.

Aqueles que queremos o triunfo do movimento a partir de sua massificação e radicalidade precisamos estar cientes: é preciso fortalecer e impor o comando de greve como a direção democrática do movimento.

Sucessos na batalha pela opinião pública e o perigo dos aliados

O ganho de aliados, o ganho de um setor mais massivo dos estudantes aderirem ao movimento trás potenciais novos, maiores e consigo novos perigos. O ganho de aliados que colocam-se pela retirada da polícia pautando-se na autonomia universitária fortalece os estudantes por um lado ao enfraquecer sua demonização, e por outro, enfraquece sua perspectiva de se colocar como tribuno de todos aqueles que são pisados e mortos pela polícia FORA da universidade.

A obstinada luta pela retirada da polícia está começando a enfraquecer-se em um debate sobre qual deveria ser a segurança da USP.
O movimento desde sempre teve opiniões sobre isto e as debateu em assembléia. Lá nos idos de 27/10 já surgira esta discussão. O problema novo é que o senso comum pressiona o movimento estudantil, e os estudantes começam a se sentir obrigados a ter que responder isto como um eixo de sua atuação.

O professor Luizito, aliado de primeira hora dos estudantes e funcionários em luta, afirmou em entrevista a uma TV que o problema de segurança da USP eram dois: a PM e Rodas. Claro que podemos avançar muitíssimo em um programa alternativo de segurança mas desde que não percamos de vista o essencial: a expulsão da PM, a derrubada de Rodas.

Não é isto que produz o adesivo massivo de “Segurança sim, PM não”, não aprovado em assembléia ou comando. Ele coloca a discussão de qual segurança lá como primeira hierarquia. Este é o desvio que arma o aliado recém ganho ao movimento, a ADUSP, o DCE (PSOL) e também o PSTU (ver as declarações nas TVs e jornais de seus intelectuais como Henrique Carneiro e todo eixo propostivo que dá ao programa de uma guarda universitária concursada).

A ADUSP já deu entrevistas propondo formas de chegar a um acordo que passe por uma transição com a presença da polícia e sua tolerância para a presença ocasional, chamada pela guarda universitária, da PM. O DCE que desde o começo colocou-se favorável a somente regular e modificar o convênio seguramente aceitará de bom grado esta posição que será um desvio da luta irreconciliável com este Estado e reitoria e seus instrumentos repressivos e assassinos.

Os novos aliados do movimento PSOL e PSTU agirão de acordo com a sua postura anterior ou a irão rever? Atuaram como inimigos da deflagração imediata e combativa da luta pela retirada da polícia (foram contra ocupação da FFLCH, retirarm-se da assembléia que culminou na ocupação da reitoria, não construiram a ocupação, foram contra a greve imediata na assembléia histórica de 8/11) ou, construirão um efetivo movimento pela retirada dos inquéritos dos 73 e da polícia? Todas mostras presentes indicam o contrário, começando pelo eixo em outra segurança ou nas drogas. Ganhar aliados exige saber que eles tem sua própria política e interesses. Por isto a orientação do comando, democrático, combativo ganha ainda maior importância.

A guerra exige inteligência e segurança do que é principal e o que é secundário: a prioridade deve ser a retirada dos inquéritos dos 73 presos políticos

A guerra sempre trás novos riscos e situações inesperadas. O novo inesperado é o ganho de aliados e a conquista de posições em locais como a RI, a SanFran, a Biologia, e até figuras pop como o vocalista dos detonautas. Outro fator inesperado foi a militarização da USP e a existência de 73 presos e perseguidos políticos.

A dura posição de Alckmin que por ele a polícia ficará na USP ocorra o que ocorrer, dificulta o desvio que ADUSP-DCE parecem estar montado. Alckmin seguirá intransigente, estaria ele apostando na dificuldade deste movimento manter-se férias adentro?

Muitas questões seguem em aberto. Mas algo novo precisa ser a prioridade em nossa guerra. A retirada de todos inquéritos aos 73 presos e perseguidos políticos. Esta novidade exige a readequação de nossos objetivos prioritários e secundários.

Avançar, deixando para trás mortos e feridos é uma opção de um exército. Desde que ele tenha forças morais tais que saiba que esta derrota não o desmoralize. Desde que ele saiba que seus feridos estão bem cuidados. Não é o caso. Alckmin, Rodas e toda a mídia querem dar um exemplo, querem colocar todos em cana por 4 anos com o absurdo inquérito de formação de quadrilha. A derrota moral seria muito superior a qualquer conquista.
Qual seria o resultado de avançar na retirada da polícia e ter parte fundamental da vanguarda presa por formação de quadrilha? Que a repressão aos trabalhadores, movimentos sociais seria muito mais aguda. Se for possível prender estudantes, em sua maioria brancos e oriundos da classe média, por lutar o que poderá ser feito com sem-terra no interior do Pará?

A questão dos presos e seus inquéritos recoloca a discussão estratégica. Nosso movimento é elitista ou ele é tribuno de todos os oprimidos por este governo, este Estado? Precisamos defender a retirada dos inquéritos como primeira prioridade não só porque são parte dirigente, fundamental da luta na USP, mas porque o sucesso da burguesia contra os lutadores neste holofote nacional será seu sucesso em todo o país. Todas organizações de esquerda, de direitos humanos, intelectuais e artistas democráticos estão chamados a assumir esta luta como prioridade. Se tocam estudantes da USP poderão tocar qualquer lutador no país!

É preciso sermos obstinados: Não Passarão! Retirada de todos os inquéritos!

Uma dura luta – formar um duro exército que batalhe pela democracia do movimento, sua radicalidade e que seja a voz de quem está fora da universidade

Passando por distintos cenários, aproximação, afastamento de aliados. Dureza, abertura a diálogo do governo e de seu interventor João Grandino Rodas é preciso saber que esta batalha atual é parte de uma guerra superior.

A crise capitalista exige da burguesia a adequação de suas relações com as massas e de cada instituição sua para estar a altura de seus novos planos. Com as vacas magras é preciso apertar, esmagar, calar em meio à fome. As universidades são um empecilho a isto. Desde suas salas de aula e desde a juventude surgem questionamentos profundos e uma decisão de luta desafiadora aos planos da burguesia. Estes combates começam a ocorrer em cada país europeu e em nossos vizinhos Chile e Colômbia. Como bem diz a Veja, temos por um lado os que estão em 68, o que assumimos de bom grado, e os “modernos” da UnB que querem a privatização da universidade e sua militarização.

A universidade será um cemitério das idéias e da vida para ajudar a burguesia a atacar o conjunto das massas ou será uma barricada para a transformação do conjunto da sociedade. Estes são os campos estratégicos que começam, e entrarão muito mais fortemente no futuro, a entrar em guerra. A militarização da já elitista e racista USP, a perseguição aos lutadores, é parte desta guerra. Cabe a nós revolucionários assumirmos nossa parte na guerra.

Nossa parte é formar uma corrente de milhares em todo o país que seja a voz daqueles que estão fora da universidade. Que encare cada luta sua como parte da luta geral dos trabalhadores e do povo contra a burguesia. Para isto é preciso sermos os mais conseqüentes defensores e implementadores da democracia dos que lutam, deste nova forma de construir uma direção do movimento que começa a ser feita na USP, o comando de delegados de assembléias de curso.

Sejamos os radicais, os obstinados em garantir o sucesso das mais duras batalhas, inclusive em seus aspectos militares, mas antes de mais nada em seus objetivos políticos. Esta luta por construir uma corrente revolucionária de milhares com estes objetivos, estratégia, moral passa por contribuir a que esta luta triunfe. Nos orgulhamos de junto a centenas de independentes estarmos na Unicamp, nas Unesp de Marília e Rio Claro dando ativas mostras de solidariedade com caravanas, trancaços, paralisações. A burguesia quer luta de classes, nós aceitamos o combate e em cada lugar atuamos assim. Não queremos ser uma corrente para só ocupar espaços institucionais queremos ser milhares nas ruas, em combate. É preciso lutar e é preciso vencer! Preparemos o futuro! Sejamos milhares em luta, sejamos a voz dos presos e perseguidos, sejamos a voz dos trabalhadores e do povo!

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