Quarta 15 de Maio de 2024

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EUROPA

O movimento estudantil francês

14 Nov 2007 | Correspondente de Paris   |   comentários

Nas últimas semanas, foi agregada a entrada em cena do movimento estudantil na preparação da greve do dia 14 de novembro, que na luta contra a lei de autonomia das universidades (LRU), apoio desde o começo aos trabalhadores. Foi um elemento “inesperado” para o governo, que pensava ter evitado a resistência estudantil aprovando a lei em plenas férias [1].

Rapidamente os estudantes se colocaram de pé: em cerca de três semanas se armou uma greve nacional com 36, das 85 universidades, bloqueadas total ou parcialmente, ou fechadas pela própria administração para impedir a organização estudantil. Na última terça-feira se somaram outras 6 e se estima que em 39 assembléias houveram mais de 27 mil estudantes. Em alguns lugares se votou a ocupação para garantir o ativismo durante a greve dos transportes. Se coordenaram nacionalmente com delegados mandatados pelas assembléias e incorporaram à pauta de reivindicações as reivindicações dos trabalhadores e a defesa dos trabalhadores imigrantes sans-papiers (ilegais).

Está claro que a luta que derrotou o CPE em 2006 deixou importantes lições: é possível fazer o governo retroceder e para isso é chave a aliança com os trabalhadores. Mas como disse um estudante da faculdade de Saint-Denis tem que “ir mais além da unificação na rua” . Na última reunião da coordenação nacional, foi proposto que os estudantes de todo o país bloqueassem as estações de trem em apoio à greve. A importância da entrada em cena do explosivo movimento estudantil se reflete na política do governo e das direções burocráticas. O governo lança uma brutal campanha contra um movimento que chama de minoritário e controlado pela extrema esquerda, e convoca para a ação os setores anti-greve. A ministra da Educação superior considera “muito importante que todos os estudantes vão às assembléias” , incluindo obviamente os que estão contra os piquetes, trata de organizar plebiscitos com voto secreto ou por Internet para romper a greve, ou diretamente manda reprimir como na faculdade de Nanterre.

A União Nacional de Estudantes da França (UNEF), ligada ao PS, tem um duplo discurso: nas assembléias defende a anulação da lei e inclusive os piquetes, mas seu dirigente nacional Bruno Julliard declara que considera “fora de discussão” a anulação da lei e se manifesta a favor dos referendos sobre os piquetes. Em relação ao bloqueio das estações de trem, se viu o temor das direções à unidade operário-estudantil, com a UNEF e a juventude do PC se opondo. Nos poucos lugares onde a ação foi realizada, como em Rennes, apelaram para a repressão.

A Assembléia de Tolbiac, uma das mais radicalizadas

Na Assembléia Geral (AG) de Tolbiac de terça-feira dia 13, com mais de 2000 estudantes o ambiente era de muita revolta. Se colocou a anulação da LRU, mas também se votou o aumento salarial de 140% para os funcionários das universidades. Vários estudantes reivindicaram sua condição de trabalhadores: foi levantado que somente 25% de estudantes dos primeiros anos são filhos de empregados ou operários, o que se reduz a 5% nas carreiras (os primeiros anos são gerais e depois o estudante escolhe sua especialização ’ NdT). A reivindicação da unidade com os trabalhadores foi uma constante, e foram muito aplaudidas as intervenções dos ferroviários. Um deles reivindicou a democracia da votação de mão na AG contra o referendo por Internet que a presidência propunha, foi aclamado quando falou: “ a greve pertence aos grevistas” . Mais tarde se votou o boicote a tal instrumento. Os da UNEF foram questionados por terem negociados com a ministra.

O novo é que se falou muito contra o colonialismo, a guerra da Argélia e a universidade como reprodutora das desigualdades sociais. Também se questionou o funcionamento da universidade e se propós um governo tripartite, ainda que não foi votado. Diferentemente das assembléias contra o CPE, se expressou um descontentamento geral mais profundo e a questão da lei é importante, mas não o único objetivo de luta.

Nanterre, enfrentamento com a tropa de choque

Na segunda-feira dia 12, a direção da universidade fechou a porta que os grevistas haviam mantido abertas e sob controle do movimento, como pretexto para a repressão. A tropa de choque reprimiu com gás lacrimogêneo e cacetes. Apesar de todas as manobras e a repressão para levantar os piquetes na assembléia com mais de 1500 estudantes se votou a manutenção. As autoridades que pretendiam se reunir não conseguiram, enquanto que o comitê de greve reuniu cerca 200 estudantes.

No dia seguinte houve certa tensão com os estudantes fura-greves e a direção da faculdade, que terminou atraindo as forças repressivas. A intervenção foi mais violenta que a da véspera, e depois de horas desarmaram o piquete. Mas frente a repressão, no comitê de greve havia mais de 800 estudantes para organizar os próximos passos da luta.

Traduzido por: Clarissa Lemos

[1A LRU, sob a aparência de um mero aumento da autonomia financeira, é na realidade a abertura a uma privatização parcial, com um provável aumento das matrículas, a conseqüente elitização das universidades, uma vez que as adapta melhor aos interesses do capital e cria um regime universitário mais anti-democrático

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