Terça 7 de Maio de 2024

Nacional

SOLIDARIEDADE A POPULAÇÃO DA REGIÃO SERRANA

Nós trabalhadores podemos nos organizar e garantir uma plano de emergência: crônica da segunda caravana de solidariedade de petroleiros à região serrana

18 Jan 2011 | Reproduzimos abaixo mais uma crônica da campanha organizada por petroleiros de Campos Elíseos em solidarieade à população da região serrana.   |   comentários

Terça-feira dia 18/01 petroleiros próprios e terceirizados de Duque de Caxias deram continuidade à grande campanha de solidariedade que temos organizado. Subimos a Serra com duas picapes e um caminhão lotados de água, café, alimentos, produtos de higiene pessoal, limpeza e roupas, e ainda 80 cestas básicas já separadas.

Como já fizemos na primeira vez fomos diretamente ao interior evitando a irracionalidade da distribuição a cargos das prefeituras, governo do Estado e federal. A irracionalidade é deliberada e também produto da confusão. Deliberada pois áreas que foram classificadas como de risco, segundo o governo, devem receber somente o elementar para garantir que as populações se retirem. Querem, com a fome, garantir que as pessoas se retirem de Campo Grande, da Granja Florestal, de Vieira, Sebastiana entre muitas outras comunidades e bairros. Uma fome funcional à miséria futura com os menos de R$ 500 de um aluguel social, por cinco meses, e para uma região com menos oferta de moradias devido à destruição.

É também irracional pois não há nenhum controle dos estoques, de que populações foram afetadas, ficando tudo a cargo dos vereadores e seus currais ou da verdadeira e palpável consciência e organização que emerge dos próprios trabalhadores e do povo. É desta consciência, solidariedade e organização que pode-se vislumbrar como seria possível efetivamente ter um plano de combate à emergência que garantisse o resgate de todos sobreviventes, a dignidade e enterro de todos mortos e saudáveis e higiênicas condições a todos os desabrigados e desalojados.

Mais uma mostra de imensa solidariedade e organização para salvar suas famílias, vizinhos e cidade

O povo de Teresópolis e Nova Friburgo nos distritos e bairros que fomos levar nossa solidariedade (Fonte Santa, Venda Nova, Bonsucesso, Vieira, Mottas, e Conquista em Nova Friburgo, o restante em Teresópolis) demonstrou uma imensa mostra de organização e solidariedade. Como havíamos visto na primeira ida, este povo duro que engole suas lágrimas, agüenta seus dias sem dormir, pede que sejam deixadas doações somente do que efetivamente necessitam e incentivam a levar nossa solidariedade adiante e rumo a povoados até poucos dias inacessíveis.

Um destes povoados é Vieira. Este local que era um grande pólo hortifrutigranjeiro e tinha o muito famoso hotel San Morritz, hoje parcialmente destruído. Vieira é hoje um amontoado de lama, de dor, raiva mas também de organização. A lama visível nas fotos anexas revirou tudo, obstruiu os caminhos e levou as vidas de centenas de moradores. A dor é ainda de procurar seus parentes e vizinhos, a dor de hoje e futura de um lugar de agricultores sem mais terras agriculturáveis. A raiva é do descaso, classificado como local a ser abandonado depois que os governos abriram esta região da RJ-130, a Teresópolis-Friburgo, nenhuma doação, mantimento ficava em Vieira. Os trabalhadores organizaram uma barricada impedindo a passagem de qualquer caminhão ou carro com doações que não deixasse coisas em Vieira. Hoje, já suprida graças à ação de seus moradores sobreviventes restam imponentes troncos de árvore e pilhas de pneu em seu acesso. Esta ação exemplar garantiu comida aos sobreviventes e um estoque que tem permitido aos moradores levar solidariedade a outras comunidades que o governo nem sonha em chegar como Estrelinha, e outras.

A organização dos trabalhadores e do povo contrasta com o descaso das empresas e governos

As ações e organização, a consciência dos moradores que nos incentivam a seguir à adiante, procurar quem esteja em pior situação que eles mesmos contrasta com o descaso das empresas e dos governos. Empresas imensas como a Petrobrás e Vale do Rio Doce com um corpo técnico grande, com grande maquinaria e com grande número de trabalhadores dispostos a estar junto aos trabalhadores de Teresópolis, Friburgo e Petrópolis sem dormir, ajudando a nossos irmãos não tem feito praticamente nada. A Petrobrás, sob pressão local libera uma picape de um setor, um funcionário de outro, um helicóptero de um terceiro mas não chega nem aos pés da tsunami de vontade e solidariedade de toda população do Rio de Janeiro, e as imensas mostras de um povo da região serrana que quer se salvar.

Os governos em seu descaso funcional à especulação imobiliária seguem cuidando de suas regiões centrais e nobres. São moradores e algumas ONGs que abastecem os locais afastados e mais atingidos. No entanto, a organização dos trabalhadores para garantir a coleta de doações, para garantir a continuidade das ações, garantir um nível mínimo de racionalidade, pegando somente o necessário, demonstram, como sob controle dos trabalhadores e do povo seria possível organizar um grande plano de resgate e sobrevivência da população. Com o confisco dos quartos de hotéis, confisco dos estoques de supermercados e farmácias e ainda profissionais e técnicos de logística e engenharia garantiríamos condições decentes a toda população sobrevivente, organizaríamos um plano racional sem os absurdos de estocagem de víveres no estádio do Pedrão em Teresópolis e seus relatos de roubos e abusos por vereadores, mas sim um plano racional com dignas condições em cada localidade.

Um avanço na consciência: nós podemos e devemos nos organizar

Os grandes passos solidários que estão dando os petroleiros de Campos Elíseos também são passos em sua consciência. Está à vista de todos como a empresa não faz nem o elementar e ainda busca se localizar perante a insatisfação dos funcionários liberando um caminhão, uma picape, etc. Nem um fio de cabelo comparado com as possibilidades de uma empresa pública que poderia estar à serviço das necessidades dos trabalhadores e do povo de todo país, começando pela região serrana.

As declarações de moradores enfatizando como não temos nada fora “nos ajudar um ao outro” são mostras também da confiança dos trabalhadores nos próprios trabalhadores e não nos governantes e empresários que organizam a inflação de produtos de primeira necessidade e abandono dos moradores.

É possível um plano racional de solidariedade e reconstrução das vidas do povo da região Serrana

As pequenas mostras de organização e independência das empresas e governos que relatamos são mostras dos grandes passos que podem serem dados. O silêncio das centrais sindicais, apoiadoras dos governos Dilma e Cabral agora tem sido substituídos por um mero número de conta bancária para as pessoas doarem quantias. Dinheiro que será revertido a doações pelos canais oficiais sujeitos ao roubo, corrupção e uso eleitoreiro de “autoridades”. A CUT e diversos sindicatos poderiam com a confiança que detém em suas bases, organizar em cada local de trabalho a solidariedade ativa mas também a luta por uma resposta à crise com eixo no confisco dos quartos dos hotéis, estoques de supermercados e liberação de funcionários e técnicos das empresas para ajudar a organizar junto à população um plano racional de emergência em benefício da população da região serrana. Este povo ergue-se altivo apesar de seus mortos para se ajudar, nós, trabalhadores de todo país precisamos responder à altura, exigindo de nossos sindicatos sua atuação efetiva em defesa de nossos irmãos de classe da região serrana.

Artigos relacionados: Nacional , Rio de Janeiro









  • Não há comentários para este artigo