Domingo 5 de Maio de 2024

Juventude

JORNAL A PLENOS PULMÕES #07

França em chamas!

22 Nov 2007 | Nesse sábado, 24/11, participe às 14h da Plenária Aberta do Movimento A Plenos Pulmões. As 15:00 Áudio-Conferência direto da França com estudante brasileira da Universidade Paris VIII e às 21:00 FESTA!! inauguração da nova Casa Socialista da Vila Madalena, com música, comes e bebes.... A Casa Socialista da Vila Madalena fica na Pça Américo Jacomino, 49 – em frente ao metrô Vila Madalena 3673-0531   |   comentários

França em chamas!

por Felipe, letras USP

A burguesia imperialista francesa vem tentando passar diversos ataques aos trabalhadores, retirando os antigos direitos conquistados com o chamado “Estado de Bem-Estar” numa tentativa de obter uma maior competitividade na economia internacional. Trata-se de uma necessidade da burguesia imperialista francesa, que o presidente Sarkozy de direita, que tem sido apontado como o “Sarkó, o americano” , graças à afinidade de suas políticas com as do reacionário Bush, já anunciou que buscará impor de todas as maneiras.

Porém, seus ataques não passarão sem uma resposta à altura do movimento de massas. Isso é o que tem mostrado a imensa greve dos funcionários públicos, cujos trabalhadores do transporte são a ponta de lança, que já há uma semana paralisa Paris. Desde que Sarkozy anunciou o ataque de aumentar o tempo de serviço destes setores de cerca de 37 anos para 40 anos, que os trabalhadores públicos do transporte, e cruzaram os braços. Até agora, apesar da tentativa da burocracia sindical traidora ligada ao PS e ao PC de negociar um pacto com o governo, a radicalização e coragem dos trabalhadores impediram este vergonhoso pacto. Este processo se soma à uma imensa mobilização estudantil contra a lei que abre as portas da universidade para o controle do capital privado. Hoje cerca de 43 universidades das 85 existentes contra os ataques á universidade e em apoio aos trabalhadores. Isso mostra a juventude e os trabalhadores franceses aprenderam uma valiosa lição: que quando tomam seus métodos históricos de luta podem derrotar o governo e seus ataques.

Os trabalhadores e a juventude se levantam

As Banlieues são subúrbios parisienses que comportam milhões de imigrantes, constantemente vítimas de preconceitos racial e religioso. Após a morte de dois jovens pela repressão policial, uma rebelião se alastrou por toda a periferia. Manifestantes queimaram centenas de carros em uma só noite. Mesmo representando 10% da população francesa, eles são condenados à pobreza, ao subemprego e à educação de segunda, além de serem tratados como delinqüentes, com constantes repressões policiais e ameaças de prisões e deportação. Essa foi a resposta da população encarcerada nos guetos aos ataques do então Ministro do Interior Nicolas Sarkozy, que acenou com mais repressão e declarou “Estado de Emergência Nacional” , enviando tropas de ocupação, prendendo 3.100 jovens e condenando 700 em “julgamentos de emergência” , nos quais não há direito de defesa.

Já a luta contra o CPE ’ lei que precarizava o trabalho dos jovens menores de 26 anos, que poderiam ser demitidos nos 2 primeiros anos de trabalho sem justificação e indenização - representou um grande avanço, levando às ruas milhões de pessoas em marchas que paralisaram a capital francesa. Organizados em uma coordenação nacional, os estudantes e em seguida os trabalhadores, apesar das manobras da burocracia sindical que queriam impedir que este entrasse em cena, travaram um grande embate com o governo conseguindo uma importante vitória com a revogação da referida lei. Mais uma vez, os ataques da burguesia francesa, por intermédio de Sarkozy sofreram forte resistência do movimento de massas.

Nas últimas eleições, Sarkozy venceu o segundo turno já anunciando o que seria o seu governo. Um de seus principais projetos é como gerar mais lucros para a burguesia francesa e nisto ele sabe que precisa atacar os trabalhadores. Trabalhem mais com menos direitos! Eis a grande reposta de Sarkozy!

Mas este ataque vem sendo respondidos pelos trabalhadores com mobilizações e greve que remonta a grande paralisação de 1995, quando uma greve no setor de transporte, também sobre o regime especial de aposentadorias, parou a França por três semanas, derrotando o plano de Juppé. Mas a resposta é uma forte greve em setores estratégicos como trens, ónibus e metró ’um dos setores mais importantes da classe operária francesa ’, se confluindo com uma mobilização dos funcionários públicos ’ contra a supressão de 28.000 postos de trabalho e pelo aumento salarial, congelados há 7 anos. E ainda há as mobilizações do explosivo movimento estudantil, que tornam a atual mobilização potencialmente superior à greve de 95, contra a mesma tentativa de ataque, e à luta contra o CPE, haja vista toda experiência política forjada durante esses processos. As centrais sindicais pelegas como a CGT já se colocam na perspectiva de afundar o movimento, tentando negociar pelas costas dos trabalhadores, mas o movimento grevístico é forte e está conseguindo ultrapassar as barreiras de cada categoria e unificar as lutas na rua em massivas manifestações.

O movimento estudantil (ME), que se mobiliza hoje contra uma lei de caráter privatizante (LRU), se mostra não somente solidário “com moções de apoio” com a luta dos trabalhadores, mas na ação: a coordenação nacional de estudantes aprovou piquetes nas estações ferroviárias no sentido de ajudar os trabalhadores deste setor na paralisação. Outro fator interessante que já se transformou em património do ME francês, tanto por garantir a democracia do movimento quanto por conseguir uma atuação conjunta do movimento com “um só punho” , é a auto-organizaçã o dos que lutam, em que se votam delegados nas assembléias de base, levando estes as demandas de cada curso à coordenação, que se reúne periodicamente para organizar a mobilização. Esse método possibilitou que em apenas três semanas se armasse uma greve nacional de proporções inimagináveis.
Esse é o primeiro teste de forças de Sarkozy com o movimento de massas. Apesar de até setores da própria burguesia acharem que não seria interessante desferir tantos ataques ao mesmo tempo, o governo diz que não volta atrás nos pontos fundamentais, e tenta jogar a população contra os grevistas. Uma vitória do governo pode significar ataques de proporções históricas à classe trabalhadora. Mas a resistência do movimento de massas na luta, e uma possível vitória, pode abrir uma crise no governo superiores às do Maio de 68. Isso mostra que a classe operária não desapareceu, muito pelo contrário, volta a se reorganizar e se coloca com um potencial combativo sem igual.

ME francês: da aliança ao pacto operário-estudantil

por Vinícius, História Unesp Franca e Chico Curió, Biologia Unesp Rio Claro

Em meio à aplicação das reformas neoliberais de Sarkozy, os trabalhadores franceses se ergueram novamente. E não estão sós. O movimento grevista que se iniciou com a paralisação dos ferroviários, metró e coletivos franceses contra os planos do governo de cortar as aposentadorias especiais da categoria, estende-se para o funcionalismo público e para o movimento estudantil francês que entra em cena novamente com sua tradicional radicalização nos métodos e na política.
Com certeza as experiências de maio de 68, da greve do funcionalismo público em 95 e mais recentemente da luta contra a CPE (Contrato de Primeiro Emprego) em 2006 foram importantes para se tirar o aprendizado de uma verdadeira aliança operário-estudantil. Desde início os estudantes atrelaram seu movimento à luta dos trabalhadores incorporando essas demandas às pautas universitárias. Mas não foi só. Na reunião da coordenação nacional (com mais de 200 delegados de base) votou-se pela realização de barricadas e bloqueios as estações de trem em apoio a luta dos trabalhadores.

O movimento estudantil francês, que hoje se coloca como vanguarda do ME mundial, nos ensina em suas lutas que é fundamental uma sólida aliança operário-estudantil. Força, espontaneidade e decisão não faltam à luta operária e estudantil. Porém, tem faltado uma direção que transforme a aliança operário-estudantil em um programa unificado, que derrube a burocracia da UNEF (espécie de UNE francesa) e a burocracia de esquerda expressa no PS, no PC e na CGT que é um empecilho para a massificação e concretização de um verdadeiro pacto entre trabalhadores e estudantes, que coloque a luta universitária em direta ligação na luta contra a opressão capitalista e contra o governo Sarkozy.

Auto-organizaçã o e aliança operário-estudantil: aprendendo com as lutas

Esta greve estudantil francesa é singular e importante para todo o mundo, para que possamos entender os limites e potencialidades das lutas estudantis e refletir sobre o futuro do movimento estudantil brasileiro. Para além das pautas mínimas, do corporativismo, dos calendários prontos com plebiscitos e marchas contra a corrupção, os estudantes na França desafiam a miséria do possível. Constroem uma luta dinâmica. Dinâmica como a luta de classes, como o confronto entre explorados e exploradores. Desde o início, dois elementos são chave para tamanha potencialidade: é construída em conjunto com os trabalhadores e baseada nos métodos mais avançados de auto-organização.

À revelia da União Nacional dos Estudantes Franceses (UNEF) ligada ao Partido Socialista(PS) e enfrentando novamente a juventude do Partido Comunista(PC) , ambos que hoje vão de malas e bagagens para sustentar o estado burguês, os estudantes franceses constroem a luta organicamente com os trabalhadores, contra Sarkozy, contra os burocratas estudantis e contra a polícia. Nas assembléias estudantis, os ferroviários fazem intervenções que são calorosamente aplaudidas. Os estudantes deliberam que irão até as cidades vizinhas se incorporarem aos piquetes nas estações de trem, e junto com os trabalhadores lutarem.

É importante olharmos para os métodos de auto-organizaçã o dos estudantes franceses, que já se expressavam desde a greve de 2006, motivo pelo qual a burocracia tem dificuldade em aplicar seu freio. Com assembléias gerais ou de departamentos em cada universidade, elegem-se delegados em cada uma, que terão a obrigação de levar as decisões e deliberações de suas universidades para a coordenação nacional. Conformando- se como uma verdadeira direção democrática que expressa os setores mais avançados, ela coloca nas mãos dos que lutam os rumos do movimento, fazendo com que os estudantes participem ativamente do processo, entendendo o porquê devem participar da luta. Assim, o movimento estudantil francês além de explosivo consegue também ser massivo. Este é mais um exemplo a ser tomado dos estudantes franceses: a auto-organizaçã o dos que lutam é o que pode permitir que os estudantes massifiquem as lutas e tenham mais forças expressar a radicalidade política do movimento.

Outros elementos importantes aparecem no processo francês. As universidades francesas ainda são voltadas para uma minoria da população, porém 25% nos ciclos iniciais (e apenas 5% nos vários tipos de pós, em que se formam os profissionais especializados e já não há espaço pra classe trabalhadora) são filhos de operários ou eles próprios, trabalhadores. Hoje, grande parte dos estudantes franceses já imagina seu futuro como trabalhadores ou desempregados frente à crise que se anuncia com os 10% de desemprego na França, e com o governo que não mede esforços nos ataques aos setores mais oprimidos. Talvez seja por isso que se expressa uma luta consciente, anunciando o que pode ser o futuro das lutas operárias francesas, com os futuros trabalhadores já tirando suas primeiras lições enquanto estudantes.

Para além da luta contra a reforma universitária, algumas assembléias avançam para o questionamento do papel imperialista do Estado Francês. Discutem como os ataques de Sarkozy nas universidades e a precarização aos trabalhadores tem a mesma origem, debatem o colonialismo, a situação da Argélia, dos imigrantes ilegais, da juventude africana, que ainda vive em condições de escravidão na Europa. Chegando a raiz, mostram toda a radicalidade de um movimento que começa a perceber a importância da luta com os trabalhadores e o internacionalismo frente ao embate contra o capital.

Para nós, que impulsionamos o movimento estudantil brasileiro, foi justamente a ausência destes elementos que fez com que o movimento surgido neste ano em diversas universidades tenha sido contido. É preciso, a exemplo dos estudantes franceses, rompermos com toda a lógica legalista e corporativa, nos unindo aos trabalhadores e buscando impulsionar nossas lutas a partir da auto-organizaçã o. É este o caminho para uma verdadeira vitória.

Um estudante francês da Faculdade de Saint-Denis, ao falar da aliança com os trabalhadores nas manifestações, deixa a lição para o movimento estudantil francês e para a esquerda brasileira: “os estudantes precisam ir mais além da unificação na rua” . E anunciam para o mundo, a palavra de ordem que deve ser tomada pelos estudantes brasileiros: todos juntos (toutes et toutes ensemble)! Estudantes e trabalhadores na luta!

É preciso resgatar o marxismo como ferramenta de compreensão e transformação da realidade

por Del, Ciências Sociais, Unesp Marília

Mais uma vez a França é palco de um forte conflito da luta de classes. Estudantes e trabalhadores vão às ruas contra os ataques da burguesia e seu governo, representado por Sarkozy.Desde a histórica Comuna de Paris, passando pelo Maio de 68 ou a luta travada ano passado contra o CPE, o movimento operário e estudantil francês mostrou que sabe fazer história.

Quando do auge da ofensiva ideológica dos 1990, pós-queda do muro de Berlim que serviu de base para as teorias conformistas da burguesia de “fim da história e da luta de classes” , seu discurso triunfalista e suas variantes transpirando pela academia, o movimento operário francês as colocou em xeque barrando a retirada de direitos remanescentes do Estado de Bem Estar Social com sua greve geral em 1995.

Se em 1968 os estudantes franceses iam às portas de fábrica com faixas “operários, tomai de nossas frágeis mãos nossas bandeiras de luta” , em 2007 voltam a ser a vanguarda da radicalização na França e organizar bloqueios de ferrovias junto aos trabalhadores em greve dos transportes, aliando as demandas do movimento estudantil contra a manutenção da universidade pelo investimento privado, paralisando 43 universidades, funcionando através da democracia direta, por delegados das universidades, apoiando ativamente em demonstração de forças desse movimento que surge em um momento crucial para a burguesia francesa e seus planos de ataque para seguir reinando.

Trata-se de uma forte mobilização em um país imperialista, com 2% de crescimento ao ano, em que a burguesia precisa avançar na retirada de direitos com um governo recém-eleito justamente em base a um programa de ataques. No entanto, foi contra este mesmo Sarkozy que os estudantes franceses mostraram que se aliando aos trabalhadores e com instrumentos democráticos de organização do movimento podem derrotar os planos da burguesia.

Este atual processo, ao contrário do que gostariam nossos “grandiosos” professores adeptos das teorias surgidas no auge do neoliberalismo, mostra mais uma vez como as mesmas estão caducas, e que se naquele momento, onde de fato existia um retrocesso da classe operária, marcada por suas derrotas e também pelo refluxo do movimento estudantil, hoje, essas teorias mostram toda o seu caráter indefensável, pois cada há cada vez menos “passividade” do movimento de massas para se apoiar. Ao contrário de avanço sem contradições do capitalismo em nível mundial, tal como se afirmava na década de 90, vemos o imperialismo norte-americano metido num lamaçal no Iraque. Ao contrário de fundamentos sólidos da economia capitalista, vemos a atual crise financeira que lança sua rede de incertezas pelo mundo. Ao contrário do conformismo e do consumismo fútil que o capitalismo propaga, vemos a juventude se mobilizando e apoiando os trabalhadores. Ao contrário de trabalhar mais e sem direitos sem questionar nada, os trabalhadores franceses começam a mostrar sua indignação.

As mobilizações que vive a França hoje, demonstram como o marxismo é a ferramenta para ver e encontrar respostas aos desafios que se colocam. Que apesar de ser ainda o início de um processo de luta, mostra na realidade a falência da burguesia imperialista francesa e seus planos. Que o capitalismo para se manter tem que promover mais miséria, e arrancar com as duas mãos o que no passado foi obrigada a conceder. É por isso que quer queiram, quer não, os nossos caros acadêmicos de plantão a serviço dos ricos, e os velhos de 20 anos que os seguem, a luta de classes segue sendo o motor da História. Assim, precisamos travar um combate pelo resgate do marxismo como ciência viva capaz de oferecer as bases para a análise e a transformação da realidade. A situação francesa mostra que a classe operária ainda existe. E que está lutando. Resta que nos coloquemos ao seu lado para que se possa fazer como a classe operária russa há 90 anos: que tome o céu de assalto.

Polícia invade universidades em todo o país! Fora a PM do campus! Por uma campanha nacional contra a repressão!

por tati, ciências sociais unicamp

Para que o governo e as reitorias imponham as mudanças necessárias para adaptar as universidades, tanto públicas quanto privadas, aos interesses da burguesia, necessita levar a frente, de forma coordenada, a repressão a todos os lutadores que se contrapõem a este projeto. A primeira forma de repressão aconteceu no estado de São Paulo com a entrada da Tropa de Choque na Unesp de Araraquara para acabar com a ocupação da Diretoria. Depois, vieram inúmeras invasões da polícia nas universidades: Fundação Santo André e PUC-SP; nas Federais, a mando de Lula, como vimos recentemente na truculência policial na UFBA.

Não satisfeitos, querem nossas cabeças dentro das universidades. Tentam “disciplinar” com a repressão o movimento estudantil, até mesmo expulsando os lutadores das universidades se necessário. Desse modo, como podemos ver, abrem-se processos e sindicâncias em todo país. As reitorias sabem que as reformas de agora, os Decretos de Serra, o Reuni, as mudanças na FSA e na PUC-SP são apenas a abertura de um período de transformações institucionais e da função das universidades, que poderá gerar novas crises por cima e entre os estudantes e trabalhadores.

Fica claro que este é um ataque coordenado, por isso precisamos nos organizar de forma coordenada. Para responder à repressão, precisaremos massificar a luta dentro e fora das universidades numa campanha nacional contra a repressão aos trabalhadores, à juventude e ao povo pobre e negro.

Pretos, enfrentemos a elite como os quilombolas enfrentaram seus senhores!

Aline ’ estudante de ciências sociais, Fundação Santo André

Enquanto celebramos nossas lutas no dia 20 de novembro em referência a Zumbi dos Palmares (o maior entre os cerca de 700 quilombos formados no país que derrotou inúmeras expedições até ser destruído) e reivindicamos esse dia pra lembrar que foi através das lutas, quilombos e insurreições que nosso povo lutou contra a escravidão, nos deparamos com a continuidade da ofensiva burguesa branca e racista através do governo Lula/PT maquiando a realidade da população negra com as migalhas em forma de bolsas, as falsas ampliações de vagas nas universidades, caveirões e a guarda nacional nos morros cariocas e chacinas nas periferias paulistas e nordestinas. Tentam nos convencer que aparentemente para nós as coisas mudaram, mas essencialmente vivemos sob as botas do racismo que só potencializa a exploração.

Por isso, nós trabalhadores e estudantes negros temos um papel essencial para com os nossos irmãos. Temos que nos basear na história de luta dos quilombolas e dos trabalhadores negros deste país, contra a burguesia branca que defende o extermínio da população negra (como a de Sérgio Cabral PMDB - governador do Rio de Janeiro defensor da esterilização das negras nos morros cariocas para barrar a “fabrica de marginais” ). Na universidade, somos uma ínfima minoria, subjugada a reproduzir o conhecimento da elite branca, com o que sobra das vagas nas universidades privada, enquanto deveríamos fomentar os alicerces do conhecimento a serviço da libertação dos grilhões invisíveis do racismo a serviço do capital. Construímos este país com nosso sangue, com as vidas de centenas de milhares de escravos e trabalhadores assalariados e é chegada a hora de derrubar as universidades que hoje são elitistas e racistas, onde os negros só existem para limpar o chão. Nós, negros e negras, precisamos ocupar os bancos da universidade para produzir conhecimento para a libertação do nosso povo e não para integrar meia dúzia de negros nos projetos da burguesia branca!

Conheça e construa o Movimento A Plenos Pulmões!

Marília Rocha ’ estudante de Geografia da USP

Está acabando a brisa da década de 90, onde a burguesia e os governos atacavam os trabalhadores e a educação e prevalecia a passividade no movimento operário e estudantil. A luta atual na França é o maior exemplo de que é possível se rebelar contra os ataques e que novas brisas estão chegando. No Brasil, também vemos que o movimento estudantil e os trabalhadores começam a arregaçar as mangas e dar mostras de suas forças. A ocupação da reitoria da USP impulsionou uma onda de ocupações em todo o país, que apesar de terem limites, mostram a disposição de luta dos estudantes. Porque será que estas lutas não conseguiram derrotar o governo?
Com o Reuni, o governo Lula, apoiado pelos seus agentes no movimento estudantil (a UNE, o PcdoB/UJS e o PT), se propõe a “incluir os pobres e os negros” , “democratizar o conhecimento” , “aumentar vagas” e “aumentar verbas” nas universidades federais.

O PSOL, o PSTU e a maioria das organizações de esquerda se limitam a lutar contra esse projeto, sem dar nenhuma resposta aos trabalhadores, ao povo pobre e negro no país, que querem entrar na universidade. Com isso, isolam os movimentos que surgem e ajudam o governo a fazer o discurso contra o movimento estudantil “coorporativo e elitista” .

É necessária uma terceira alternativa. Vamos realizar uma plenária do Movimento A Plenos Pulmões onde buscaremos avançar num balanço das lutas estudantis deste ano e, a partir do exemplo dos estudantes franceses, pensar qual programa devemos defender na universidade.

Algumas reflexões sobre os planos do governo para a universidade

A primeira coisa que deve ser dita é que a universidade no Brasil é extremamente elitista e racista. Qualquer aumento de vagas vindo do governo, ou até mesmo a duplicação das vagas nas federais, como propõe o Reuni, é irrisório perto da necessidade da população. Ainda mais quando a expansão de vagas é feita adequando a universidade aos interesses do capital. O governo atende os interesses dos grandes patrões brasileiros, que querem formar trabalhadores qualificados para competir em melhores condições no mercado internacional. Com isso, eles vão poder lucrar mais sem gastar para qualificar sua mão-de-obra, papel que passaria a ser melhor cumprido por uma parte das universidades públicas. Sem contar que, além disso, o governo está atacando direitos históricos dos trabalhadores. Neste sentido, o Estado faz uma parte do serviço de formar mão-de-obra para os patrões com dinheiro dos impostos da maioria da população. Para isso, colocam mais gente na universidade (que nem é tão mais assim...), sucateando as condições de ensino e transformando os currículos para formação de técnicos e ideólogos ainda mais a serviço do capital. Mas pesquisa não! Essa ficará com um setor ainda mais restrito do que é hoje.

Isso é o conteúdo do Reuni, um projeto não é passível de disputa, como quer fazer parecer a UNE e os governistas do PCdoB e do PT. Não queremos um Reuni com mais verbas, com mais vagas ou com mais assistência estudantil, porque este projeto está a serviço dos capitalistas. Nós é que queremos de fato os trabalhadores na universidade, não para servir aos capitalistas, mas para servir à sua própria classe. Porém, não colocar nenhum programa pela positiva só nos isola da sociedade e nos limita à defesa dessa universidade tal como é hoje, que não passa de um resultado da reforma universitária de 1968 da ditadura militar, acrescentada de ataques das duas décadas de neoliberalismo.

O problema fundamental é a serviço de quem está a universidade. O governo quer ainda mais a serviço das demandas dos patrões, nós queremos a serviço dos trabalhadores. Não há meio termo para isso, não é possível lutar contra um projeto para colocar a universidade mais a serviço dos patrões simplesmente defendendo a universidade de hoje, sem se aliar com a classe oposta à eles, que são os trabalhadores. Abaixo essa universidade elitista e racista!

Qual universidade queremos?

Propomos discutir amplamente um programa que parta de combater os ataques, mas que avance para um balanço das lutas, suas fortalezas e debilidades, para forjar uma verdadeira saída para a crise que está colocada.

Por isso, achamos que devemos partir de lutar por mais vagas, com aumento de verbas, para a universidade. Mas não podemos parar aí. Ao invés de dar dinheiro para os donos das privadas, como faz o governo, temos que acabar com o ensino privado e lutar pela estatização, sem indenização, das universidades particulares. Isso só será possível deixando de pagar para os grandes banqueiros as dívidas externa e interna para investir no ensino público. Com isso, as vagas nas particulares dariam conta de praticamente todos os que querem estudar no país e poderíamos acabar com o filtro de classe que é o vestibular e ter ingresso direto do ensino médio na universidade.

Para concretizar este programa, temos que discutir como concretizar uma aliança entre os estudantes das universidades públicas e particulares, junto com os secundaristas. A aliança com os trabalhadores já começa a ser concreta desde aí, já que os estudantes das particulares e os secundaristas em grande medida vêm de famílias de trabalhadores. A luta pelo acesso e controle da universidade não está separada do conhecimento que é produzido nela. Temos que colocar abaixo os currículos atuais e combater as reformas curriculares do MEC e do governo Lula que quer atrelar ainda mais a produção de conhecimento aos grandes capitalistas! Que o currículo seja construído pelos estudantes, em aliança com os trabalhadores!

Um chamado especial aos estudantes-trabalhadores

Os estudantes das escolas públicas que entram na universidade pública, ou que entram nas privadas através do Prouni, ou os que vão entrar pelo Reuni, são estudantes como todos os outros. Mas o movimento estudantil não é homogêneo, é composto por diversas classes sociais. Os estudantes que trabalham têm uma luta em dobro, já que têm que lutar contra o patrão no seu local de trabalho e contra o governo e os patrões também na universidade. Temos que aliar essas lutas, a exemplo do que fazem os estudantes e trabalhadores na França, pois o inimigo é um só. O Movimento A Plenos Pulmões quer ser a voz dos trabalhadores na universidade, dando apoio ativo às lutas dos trabalhadores em todo o país e no mundo e colocando o conhecimento que produzimos na universidade a serviço dos trabalhadores. Mas também queremos organizar os estudantes-trabalha dores, que em sua maioria trabalham no telemarketing ou outros empregos precários, que não podem se organizar em seus locais de trabalho. Se organize conosco para lutarmos juntos por uma universidade a serviço da maioria da população e contra a exploração dos trabalhadores.

Participe da nossa plenária aberta nesse sábado!

Programa de Rádio PALAVRA OPERÃ RIA

Esta semana: especial movimento estudantil no Brasil e na França

O Movimento A Plenos Pulmões é composto por militantes da LER-QI e independentes

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